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Crítica | Pinguim – 1X07: Manda-chuva

Sempre um monstro.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos outros episódios da série.

Quando Manda-chuva começou com um flashback, fiquei meio desconfiado. Na reta final da temporada e depois daquele gancho, mais um episódio de backstory? Já estava pronto para chamar os roteiristas de canalhas, até que percebi estar assistindo uma das histórias de origens mais perturbadoras das telinhas (sim, chame de exagero, mas é como me sinto!). A escolha em não tornar o flashback algo muito extenso, apenas de introdução ao episódio e depois pontuado aqui e ali por uma montagem bem esperta, é muito certeira, até para que o episódio não soe tão anticlimático quando pensamos nos desdobramentos de Cúpula de Ouro. Talvez o Pinguim até merecesse o seu próprio Cent’anni, mas não nesse ponto da minissérie.

Entrando em detalhes sobre o passado do protagonista, temos basicamente um bloco sucinto e eficiente em termos de estabelecer as dinâmicas familiares de Francis e seus três filhos, com o retrato de uma família disfuncional que flerta com o crime, mas que é aparentemente amorosa. A câmera do diretor Kevin Bray não nega, porém: Oz é um menino ciumento e possessivo de sua mãe. Com cada close nos olhos odiosos do fenomenal ator-mirim Ryder Allen, gradualmente percebemos as características do Pinguim, como o interesse no crime, o seu complexo de inferioridade e a índole no mínimo duvidosa, e entendemos o que vai acontecer com seus irmãos, o que não torna o momento que ele os prende dentro de um túnel de esgoto menos impactante. É absolutamente perturbador como a obra deixa evidente que Oz sabia que seus irmãos iriam afogar, com pequenos olhares para a chuva entremeio a uma sessão de O Picolino com sua mãe e cortes brutais de seus irmãos gritando.

Para além de agregar camadas monstruosas para um personagem que já é detestável, os flashbacks contextualizam o relacionamento doentio de Oz e sua mãe para o que está acontecendo na narrativa em torno da busca do protagonista em salvá-la, com destaque para as interpretações de Deirdre O’Connell e Emily Meade como Francis (outra personagem detestável), também recontextualizando outras cenas da minissérie, como a sequência da cozinha em Crown Point em que Oz fica bravo quando sua mãe acaricia o rosto de Vic. Agora que Oz sabe que sua mãe estava até dançando com o jovem, me pergunto se ele terá o mesmo destino de seus irmãos…

Fora disso, temos um episódio que mais uma vez prepara o grande confronto entre Oz e Sofia. Por um lado, isso acaba passando a sensação de mais um episódio repetitivo e que anda em círculos, até pela maneira como Manda-chuva termina em um ponto similar ao seu início, com Oz sendo sequestrado e ainda buscando salvar sua mãe. O próprio jogo entre Oz e a aliança Gigante-Maroni não impressiona tanto, com escolhas duvidosas e até meio bobas pelo roteiro, como Salvatore entrando no covil de Oz com apenas três capangas ou então o grande clímax desse núcleo nascer de uma clichê queda de energia. Até o desfecho com a bomba, que é sim visualmente impactante, até pela tensão em torno de Francis estar morta ou não, me parece algo muito genérico.

Já fazem alguns episódios que tenho criticado esse lado do crime da minissérie, que foi aos poucos soando menos inteligente do que o início da produção deu a entender e que é a única razão para eu continuar achando que a produção não chegou a um patamar maior. Ainda assim, a qualidade dramática e os ótimos arcos dos personagens continuam compensando qualquer problema narrativo, com destaque aqui não apenas para a fantástica viajem ao passado sombrio de Oz, como também para as diferentes cenas de Sofia, seja seu confronto fenomenal com Francis, sua crise de identidade com Rush e, especialmente, seu encontro com Gia, em que a personagem efetivamente percebe que passou de vítima para perpetradora, ressaltando o tema de histórias cíclicas que seguem esse submundo, algo pontuado algumas vezes no episódio, e fechando o excelente arco da antagonista para fazer frente com Oz. Em suma, Manda-chuva é mais um ótimo estudo de personagem, mantendo o tom perturbador do seriado e suas qualidades em termos de produção, direção e atuação, deixando tudo bem preparado para o confronto de dois monstros, um que parece ter nascido assim e a outra tendo se tornado assim. Vai ser interessante!

Pinguim – 1X07: Manda-chuva (The Penguin – 1X07: Top Hat) | EUA, 03 de novembro de 2024
Criação:
Lauren LeFranc
Direção: Kevin Bray
Roteiro: Vladimir Cvetko
Elenco: Colin Farrell, Cristin Milioti, Rhenzy Feliz, Deirdre O’Connell, Clancy Brown, Carmen Ejogo, Michael Zegen, Berto Colón, James Madio, Joshua Bitton, David H. Holmes, Daniel J. Watts, Ben Cook, Jayme Lawson, Theo Rossi, Emily Meade, Ryder Allen
Duração: 47 min.

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