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Crítica | Esta Mulher é Proibida

Natalie Wood cresceu.

por César Barzine
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Esta Mulher é Proibida inicia-se de maneira desengonçada e sem sentido ao sermos apresentados a uma pré-adolescente meio maluquinha conhecendo um outro menino e, de maneira não muito coesa, começando a contar a história que é a real trama do filme. O tom propositalmente desarticulado desta narrativa-moldura nada tem a ver com a abordagem da narrativa central. Contudo, há um elemento desta introdução que rima com a história que veremos: a nostalgia que Willie, a menina narradora, sente por sua casa, outrora animada e agora abandonada aos pedaços. Isso não significa que o filme seja um drama ultrassensível e existencialista; a sensibilidade e o existencialismo são apenas pequenos traços que às vezes se potencializam nesta simples mistura de comédia, drama e romance.

O cenário é um vilarejo do Mississipi nos anos 1930. Um homem meio misterioso chega a essa pequena região árida e, como em tantos outros filmes antigos (westerns, no caso), este homem meio misterioso possui um certo embate com essa pequena região árida. Aliás, se Esta Mulher é Proibida fosse feito dez anos antes, certamente seria um western, pois há, aqui, o argumento e a ambientação perfeita para um desses faroestes niilistas sobre forasteiros se integrando/desintegrando numa nova terra. O protagonista, Owen, se mantém reservado e vendo aquele lugar como mero destino passageiro; porém, como num bom metawestern, ele se abre para novas possibilidades; se apega a algo que está ali e amplia sua subjetividade, até então seca.

Alva, a protagonista feminina do filme — e uma Natalie Wood nunca tão sensual, definitivamente superando suas personagens adolescentes —, também possui sua subjetividade com lacunas e desejos; e, em meio àquele ambiente provinciano e áspero, tem boa parte dela ancorada pelo sonho de sair dali rumo a Nova Orleans. Essa ânsia pelo deslocamento não leva a uma personagem amargurada e isolada — como dito, o longa não é um profundo retrato existencialista. O roteiro acerta por recusar isso e tratar Alva como uma personagem carregada de vivacidade. Acerta também pela dualidade que isso implica: a beleza, a vida amorosamente ativa e a cobiça que ela desperta em todos os homens ali contrastam com um nível de desumanização que ela sofre. A mãe a instrumentaliza (quer que ela se case com um senhor rico) e a chama de inútil; o desejo afetivo que todos os homens sentem por ela se limita ao sexual e superficial, até beirando o sombrio; e Owen inicialmente a subestima e depois enfatiza seu desprezo. 

Todos esses atritos realçam seu desejo por Nova Orleans e suas lacunas na condição feminina e humana em geral. Apesar de boa parte deles já se manifestarem na primeira metade da obra, ela não mostra direito a que veio durante esse período. Fica uma pequena sensação de um filme que ainda não se encontrou. A história vai se amarrando com maior consistência quando a tensão romântica entre Owen e Alva começa a ficar recíproca; assim, deixamos de ter um enredo de situações para ter algo mais progressivo. A melhor e mais envolvente parte do longa é de meados do segundo ato até o início do terceiro, com altos e baixos do casal. A trama desanda um pouco em sua reta final, indo para um caminho pouco orgânico, daqueles que tentam amarrar os pontos soltos da narrativa de maneira fácil e não muito convincente.

Há três clímace nesta segunda metade da obra: 1) Hazel, a mãe de Alva, revelando seu segredo para Owen; 2) Alva, por provocação e vingança, pedindo o namorado de sua mãe em casamento; 3) Mais um segredo de Alva para Owen feito por Hazel. Como podemos ver, são momentos noveleiros de drama eletrizante e capazes de alterar completamente o curso da trama. Assim sendo, agarram a atenção e a emoção dos espectadores. Mas não é aí que está o coração do drama na obra inteira. O drama daquilo que é gritado está em função de um drama mais silencioso. Como já dito, Esta Mulher é Proibida é um filme simples que não tenta ser muita coisa. Não é nem um melodrama novelesco e nem um denso estudo de personagem. É apenas um drama do seu jeito — misturado à comédia romântica e um tipo exótico de metawestern.

Esta Mulher é Proibida (This Property Is Condemned) — EUA, 1966
Direção: Sydney Pollack
Roteiro: Francis Ford Coppola, Fred Coe e Edith Sommer
Elenco: Natalie Wood, Robert Redford, Charles Bronson, Kate Reid, Mary Badham, Alan Baxter, Rober Blake, Dabney Coleman, John Harding, Ray Hemphill, Brett Pearson, Jon Provost, Robert Random
Duração: 110 minutos.

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