- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
- Por favor, evitem spoilers de episódios que ainda não foram exibidos no Brasil nos comentários.
Talvez nem todo mundo tenha um preço, mas creio, do fundo do coração, que todo mundo, sem exceção, tem limite. E Quando as Luzes se Acendem é um ótimo exercício narrativo que nos faz aceitar o momento em que o pacato Clark Kent, que passou a vida inteira controlando a forma como usa seus poderes, perde as estribeiras, grita com Lex Luthor no meio da rua e, sob luzes que emulam a de um sol vermelho, sai em uma violenta pancadaria com o vilão. E esse momento climático e catártico, mesmo que completamente telegrafado pelo roteiro de Kristi Korzec, é consideravelmente satisfatório para nós, espectadores, que, apenas humanos que somos, provavelmente já imaginamos fazer coisas muito piores com pessoas que fizeram muito menos contra nós ou contra pessoas de que gostamos.
Se a humanidade do Superman já havia sido testada de todo jeito quando ele, sem nenhuma fraqueza física, teve que enfrentar o inimigo invisível que lentamente sugava a vida de Lois Lane na temporada passada, aqui o enfraquecido Clark, em razão do coração humano que agora bate em seu peito, deixa sua super-humanidade em segundo plano e, provocado por um Lex Luthor que sabe exatamente o que faz, não hesita em mostrar na literalidade que é humano como nós. Apesar de a sequência de pancadaria sob luzes vermelhas ter sido muito boa, achei que Todd Helbing não foi longe o suficiente. Não, de forma alguma eu esperava algo mais drástico, mas sim tomadas mais longas, uma montagem que desse a impressão de uma passagem de tempo maior do que apenas breves minutos, e os dois oponentes se recusando a cair como Rocky Balboa no ringue. E, confesso, queria sim ver Clark esmurrar Lex até seu rosto não passar de um purê de beterraba, mas não porque eu queria ver violência gratuita, e sim porque seria mais custoso o escoteiro recuperar-se do que fez em um momento de raiva incontida.
Mas nenhum filme ou série é sobre o que eu ou qualquer um de nós quer e sim o que nos é oferecido e a oferta, aqui, foi generosa e funcionou dentro de uma lógica perfeita de um ser maquiavélico fazendo movimentos em seu tabuleiro de xadrez que antecipam cada movimento de seus inimigos. O Lex Luthor de Michael Cudlitz é um monomaníaco violento, perverso e cruel que está disposto a se ferir – psicológica e fisicamente – para liquidar seus desafetos, levando o tempo que for necessário para saborear seu prato frio de vingança. Suas tentativas de provocar Lois, basicamente subornar toda a população da cidade e, depois, de ordenar que seu capanga mate (ou, no mínimo, chegue próximo de matar) a prefeita Lana Lang são jogadas, são movimentos de peça de um jogo que, como ele mesmo diz, ele sabe muito bem como acabará.
Como tira-gostos da grande luta da noite, porém, o episódio lida com um Jon obcecado em ajudar os outros pelo mundo, o que considero uma reação normal e saudável de alguém responsável que acabou de ganhar poderes infinitos; um Jordan que continua se negando a usar seus dons e, no meio disso, temos Sarah achando-se presa à Smallville e ao emprego que detesta. Apesar de eu genuinamente gostar do núcleo adolescente da série, tenho para mim que as escolhas do episódio foram estranhas e repentinas, sem nenhum tipo de construção. Ok, Superman está fora de combate e isso sobrecarrega Jon que sequer tem seu irmão para ajudar, mas tudo foi em um estalar de dedos, o mesmo valendo para a insatisfação de Sarah, algo que havia ficado nas entrelinhas, mas sem nenhum tempo de fervura. E, claro, Jordan dando conselhos bons para a ex-namorada me parece uma contradição em termos, pois não se passou tempo suficiente para ele ter amadurecido o tanto que tinha que amadurecer. Mas, fazer o que se a série precisa acabar em mais quatro episódios e não há orçamento sequer para manter seu elenco completo nos episódios que não seja em esquema de rodízio? Como dizem por aí, quem não tem cão, caça com gato ou, talvez mais condizente com a série, quem não tem Krypto, caça com Streaky.
Por outro lado, gostei bastante da forma como a identidade secreta de Clark basicamente não existe mais e como isso afeta a população de Smallville. No lugar de haver surpresas idiotas atrás de surpresas idiotas do tipo “mas Clark Kent é o Superman??? Impossível!!!”, tudo é trabalhado com naturalidade, com todos ali respeitando o filho mais ilustre da cidade e, mais do que isso, mostrando-se agradecidos por tudo o que ele fez por eles e pelo mundo. Ver a senhora que estava prestes a vender suas terras para Lex recusar 10 milhões de dólares com o apoio do pessoal do bar (que também levaria 10 milhões cada um, pelo que entendi), foi um momento precioso, no estilo, ainda que menos poderoso, claro, do que a cena em que Peter Parker é ajudado pelos passageiros do trem que acabara de salvar em Homem-Aranha 2.
Quando as Luzes se Acendem é mais um belo exemplar do Superman muito mais man do que super que Superman & Lois se esmera em colocar no ar ano após ano. Ver Clark descontrolar-se não tem preço, assim como não tem preço vê-lo sofrer por isso e receber o carinho daqueles que ele sempre tentou proteger. Mesmo que, ao que tudo indica, Lex Luthor volte para enfrentá-lo com sua icônica armadura que, pessoalmente, nunca gostei, o que importa é que Superman, mesmo com poderes decadentes (e cabelo branco!), talvez esteja mais poderoso do que jamais foi e com isso o vilão definitivamente não conta.
Superman & Lois – 4X06: Quando as Luzes se Acendem (Superman & Lois – 4X06: When the Lights Come On – EUA, 04 de novembro de 2024)
Data de exibição no Brasil: 14 de novembro de 2024
Showrunner: Todd Helbing
Direção: Ian Samoil
Roteiro: Kristi Korzec
Elenco: Tyler Hoechlin, Elizabeth Tulloch, Alex Garfin, Michael Bishop, Michael Cudlitz, Yvonne Chapman, Emmanuelle Chriqui, Inde Navarrette, Ryan Jefferson Booth
Duração: 43 min.