Se Natal Sangrento 4: A Iniciação é um desastre absoluto do cinema, o que esperar de Natal Sangrento 5: O Horror na Loja de Brinquedos? Pouca coisa, não é mesmo? Bom, talvez sim, talvez não. Basta lembrar que alguns anos antes, a franquia Sexta-Feira 13 cometeu equívocos com a sua quinta parte, mas recuperou tudo com o tom satírico e o desenvolvimento dinâmico e sensacional do sexto episódio, com o retorno de Jason Voorhees para Crystal Lake. Acredito que para os leitores, há a possibilidade de uma segunda chance para a saga de filmes que começou como um slasher de Papai Noel assassino e se tornou um painel de narrativas de terror com temáticas antológicas. Devo dizer que o filme é bem melhor do que o esperado. Ao me dedicar no processo de revisão, já que havia assistido ao bendito lá na década de 1990, na era de ouro das videolocadoras, confesso que pude contemplar alguns momentos de diversão e uma reflexão absurda, mas pertinente, sobre traumas infantis e as lacunas deixadas pela ausência de um ambiente familiar sadio na vida de qualquer pessoa. Até mesmo para uma figura não humana, que representa por aqui, a icônica fábula de Pinóquio.
Apesar de aparentemente dispensar grandes apresentações, vamos ao conto. Escrita por Carlo Collodi, essa é uma das histórias mais conhecidas da literatura infantil. Publicada pela primeira vez em 1883, a narrativa acompanha as aventuras de um boneco de madeira chamado Pinóquio, que ganha vida e sonha em se tornar um menino de verdade. Com importantes lições sobre moral e ética, o seu enredo começa quando Geppetto, um pobre carpinteiro, esculpe um boneco de madeira e o nomeia de Pinóquio. Para sua surpresa, uma fada azul dá vida ao boneco, concedendo-lhe a habilidade de falar e se mover. Pinóquio é um personagem curioso e inseguro, que logo se vê rodeado de tentações e desafios. Sua maior fraqueza é sua tendência a mentir. Nada é perfeito, não é mesmo? Assim, sempre que o faz, seu nariz cresce, evidenciando suas transgressões. Este aspecto da narrativa ressalta a importância da honestidade e das consequências das mentiras.
Ao longo da fábula, contemplamos tópicos temáticos diversos, como educação e a necessidade de aprendizado, a busca por aceitação e crescimento pessoal, dentre outros tópicos. Diante do exposto, o que essa trama clássica, amplamente conhecida pela tradução realizada pela Disney em meados do século passado? A resposta é simples: muita coisa. Em Natal Sangrento 5: O Horror na Loja de Brinquedos, temos uma perversão da história, contada pelo viés de uma figura que deseja, a todo custo, ter uma família, mesmo que para isso, tenha que cometer alguns assassinatos ao reprogramar brinquedos e estabelecer o caos. Lançado em 1991, ao longo de seus 86 minutos, o filme nos apresenta a jornada de Derek (William Thorne), uma criança que na abertura, se surpreende ao ver a mãe e seu padrasto em uma tórrida (e desnecessária) cena de sexo. Pensamos de cara: o menino vai ficar traumatizado e se transformar num psicopata? Não, o caminho é completamente diferente. Ele simplesmente fecha a porta do quarto.
Ao ouvir a sirene da casa tocar, abre e encontra uma linda caixa de presentes. Antes de abrir, leva um esporro do padrasto que alega já ter avisado que abrir a porta da frente sozinho é algo perigoso e proibido por ali. O menino é enviado para o quarto e o adulto decide abrir a caixa. E assim os problemas começam. O brinquedo ali presente estraçalha a figura masculina e Derek testemunha tudo da escada. Trauma garantido. A sua mãe, Sarah (Jane Higginson) vai lutar com todas as forças para superar o acontecimento aterrorizante. Tenta algumas coisas iniciais, mas sem o devido sucesso. Após o conselho de uma amiga, leva o garoto para comprar brinquedos numa loja pomposa, administrada por Joe (Mickey Rooney).
O que Sarah não sabe é que essa é uma péssima ideia. Logo de cara, há um choque de interesses entre clientes e o filho de Joe, o jovem Pino (Brian Bremmer). Descobriremos, mais adiante, que há segredos na loja em questão e a chegada de mais brinquedos daquele lugar só transformará a vida de todos, já com traumas e imagens angustiantes, em um pesadelo sem precedentes. Pronto. Esse é o mote de Natal Sangrento 5: O Horror na Loja de Brinquedos, um filme de terror lançado diretamente para o mercado das videolocadoras. Dirigida por Martin Kritosser, cineasta que se baseia no roteiro escrito em colaboração com Brian Yuzna, a produção supera consideravelmente o equivocado, grotesco e monótono antecessor, mas ainda assim não é uma grande narrativa de terror. Fica no mediano, quando podia ser bom, talvez ótimo. Diferente da terceira e quarta parte, mais econômicas na visualidade natalina contemplada de forma oportunista pelos realizadores para inserir tais histórias na franquia, o design de produção de Whitney Brooke Wheeler adorna os espaços com elementos da época, evidenciados pela direção de fotografia com bons momentos, assinada por James Mathers.
E, aqui, temos o encerramento da franquia. Depois, só refilmagens e tramas similares.
Natal Sangrento 5: O Horror na Loja de Brinquedos (Silent Night, Deadly Night 5: The Toy Maker, EUA – 1987)
Direção: Martin Kritosser
Roteiro: Brian Yuzna, Martin Kritosser
Elenco: Jane Higginson, William Thorne, Tracy Fraim, Neith Hunter, Conan Yuzna, Mickey Rooney, Brian Bremer,Clint Howard, Thornton Simmons, Brian Bremer
Duração: 88 min