- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.
O último episódio dessa segunda temporada termina exatamente como o esperado: protocolar, sem nenhum destaque, mas também não necessariamente ruim, o que é uma melhoria quando pensamos na terrível conclusão do ano de estreia. A primeira metade de Au Revoir les Enfants lida diretamente com a fuga de Laurent, seja acompanhado por Daryl ou Carol. Inclusive, é esse dilema de quem irá acompanhar o garotinho que ganha ênfase nas interações entre os personagens, com um conflito dramático que gera alguns bons momentos, principalmente nas conversas cheias de culpa, luto e remorso entre os co-protagonistas. Obviamente que o texto do episódio não é lá o mais aprofundado, tampouco excepcional em seus diálogos bem batidos sobre sentimentalismos baratos, mas não é de todo ruim. Até o apático Laurent tem uma cena razoavelmente emocional quando toca You Can’t Always Get What You Want para Daryl, fazendo referência ao próprio arco do personagem.
Durante essas cenas, temos Jacinta e um resto de fanáticos procurando Laurent. Como esperado, a personagem sobreviveu apenas para o seriado ter algum tipo de antagonista no final da temporada. Sua presença é fraca, sem qualquer senso de urgência ou personalidade, basicamente uma representação de todo esse arco na França: sem sentido e sem relevância. Toda a “construção” messiânica de Laurent termina sem nenhum tipo de resolução satisfatória, já que, em linhas gerais, o jovem é mais um símbolo qualquer do que evidentemente a serviço de alguma linha narrativa ou temática bem delineada. Existe em algum lugar aí críticas ao fanatismo religioso, mas o roteiro é muito pobre para levantar qualquer questionamento.
Apesar da total falta de suspense, a sequência do conflito na pista de corrida é relativamente bem dirigida, incluindo uma carga emocional bacana quando Carol fica para trás também. É um pouco estranho como todo o arco da França é finalizado em meio episódio e com um certo anticlímax em cena, mas considerando tudo que aconteceu, é uma despedida regular para um arco esquecível, ainda que não de todo ruim da franquia, com destaque maior para a produção, as locações e algumas ideias (mal-executadas, claro), em torno do cenário parisiense. No meio do episódio, ganhamos até uma forma de epílogo com o grupo de personagens da resistência francesa tendo seus monólogos, partidas e separações, como Codron, Fallou e Akila.
Depois disso, temos a segunda metade do episódio, onde Daryl, Carol, Codron e dois guias escoceses iniciam uma jornada para a Inglaterra. Acho esse desdobramento interessante, seja o conceito por trás de explorarmos mais da Europa nesse universo, seja o fato de termos mais desventuras com Daryl e Carol, que formam uma ótima dupla. Não sei o quanto Laurent deve ter de espaço na próxima temporada, talvez em um núcleo dele nos EUA, mas prefiro que o seriado foque unicamente nos protagonistas daqui pra frente, no que me soa como um recomeço razoavelmente intrigante para o derivado.
O próprio início dessa nova jornada é conceitualmente bacana, passando pela entrada dos personagens no Eurotúnel com zumbis bioluminescentes e alucinações causadas por fezes de morcego. Já é a terceira vez que o derivado tenta introduzir novos tipos de mortos-vivos (tivemos, também, os zumbis queimados, que até aparecem no episódio, e os variantes), todos eles subutilizados, como acontece aqui quando a ameaça das criaturas e do próprio ambiente é usada unicamente para os personagens terem ilusões de entes queridos – essa franquia e sua insistência em melodrama… -, mas pelo menos é notável o esforço em introduzir novas ideias para a produção, que inclusive arrasou aqui no design do túnel e dos zumbis que brilham. No fim, esse acaba sendo um bloco interessante para dar o pontapé dessa nova trajetória de Daryl e Carol. Veremos se a Inglaterra será melhor que a França.
The Walking Dead: Daryl Dixon – O Livro de Carol – 2X06: Au Revoir les Enfants (EUA, 03 de novembro de 2024)
Desenvolvimento: David Zabel
Direção: Daniel Percival
Roteiro: Jason Richman, David Zabel, Laura Snow
Elenco: Norman Reedus, Clémence Poésy, Louis Puech Scigliuzzi, Laïka Blanc-Francard, Anne Charrier, Romain Levi, Melissa McBride, Joel de la Fuente, Manish Dayal
Duração: 61 min.