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Crítica | Aterrorizante 3 (Terrifier 3)

Papai Noel, presentes e tripas.

por Felipe Oliveira
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Não há dúvidas de que o palhaço Art atingiu tanta popularidade que Damien Leone pode fazer qualquer coisa com o personagem. Quanto mais se fala da ultraviolência, mas isso favorece o longa, a ponto de se tornar a produção unrated mais lucrativa de todos os tempos. E bem, em termos de roteiro, esse nunca foi o forte de Leone, tanto que a sua ideia é trazer uma trama com acenos a clássicos do slasher e do terror, mas também, propor uma espécie de subversão aos tropos. Se antes o arquétipo da final girl era representado através de uma mulher desfigurada e traumatizada no sentido mais literal, o cineasta sabia que precisava de mais para manter Art the Clown por perto, e nada melhor do que olhar para as raízes do subgênero. Logo, não importa se não há sentido na maneira que o palhaço assassino surge se Leone usa um cenário característico para o slasher: um feriado americano como tema. Nesse caso, o Natal se torna palco para Art fazer o seu sadismo.

Deixando de lado suas inspirações com Michael Myers, Leone transgride a linha do “código moral” do slasher — sendo essa de não matar crianças — ao criar uma longa abertura para mostrar Art implacável como Papai Noel. Se O Grinch surgiu como uma figura disposta a estragar o Natal de quem o celebra, o palhaço assassino vem para despedaçar o encanto do conto de fadas da festa natalina. Não há qualquer fator de novidade em trazer o Santa Claus como um serial killer, mas o triunfo de Terrifier 3 está em carimbar o palhaço muito além das travessuras da criatura verde ou o terror de Krampus com um gore gráfico que se supera com o uso de efeitos práticos inventivos. Como de costume, Leone não está preocupado em definir uma fórmula, e sim de contar “essa história” da maneira que pensou, e mesmo que não esteja definido como Art the Clown por ser ressuscitado, o cineasta surfa nos tropos do subgênero. Então, há aqui a tradicional cena de abertura e o Natal apenas como um pano de fundo para trazer o vilão de volta para que possa espalhar sua violência. Nesse sentido, Leone aproveita a temática da melhor forma ao brincar com simbolismos e transformar isso no seu horror sanguinolento.

Ter esse prólogo se torna apenas um espetáculo à parte aos vários problemas que Terrifier 3 apresenta, algo que começa pelo roteiro desfocado, desinteressante e pouco inspirado. A abertura é sangrenta, e uma ótima entrada para introduzir o palhaço serial killer ao Natal, mas então, a narrativa volta para o ponto em que o filme anterior terminou e depois avança mais cinco anos focando no trauma da final  girl que presente o retorno do vilão. Se antes esse arquétipo foi tratado pelo viés de uma mitologia heroica, Leone agora quer inserir mais dos elementos convencionais do subgênero, ou seja, Sienna é uma sobrevivente que está lutando contra seus demônios, e enquanto que, para muitas outras, a principal característica era uma regata branca, para ela, a espada é o que a identifica. Ao tempo que Leone celebra seu personagem assassino como um ícone do momento, a narrativa dispersa se faz o principal antagonista do filme. Art the Clown agora carrega mais semelhanças com Jason Voorhees como um assassino sobrenatural e o diretor/roteirista utiliza sua antiga versão de final girl como receptáculo da entidade ligada ao palhaço — o que traz uma dinâmica distinta para o slasher —, no entanto, quando se trata de Sienna, o texto fraco e o ritmo irregular deixa tudo sobre ela afetado.

O caminho aqui é familiar para uma sequência slasher que conta com a final girl ainda como protagonista, mas enquanto o novo embate não chega, Leone se perde nos excessos de uma história que não sabe o que quer contar. Só no primeiro bloco de Aterrorizante 3, as cenas são divididas nas ações de Art e em Sienna tomando café, almoçando, brincando e indo ao shopping com sua prima, e claro, remoendo os traumas. Falta ao cineasta lapidar o que é interessante manter nessa trama que não tem nada mais carismático do que o seu vilão a oferecer. Enquanto Leone não consegue reproduzir os tropos do subgênero de maneira empolgante, ao menos acerta ao vermos Art roubando a cena do Natal com seu jogo mímico desconfortável. Há uma comicidade mórbida que se mistura com um visual grotesco da violência gráfica que parece incansável, o que faz curioso como a vestimenta vermelha do Papai Noel serve para mascarar as intenções do palhaço, ao contrário da sua roupa preta e branca que trazia uma ideia de oposição frente aos atos brutais.

Parece que Terrifier 3 passa a funcionar quando deixa de lado as tentativas frustradas de traçar acenos com outros títulos do slasher – como se Art estivesse deixando sua marca a cenários conhecidos por Michael Myers e Krueger – e começa a investir numa proposta mitológica. Novamente, como os primeiros filmes, essa terceira parte sofre pela execução desestimulante que compromete o timing do que seria o clímax do ato final, mas ainda há algo de divertido quando Leone traz elementos fantasiosos, e indo além do chamado de Valquíria – sendo o ponto chave o embate com a espada contra a serra elétrica – o cineasta agora trata o arquétipo da final girl pelo viés do cristianismo – a coroa de espinhos, as marteladas e as mãos regeneradas em sinal da ressurreição. Prometendo trazer a origem do palhaço no próximo capítulo, fica claro que Leone irá reproduzir ainda mais elementos de Sexta-Feira 13 e A Hora do Pesadelo enquanto espalha de tripas e baldes de sangue o seu slasher sanguinolento.

Aterrorizante 3 (Terrifier 3 – EUA, 2024)
Direção: Damien Leone
Roteiro: Damien Leone
Elenco: Lauren LaVera, David Howard Thornton, Antonella Rose, Elliott Fullam, Samantha Scaffidi, Margaret Anne Florence, Bryce Johnson Greg, Alexa Blair Robertson, Mason Mecartea
Duração: 124 min

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