- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
- Por favor, evitem spoilers de episódios que ainda não foram exibidos no Brasil nos comentários.
São episódios como Um Casamento Perfeitamente Bom que fazem de Superman & Lois a série que ela é. Nada de pirotecnia – ok, um pouquinho só -, nada de dependência de computação gráfica e tudo da mais pura e genuína humanidade. Se a sensacional temporada anterior foi um complexo e emocionante estudo sobre o assunto ao colocar Lois gravemente doente e Superman completamente impotente diante dessa ameaça, o retorno do Homem de Aço à vida como um kryptoniano fragilizado por agora ter um literal coração humano de um homem de 60 anos que se sacrificou por ele é uma jogada de mestre de Todd Helbing, especialmente quando ele insere esse assunto dentro do contexto de um casamento, ou quase, em Smallville, bem ali no celeiro da fazenda Kent.
Por mais que algumas pessoas achem, o Superman nunca foi caracterizado por seus superpoderes, nunca precisou de pancadaria pura e simples para justificar sua importância no panteão dos super-heróis, nunca sequer dependeu de seu icônico traje para isso. Superman, um alienígena criado por fazendeiros humanos, é muito mais humano do que nós exatamente porque ele pode fazer literalmente o que quiser, mas escolheu segurar-se, ouvir seus pais adotivos e internalizar como só ele conseguiria internalizar lições sobre o próximo que nós sempre tivemos e continuamos a ter muita dificuldade em praticar. Superman é um ideal, um objetivo a ser alcançado e não um mero sujeito mais rápido do que uma bala, mais poderoso do que uma locomotiva e capaz de pular prédios altos em um único salto.
Ao torná-lo fisicamente mais humano do que ele jamais foi na série, Helbing aproxima sua versão do Superman de todos nós de uma maneira muito rara de se ver por aí em adaptações do personagem. Se Christopher Reeve conseguiu fazer isso por sua capacidade quase indescritível de metamorfosear-se diante de nossos olhos na telona, o showrunner usa um inteligente artifício para dizer a mesma coisa, algo que fica evidente quando o Superman de Tyler Hoechlin não consegue sustentar seu voo de treinamento com o filho e pela primeira vez sente o efeito do álcool. E é fascinante como vemos o herói redescobrir-se, reconectar-se de maneira ainda mais próxima com sua humanidade e, claro, fazendo as pazes com isso. Fico mais uma vez revoltado que não há tempo na temporada encurtada para que isso ganhe um desenvolvimento mais lento, com o Superman sendo obrigado a já revelar que voltou no final deste mesmo episódio. Queria mais oportunidades para ver o coração humano batendo no peito do kryptoniano com uma cicatriz que se recusa a desaparecer.
E ter o casamento de Kyle e Chrissy – que finalmente apareceram na temporada! – como pano de fundo para essa história foi uma escolha muito boa do roteiro de George Kitson e Max Kronick, pois pareou humanidade com humanidade, com momentos de alegria, dúvidas, descontração e decisões. Assim como a separação e, depois, o divórcio de Kyle e Lana foram trabalhados de maneira adulta na série, sem bobagens do tipo “e, então, eles se reconciliaram e viveram felizes para sempre”, aqui acontece o mesmo e um casamento é cancelado não porque a noiva mudou de ideia sobre o que sente pelo noivo, mas sim porque ela percebeu que o conselho de sua mãe procede, que talvez esperar um pouco para sacramentar a união seja realmente a melhor e mais madura saída. Se poucas séries dramáticas fazem isso, o que dizer de séries de super-heróis, que se preocupam muito mais com fogos de artifício do que com escolhas cuidadosas e inteligentes?
Vale destacar, também, a forma como os supergêmeos foram tratados. Tudo bem que Jon já ter o domínio completo de seus poderes é conveniente demais e Jordan ter que receber aconselhamentos de todos ao seu redor para enxergar a vida como ela é cansa um pouco, mas novamente foi uma condução muito interessante que o roteiro deu a eles, usando suas características cultivadas desde o começo da série para guiar os sentimentos deles em relação ao legado do pai. Jordan sempre foi mais introspectivo, mais difícil, mais hesitante e vê-lo escolher, com uma ajudinha de Sarah, a não usar seus poderes é outra escolha madura, assim como é ver Jon libertando-se completamente ao mergulhar de cabeça – literalmente – nessa sua nova fase.
Um Casamento Perfeitamente Bom é o tipo de episódio que me faz esquecer os problemas da temporada final da série e até que ela é – injustamente – a temporada final. Fica a torcida para termos mais desse tipo de abordagem do que tentativas de esgarçar o parco orçamento em linhas narrativas típicas de séries e filmes que não entendem de verdade o rico material que têm em mãos.
Superman & Lois – 4X04: Um Casamento Perfeitamente Bom (Superman & Lois – 4X04: A Perfectly Good Wedding – EUA, 21 de outubro de 2024)
Data de exibição no Brasil: 31 de outubro de 2024
Showrunner: Todd Helbing
Direção: Gregory Smith
Roteiro: George Kitson, Max Kronick
Elenco: Tyler Hoechlin, Elizabeth Tulloch, Alex Garfin, Michael Bishop, Michael Cudlitz, Erik Valdez, Sofia Hasmik, Inde Navarrette, Rebecca Staab
Duração: 43 min.
