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Crítica | Venom: A Última Rodada

Gosmas versus Insetos.

por Ritter Fan
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Serei bem direto aqui neste começo de crítica e afirmarei que, se alguém tiver gostado dos dois primeiros filmes, provavelmente também gostará de Venom: A Última Rodada, e, ao revés, se alguém desgostou de Venom e Venom: Tempo de Carnificina, então também é quase certo que desgostará do longa que somente muito em tese encerra uma trilogia. Encaixo-me no segundo grupo, só para deixar bem claro logo na largada minha posição. A única coisa que realmente posso dizer de positivo desses três filmes do Universo Homem-Aranha (Mas Sem Homem-Aranha) da Sony é que eles são, no conjunto, os melhores exemplares dessas abissalmente péssimas e desavergonhadas tentativas de se tirar teia de aranha e não tenho a menor esperança – ainda que ela seja a última que morre… – de que o vindouro Kraven mude essa minha conclusão.

Neste terceiro longa, a ambição da produção aumenta, ou pelo menos parece aumentar quando, em seu prólogo, apresenta o supervilão ancestral cósmico Knull, que fora traído por seus simbiontes e preso em um planeta, com a chave de sua liberdade estando, claro, com Venom, na Terra. Em uma explicação no estilo 5ª série de uma turma especial composta somente por alunos que já repetiram o ano pelo menos uma vez, aprendemos sobre o grande bandidão em questão (Andy Serkis) por sua própria e gutural voz e o vemos ameaçador, de cabeça baixa, em um trono sombrio que dá a entender que ele é o final boss para acabar com todos os final bosses, mandando universo afora bichos que não poderiam ser mais genéricos e que, mais para a frente, aprendemos que são caçadores de simbiontes chamados xenófagos, para localizar a tal chave, ou códice, nada mais do que um MacGuffin qualquer. No entanto, essa ambição toda do começo é o proverbial fogo de palha, pois, em seguida, o longa murcha e se torna uma historietazinha qualquer de monstros contra monstros em meio a explosões, bobagens como um cavalo simbionte e, claro, mais explosões, com alguns personagens novos que são introduzidos somente para que o filme não seja 100% computação gráfica. Para não dizer que nada se salva, gostei da sequência de ação que se passa em um rio caudaloso, pois há dinamismo e uma assunção maior de riscos visuais, por assim dizer, mas o momento mais importante dali acaba não gerando consequências práticas para Brock ou mesmo para o filme como um todo, o que é frustrante.

Sabem a interação espertinha e cômica (para alguns, pois, para mim, a comicidade acabou depois dos 10 minutos iniciais do primeiro filme) entre o simbionte amigão da garotada e seu hospedeiro beberrão Eddie Brock (Tom Hardy), aspecto esse normalmente muito elogiado nos filmes dessa subfranquia? Pois bem, ela chega a níveis vergonhosos aqui, tão vergonhosos que, quando o filme esfria para Eddie ficar tendo conversas pseudofilosóficas com sua contrapartida alienígena em uma Kombi com hippies que querem ver a Área 51 antes que ela seja desmantelada, a vontade que dá é ir embora da sala de cinema ou pedir pelo amor de Knull para que o projecionista clique no fast forward diretamente para as partes de pancadaria entorpecedora. E, como se isso não bastasse, tudo em Las Vegas, logo depois da Kombi Paz e Amor, chega a ser assustador de ruim, em uma clara demonstração de que o roteiro precisava enrolar para o longa não ser um curta.

E não tem Chiwetel Ejiofor como o General Rex Strickland, que obedece ordens superiores que nunca são contextualizadas, ou Juno Temple como a Dra. Teddy Payne, com uma história trágica de origem que é tão ruim que me fez ter espasmos de risos, que salve o filme. A melhorzinha na categoria “coadjuvante que quase não serve para nada” é Clark Backo como Sadie Christmas, mas só porque a personagem efetivamente, a partir de certa altura no meio do caos, começa a ser realmente útil por mais do que os 15 segundos regulamentares. Também não ajuda em nada que o momento climático lá na Área 51 não passe de um escancarado golpe de marketing para vender brinquedos baseados no filme, pois tudo o que vemos é uma sucessão de simbiontes coloridos em uma rave mortal contra insetos genéricos que envergonharia o pessoal de Tropas Estelares.

Aliás, falando na sequência climática e retornando ao prólogo ambicioso que comentei que o longa tem, vale dizer que o filme acaba, mas a história não, com A Última Rodada sendo muito mais A Primeira Rodada em outra estratégia patética da Sony de tornar Venom um personagem tão longevo nas telonas quanto o Homem-Aranha. Narrativamente, portanto, o que temos é o equivalente cinematográfico do coito interrompido, com um longa que introduz um assunto em tese muito relevante, pomposo e tudo mais, somente para não lidar com ele, freando a história com a mesma elegância com que um albatroz pousa. Mesmo considerando que Kelly Marcel, corroteirista dos três longas do Venom, é marinheira de primeira viagem na direção, creio que ela tenha ouvido falar em terceiro ato, mas eu também creio – muito fortemente até – que ela recebeu instruções muito claras do tipo “é assim ou você está fora” de encerrar sem encerrar, pois essa é a moda atual, em que o espectador precisa ser duplamente “pré-fisgado”, já que uma continuação naturalmente parte da premissa de que a primeira isca já foi mordida.

No final das contas, eu menti. Eu disse que sou do time que desgostou dos filmes anteriores e que, muito provavelmente, desgostará do mais recente, dando a entender que há uma equivalência de “desgostos”. Todavia, a verdade é que eu acabei desgostando de Venom: A Última Rodada ainda mais do que dos dois primeiros capítulos da “saga”, não só por ser um filme que promete algo no início e que entrega outra coisa bem diferente – e pior -, como também sequer tem a decência de fazer algo com começo, meio e fim. Como filme, o que temos é uma introdução. E, como introdução, tudo o que recebemos é um arremedo de história jogada de qualquer jeito na tela por meio de computação gráfica que não compromete, mas também não tem absolutamente nada demais. Nunca pensei que fosse dizer isso, mas fiquei com saudades do Venom do Sam Raimi

Obs: Há uma cena no meio dos créditos e outra bem lá no final. A primeira é “preparatória” de capítulos futuros, mas que, inacreditavelmente, desfaz a premissa que o próprio filme estabelece. A segunda é apenas uma bobagem sem maiores consequências.

Venom: A Última Rodada (Venom: The Last Dance – EUA, 2024)
Direção: Kelly Marcel
Roteiro: Kelly Marcel (baseado em história de Tom Hardy e Kelly Marcel)
Elenco: Tom Hardy, Chiwetel Ejiofor, Juno Temple, Rhys Ifans, Stephen Graham, Peggy Lu, Clark Backo, Alanna Ubach, Andy Serkis, Hala Finley, Dash McCloud, Cristo Fernández, Reid Scott
Duração: 109 min.

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