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Crítica | Bonus Track (2023)

Encontrando o caminho.

por Luiz Santiago
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Bonus Track é um romance musical leve, com conflitos mais controlados e não muito profundos sobre a relação de George (Joe Anders), um jovem de 16 anos aspirante a astro da música, e Max (Samuel Paul Small), filho de uma família bem estabelecida na música. Dirigido por Julia Jackman, o longa traz uma abordagem íntima e sensível para o processo de amadurecimento dos dois garotos, moldando essa relação a partir de uma amizade inesperada e descobertas pessoais, principalmente de George, que é o mais tímido da dupla e parece ser o que menos respostas tem para o que sente e o que quer. À medida que a narrativa se desdobra, porém, o roteiro de Mike Gilbert e Josh O’Connor fica cada vez mais superficial e fragmentado, sabotando as boas possibilidades de abordagem para o tema. 

Dividido em capítulos, que funcionam como faixas de um álbum, o filme busca mostrar os eventos de maneira temática, o que nem sempre funciona como esperado, mas acrescenta um respiro de diferenciação para o formato. Julia Jackman captura a juventude de meados dos anos 2000 com boas nuances visuais (figurinos, hábitos, encontros sociais, tecnologia), mas não consegue fazer o mesmo no campo da coesão narrativa. Volto à questão da divisão em capítulos. Embora criativos em princípio, eles se tornam redundantes e, em vez de potencializar a experiência dramática, atrapalham a montagem e dispersam a atenção do espectador em relação à progressão da história. A tentativa de abordar temas variados — da busca de George por reconhecimento artístico ao peso das dinâmicas familiares e sociais — cria uma obra que não se aprofunda verdadeiramente em nenhum tema. A relação central entre George e Max, que poderia ser o cerne emocional do filme, é apenas um destaque temático, mas não tem a necessária exploração para se tornar algo potente.

Existe um quê de nostalgia aqui que deixa o filme confortável e, de alguma forma, relacionável. Isso se deve a um trabalho interessante de fotografia, que utiliza uma paleta de cores suaves e calorosas para capturar a leveza dos protagonistas e a atmosfera melancólica da pequena cidade britânica onde os eventos se passam. Mas falta ousadia no restante das escolhas visuais, sem contar o caminho musical escolhido, que é subaproveitado, limitando-se a estabelecer uma conexão básica entre os personagens e seus anseios. Para efeito de comparação, vale citar Música, de Rudy Mancuso, que conseguiu fazer algo muito melhor com essa proposta, apenas um ano depois.

Bonus Track tenta capturar um momento canônico na vida de qualquer pessoa, onde a juventude busca sua identidade e sua validação no meio social. O clímax do filme, ambientado em um show de talentos na escola, é simplesmente decepcionante e carregado na pior abordagem clichê do reencontro entre duas pessoas que se gostam, após um breve momento de conflito. Longe de oferecer uma resolução catártica, a sequência final soa como uma caricatura das aspirações artísticas de George, encerrando a narrativa de forma bem desajeitada. Apesar de algumas boas ideias iniciais e uma direção visualmente agradável, Bonus Track falha em consolidar sua identidade. Faltou coragem para dar espaço aos conflitos e às camadas das relações que poderiam torná-la relevante e emocionalmente poderosa.

Bonus Track (Reino Unido, 2023)
Direção: Julia Jackman
Roteiro: Mike Gilbert, Josh O’Connor
Elenco: Joe Anders, Samuel Paul Small, Susan Wokoma, Ellie Kendrick, Josh O’Connor, Ray Panthaki, Elle McCloskey, Ciara Southwood, Josh Cowdery, Roger Evans, Nina Wadia, Colin Salmon, Alison Sudol, Jack Davenport, Sue Lawley, Rebecca Osias
Duração: 98 min.

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