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Crítica | Canary Black

A implacável busca por qualidade.

por Ritter Fan
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Dirigido pelo cineasta francês Pierre Morel, certamente mais lembrado por Busca Implacável, um dos filmes que reacendeu o interesse de Hollywood pelo estilo “brucutu dos anos 80” e que deu ignição à carreira de Liam Neeson como herói de ação em uma idade incomum para começar no gênero, Canary Black conta com Kate Beckinsale como uma invencível agente da CIA que, como já vimos dezenas de vezes antes, é obrigada a agir contra os interesses de sua agência para salvar alguém que ama. Trata-se, na verdade, do retorno da atriz ao protagonismo de uma fita de ação desde seu tresloucado Jolt: Fúria Fatal, desta vez com uma pegada mais “Ethan Hunt contra o mundo” do primeiro Missão: Impossível, só que obviamente sem a qualidade do longa dirigido por Brian De Palma.

A grande verdade é que o ponto alto da carreira de Morel foi mesmo Busca Implacável, apenas seu segundo longa, e foi um alto não muito alto, temos que convir, ainda que o filme tenha sequências e diálogos memoráveis e seja uma das melhores obras de “pura diversão descerebrada” de 2000 para cá. Em Canary Black, porém, o diretor não consegue repetir o feito, pois o roteiro de Matthew Kennedy é do tipo que sofre de Reviravoltite Aguda, um mal que ceifa a qualidade de muitos filmes e séries por aí, pois faz com que todo o espaço reservado para boas sequências de ação desimpedidas por momentos de revelação, diálogos expositivos e twists tirados da cartola seja reduzido drasticamente, resultando em um longa que caminha sem ritmo, na base de espasmos narrativos que são extraídos do livro de clichês de Hollywood e executados sem muita boa vontade tanto pelo diretor quanto por Beckinsale que, linda como sempre, parece estar completamente no automático mesmo para uma atriz que nunca foi lá uma grande representante de sua profissão.

Na história, a agente Avery Graves (Beckinsale), depois de uma missão no Japão, retorna para casa em Zagreb, na Croácia (por razões de vantagens financeiras para a produção, obviamente), e para o amor de seu marido David Brooks (Rupert Friend), até que, em um belo dia, David é sequestrado e ela recebe um telefonema de uma misteriosa voz modulada exigindo que ela obtenha, em poucas horas, um arquivo digital (batizado de Canary Black) que está dentro de um dente de um prisioneiro da agência para que trabalha. Segue a famosa corrida desabalada contra o tempo que envolve muita pancadaria, perseguição e saídas convenientes que, porém, é brutalmente atrapalhada pelas tais reviravoltas que mencionei mais acima, reviravoltas essas que vão aumentando de intensidade e quantidade na medida em que o longa se aproxima de seu final.

Com isso, fica até mesmo difícil aproveitar o último trabalho de Ray Stevenson, que vive o simpático Jarvis Hedlund, chefe de Avery, ou a presença de Ben Miles como o insuportável Nathan Evans, subchefe da CIA, mesmo que ele protagonize uma das poucas cenas minimamente inspiradas do filme, em que o vemos ser torturado pela protagonista com direito a uma espécie de “máscara de gás” que controla o volume de sua voz. Porque Canary Black é isso, um apanhado de três ou quatro cenas que tinham até chance de ser realmente boas se Morel não se curvasse a um roteiro que não sabe o que fazer com os diálogos e ao estilo hollywoodiano atual em que o trabalho de câmera é frenético, com muito close-up em sequências de pancadaria e cortes de milissegundos para passar a impressão que muita coisa está ocorrendo, enquanto que a grande verdade é que tudo não passa de meros artifícios para vender gato por lebre.

Canary Black não é exatamente tenebroso, porém, mas o longa decepciona mesmo quando acerta, pois tudo é feito pela metade, sem convicção e, pior ainda, sem a construção de senso de perigo ou urgência mesmo considerando o que está em jogo e que vai muito além da vida do marido da protagonista, claro. Morel tentou fazer com Beckinsale o que fez com sucesso como Neeson, mas, com um roteiro desse naipe, ele precisaria ser um diretor muito melhor para conseguir esse feito e ele é, apenas, com boa vontade, uma versão genérica do saudoso Tony Scott. No entanto, como essa tem sido a regra para filmes de ação gerados por algoritmo de streamers, não duvido nada que o final safado que deixa a porta aberta para uma continuação seja devidamente explorado em futuro próximo.

Canary Black (Idem – Reino Unido/EUA/Croácia, 24 de outubro de 2024)
Direção: Pierre Morel
Roteiro: Matthew Kennedy
Elenco: Kate Beckinsale, Rupert Friend, Ray Stevenson, Saffron Burrows, Ben Miles, Goran Kostić, Masayoshi Haneda, Michael Brandon, Charles Nishikawa
Duração: 101 min.

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