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Crítica | A Ponte de Waterloo (1940)

A atuação da atriz Vivien Leigh é o ponto alto deste longa.

por Vitória Thomaz
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A Ponte de Waterloo (Waterloo Bridge, 1940) é um convite irresistível para os amantes do cinema clássico e das narrativas românticas atemporais. Sob a direção sensível de Mervyn LeRoy, o longa conta a história de amor entre Myra (Vivien Leigh), uma bailarina de alma delicada, e Roy (Robert Taylor), um oficial britânico que carrega o peso da 1ª Guerra Mundial. Dentro de uma fórmula consagrada pelo romantismo hollywoodiano da Era de Ouro, a obra traz intensidade emocional, pinceladas de melancolia e um destaque inequívoco: a performance arrebatadora de Vivien Leigh.

Leigh, consagrada por suas icônicas atuações em E o Vento Levou e Uma Rua Chamada Pecado — papéis que lhe renderam dois Oscars de Melhor Atriz –, exibe aqui um trabalho que, embora menos lembrado, merece ser redescoberto. Em Waterloo Bridge, ela entrega uma interpretação de notável delicadeza e profundidade, reafirmando sua habilidade de cativar e emocionar o público, mesmo em um papel menos reconhecido.

A narrativa se inicia com um encontro que poderia ser descrito como perfeito. Myra e Roy cruzam seus destinos na icônica ponte de Waterloo, sob o manto da Londres assolada pela guerra. A tensão dos bombardeios aproxima o casal de maneira natural e convincente, e logo somos imersos na promessa de um amor puro e idealizado. As cenas que retratam esse início de relacionamento são belas e bem dirigidas, com a química entre Leigh e Taylor fortalecendo a credibilidade do romance que se desenrola.

No entanto, A Ponte de Waterloo não é apenas um conto de fadas cinematográfico. A fotografia em preto e branco, ao mesmo tempo que sublinha a aura romântica, intensifica o drama latente da história. Cada quadro parece ecoar o desejo e a fragilidade que permeiam o casal protagonista, especialmente quando a narrativa assume contornos mais sombrios. Um momento-chave acontece quando Myra, esperando encontrar a mãe de Roy em um café, lê no jornal a trágica notícia de que ele teria morrido em combate. A partir desse instante, o filme nos conduz para uma espiral de desespero, culpa e autossacrifício que desafia as convenções dos romances tradicionais.

Privada de esperança e sem opções após perder seu emprego como bailarina, Myra recorre à prostituição para sobreviver — uma realidade que o roteiro aborda de forma sutil, talvez tímida, devido às limitações impostas pelo Código Hays. Essa escolha narrativa, ao mesmo tempo que preserva a sobriedade da produção, priva a obra de um tom mais crítico e realista que poderia tê-la elevado a um patamar superior. Mesmo assim, Leigh brilha ao expressar o peso emocional de sua personagem, transmitindo com olhares e gestos toda a dor, o conflito interno e a resignação de Myra.

A misoginia e o conservadorismo da época são elementos subjacentes, mas palpáveis, que tornam a trajetória de Myra ainda mais trágica. O filme enfatiza como as expectativas sociais restringiam as mulheres, especialmente aquelas que, como Myra, tomavam decisões fora do padrão imposto. Na sequência final – um clímax poderoso e devastador –, Leigh atinge o auge de sua performance, prendendo o espectador em um misto de empatia e angústia. A cena derradeira, conduzida com maestria por LeRoy, traduz o peso da tragédia em imagens inesquecíveis, marcando o ápice emocional do filme.

Com uma trama que mistura romance, guerra, melancolia e tragédia, A Ponte de Waterloo é um clássico envolvente, mas que peca por uma certa superficialidade na construção de seus personagens. Ainda que sejamos capturados pela força do amor entre Myra e Roy, o roteiro deixa de explorar com profundidade os dilemas e nuances de suas personalidades. O ato final, brilhantemente dirigido, demonstra o que o filme poderia ter sido se mantivesse esse nível de excelência do início ao fim. Apesar de suas limitações, Waterloo Bridge é uma obra que merece ser redescoberta. É uma oportunidade para o público revisitar a atuação inspiradora de Vivien Leigh e mergulhar em um romance que, mesmo imperfeito, carrega a magia do cinema clássico.

A ponte de Waterloo (Waterloo Bridge – EUA, 1940)
Direção: Mervyn LeRoy
Roteiro: Robert E. Sherwood
Elenco: Vivien Leigh, Robert Taylor, Virginia Field, C. Aubrey Smith, Maria Ouspenskaya
Duração: 108 min.

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