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Crítica | A Música de John Williams (2024)

A vida e a obra de um dos maiores compositores da Sétima Arte.

por Ritter Fan
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O Disney+ tem discretamente se especializado em documentários que celebram as mais variadas figuras do mundo do entretenimento, começando com Howard, em 2020, sobre a vida do compositor Howard Ashman e com Wolfgang, em 2021, sobre o chef de cozinha Wolfgang Puck e chegando em Jim Henson: O Homem-Ideia, em 2024, sobre o famoso marionetista criador dos Muppets. O mais recente lançamento do serviço de streaming nessa veia é A Música de John Williams, que, como o título deixa bem claro, foca no trabalho do incrivelmente prolífico e inspirado John Williams, um dos maiores compositores de trilhas sonoras de todos os tempos, uma verdadeira lenda viva que, com sua música, deu vida a um tubarão, nos fez viajar para uma galáxia muito, muito distante, realmente tornou possível o Superman voar e fez o mundo chorar com a música tema de A Lista de Schindler.

Já de antemão, é necessário deixar claro que não há nenhuma intenção do documentarista franco-americano Laurent Bouzereau, especializado na produção e direção de making ofs de filmes e de documentários biográficos de celebridades, incluindo a fantástica minissérie Five Came Back, sobre cinco grandes diretores hollywoodianos que lutaram na Segunda Guerra Mundial, em esconder ou mesmo disfarçar a natureza de seu mais recente filme. Trata-se de uma homenagem, de uma ode, de uma grande celebração em vida de um artista profundamente conectado com a magia do Cinema e que, arrisco dizer, é universalmente amado por quem aprecia a Sétima Arte, algo que fica mais do que evidente pelos minutos iniciais da projeção, em que vemos Steven Spielberg chegar na casa do maestro para derreter-se em elogios por ele. Só ver o próprio Williams falar, no alto de seus muito bem vividos 92 anos, sobre o processo criativo de diversas de suas maiores composições, já tornaria o documentário valioso o suficiente para merecer o prestígio do público, mas Bouzereau, ainda bem, vai além e oferece um rico panorama sobre a vida do biografado.

Apesar de o início com Spielberg parece ensaiar que o foco do documentário será sua carreira a partir do momento em que as duas lendas se encontraram, Bouzereau não demora a voltar no tempo e a, então, contar cronologicamente os eventos mais importantes da vida de Williams, dando tempo ao compositor para falar de seus pais, de seus irmãos, de sua primeira esposa, de seus filhos, do início de seu trabalho como compositor de filme (para o exército canadense!), seu trabalho na televisão e o começo de seu caminho por Hollywood. A estrutura do longa é simples, sem que o diretor tente reinventar a roda, muito na linha do que Giuseppe Tornatore fez em Ennio, o Maestro, somente para citar outra obra recente sobre um nome do mesmo calibre. Com isso, o longa abre muito espaço para vermos e ouvirmos Williams falar de sua vida e de seu trabalho com uma paixão e lucidez (e memória!) impressionantes, e, claro, para diversas outras celebridades, inclusive sua filha Jenny e Chris Martin, do Coldplay, abordarem sua conexão com o maestro e/ou com sua música em uma muito bem feita curadoria de entrevistas, que realmente não deixa o documentário esmorecer ou tornar-se repetitivo em momento algum.

Apesar de suas composições para filmes serem obviamente o coração do filme, com sua maravilhosa música embalando a narrativa como se estivéssemos escutando os “melhores momentos” dessa lenda, Bouzereau faz questão de lidar, também, com um John Williams menos conhecido do público em geral, e não falo aqui “somente” do John Williams compositor de álbuns de jazz ou o John Williams que tragicamente perdeu sua primeira esposa. Vemos, com pompa e circunstância – e um evidente orgulho do biografado – o John Williams condutor de orquestra de suas composições por 45 anos no famoso Hollywood Bowl e sempre com lotação esgotada (este crítico assistiu uma dessas apresentações, não posso deixar de dizer!), o John Williams condutor da afamada Boston Pops Orchestra, em uma polêmica escolha em janeiro de 1980 que o fez suceder o grande Arthur Fiedler e também o John Williams compositor de recentes orquestrações experimentais e não cinematográficas que ganharam concertos em lugares de destaque nos EUA.

Há, portanto, um pouco de tudo em A Música de John Williams, até mesmo um pouco sobre o futuro da trilha sonora e da música orquestral como um todo, com o documentarista fazendo um excelente trabalho para cobrir tanto terreno em uma duração consideravelmente acanhada para uma carreira monumental, o que é, francamente, meu único real problema com o filme. Não esperava nada polêmico e muito menos um documentário que existisse para cavar “sujeiras” na vida do biografado, mesmo não apreciando muito obras chapa branca, mas tenho para mim que havia material para muito mais, para talvez até uma minissérie de alguns episódios de forma a cobrir não tudo, pois isso é impossível, mas certamente bem mais do que vemos aqui. Fica aquela forte impressão de que os responsáveis pela produção exigiram uma duração mais “amigável”, por assim dizer, que estivesse mais em linha com a mania dos engravatados de Hollywood em subestimar seu público até no que se refere a um nome cujo interesse geral é gigantesco não só pela qualidade dos trabalhos e dos filmes em que esses trabalhos foram sincronizados, mas também pelo simples fato de John Williams atravessar gerações de fãs que vão de Perdidos no Espaço a Os Fabelmans e por lidar com basicamente qualquer tipo de filme, de uma comédia de humor ácido como Trama Macabra, última obra de Alfred Hitchcock, passando por dramas pesados como Munique e Nascido em 4 de Julho, e chegando à aventura por excelência em Indiana Jones, à inocência marota em Esqueceram de Mim e à pura magia com a franquia Harry Potter.

E, depois de ter meus ouvidos laureados por tanta música inesquecível que me fez relembrar tanta coisa boa e depois de ver um gigante humilde como John Williams falando para mim (sim, para mim!), a única coisa que me resta é passar algumas horas escutando suas criações e, quem sabe, conferindo algumas das centenas de filmes que ele enriqueceu tremendamente com sua inigualável criatividade. Ah, e claro, fica a torcida para que o Disney+ acorde e solte um Corte do Diretor de oito horas de A Música de John Williams!

A Música de John Williams (Music by John Williams – EUA, 1º de novembro de 2024)
Direção: Laurent Bouzereau
Com: John Williams, Steven Spielberg, J.J. Abrams, Emanuel AX, Kate Capshaw, Chris Columbus, Gustavo Dudamel, Ethan Gruska, Javier C. Hernández, Paul Hirsch, Ron Howard, Thomas Hooten, Karen Johnson, Lawrence Kasdan, Kathleen Kennedy, George Lucas, Yo-Yo Ma, Seth MacFarlane, James Mangold, Branford Marsalis, Frank Marshall, Chris Martin, Elvis Mitchell, Anne-Sophie Mutter, David Newman, Thomas Newman, Itzhak Perlman, Ke Huy Quan, Alex Ross, Alan Silvestri, Helen Wargelin, Jenny Williams
Duração: 105 min.

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