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Crítica | Poema de Natal, de Jorge de Lima

Uma composição poética refinada que humaniza a figura de Cristo.

por Leonardo Campos
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Parte integrante do nosso calendário anual, o Natal é uma das festas mais celebradas no Brasil, e seu significado vai muito além da celebração religiosa do nascimento de Jesus Cristo. A data, comemorada na véspera e no dia 25 de dezembro, representa um momento de confraternização, amor e solidariedade entre as pessoas. Ou ao menos deveria ser isso, é o que está no conceito dos festejos. A nossa cultura, rica em tradições e ressonâncias de todo processo multicultural que atravessou ao longo de sua história de formação, transforma essa festividade em uma experiência única, cheia de cores, sabores e costumes diversos. E, muitas vezes, adornada pela perspectiva global que pensa o período com seus bonecos de neve, guirlanda e outros elementos massificados pelo imperialismo cultural estadunidense. Politicamente incorreto, mas visualmente muito deslumbrante. Uma das tradições mais marcantes do Natal brasileiro é a ceia, que reúne familiares, amigos, dentre outros, em torno dos pratos típicos que variam de região para região. No Nordeste, por exemplo, é muito comum encontrar pratos como o bacalhau à Brás e a farofa, enquanto no Sul, o peru assado e o arroz de Natal fazem parte do cardápio.

Além da ceia, a ornamentação das casas e espaços públicos é uma das características mais visíveis do Natal no Brasil. As ruas, praças e estabelecimentos são adornados com luzes coloridas, árvores de Natal e presépios. Em algumas cidades, a tradição de montar o presépio é especialmente valorizada, simbolizando o cenário do nascimento de Jesus em Belém e ressaltando o significado da festa. Outro elemento importante na comemoração do Natal é a troca de presentes, que reforça os laços afetivos entre as pessoas. Essa prática, que tem raízes em tradições ocidentais, é geralmente realizada na noite de 24 de dezembro, após a ceia. O gesto de presentear enfatiza o espírito de compartilhamento e generosidade que permeia a época natalina, costumeiramente reforçada também em nossa lírica, com diversos poemas de escritores renomados a refletir sobre questões específicas do período. Poema de Natal, de Jorge de Lima, é uma dessas composições, estruturalmente simples, mas com desenvolvimento tocante.

Ao longo das estrofes, o poeta coloca em perspectiva um ponto curioso, geralmente causador de polêmica: a humanização de Jesus Cristo. Desde os primórdios do cristianismo, a imagem de Jesus começou a ser moldada por influências culturais e contextos sociais variados. Os evangelhos nos mostram um Jesus que se relaciona com as pessoas de maneira próxima e acessível. Ele não é apenas um mestre que profere verdades transcendentes, mas também um amigo, um irmão e um companheiro que se preocupa com as dores e alegrias dos outros. Essa abordagem humanizada ajuda a estabelecer uma conexão mais íntima com os fiéis, que podem vê-lo como alguém que compreende suas lutas e aspirações. O Brasil, um país com seu considerável contingente católico, vê na figura de Cristo uma imagem a ser preservada. É parte da tradição de muitos e, no poema de Jorge de Lima, tal personagem é “adotado” pelo eu-lírico, que planeja leva-lo para passear e conhecer as pessoas.

Presente em no primeiro volume de Poesias Completas, edição de 1974, Poema de Natal é uma das várias composições poéticas natalinas da literatura brasileira, tão atraente quanto as inserções de Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade nesta seara discursiva. No poema, podemos contemplar uma das principais características da poesia de Jorge de Lima: a sua musicalidade. Influenciado pelos ideais do movimento modernista, o poeta utilizou uma variedade de ritmos e sonoridades que conferem um caráter lírico aos seus poemas, geralmente acompanhado pelo uso de aliterações, assonâncias e metáforas, elementos recorrentes que emprestam à sua poesia uma qualidade quase musical. Outro aspecto importante da obra de Jorge de Lima, presente no poema em questão, é a sua capacidade de refletir sobre a condição humana. Aqui não há uma abordagem da solidão, da morte e do amor, mas uma exploração das emoções de nossa existência. Há uma intersecção entre vivências pessoais e questões universais em sua obra e, em Poema de Natal, isso não é diferente.

Lírico, é aquele poema pra ser lido e sentido independentemente de sua crença religiosa. É um poema para ser conferido pelo seu valor literário.

Poema de Natal (Brasil, 1974)
Autor: Jorge de Lima
Editora: Editora José Aguilar
Páginas: 1

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