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Crítica | A Prometida (1985)

Uma releitura do clássico A Noiva de Frankenstein?

por Leonardo Campos
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Um dos pontos mais controversos e significativos do enredo de Frankenstein, publicado por Mary Shelley, no século XIX, é a solicitação do monstro a Victor Frankenstein para que crie uma companheira, uma mulher que possa compartilhar sua solidão e incompreensão. Tal brecha, no romance, gerou A Noiva de Frankenstein, clássico da Universal, continuação do filme de 1931, dentre outras iniciativas dramáticas que, ao lidar com os desgastes das numerosas traduções do clássico para o cinema, entram por essa vereda em busca de algo mais “fresco”.  No livro, como já abordado por aqui em outras reflexões, o monstro, uma criatura que é rejeitada por todos devido à sua aparência grotesca, expressa um desejo intrínseco por conexão e amor. Ao solicitar uma parceira, ele não apenas busca um alívio para sua solidão, mas também delineia a sua necessidade humana de reconhecimento e aceitação. No entanto, a proposta gera uma série de dilemas morais e éticos para Victor. Apesar de compreender o sofrimento do monstro, Victor hesita em criar uma nova vida, temendo as implicações que isso poderia ter.

Esse é um ponto significativo na base literária desse universo, pois se estabelece como elemento catalisador da tragédia que culmina no desfecho desolador do romance. Conscientes do potencial dessa mencionada brecha, diversos realizadores já investiram em tramas que emulam esse ponto de partida. A Prometida, de 1985, relativamente interessante, mas com graves problemas de ritmo, é uma dessas histórias. Dirigido por Franc Roddam e protagonizado por Sting e Jennifer Beals, além das participações de Geraldine Page e Clancy Brown, o filme traz uma trama que gravita em torno Barão Charles Frankenstein, cientista que decide criar uma mulher, Eva, após a suposta morte de seu monstro original, que na abertura da produção, já existe e divide o espaço do laboratório no momento da concepção da mulher em questão. O enredo, por sinal, nos remete a Pigmalião, de George Bernard Shaw, numa história que explora uma mulher que, embora criada como propriedade, finalmente busca sua própria identidade e liberdade em um mundo que a nega. Bela por fora, mas um monstro em suas origens. Assim é essa “prometida”.

No enredo, o tal barão e seu assistente criam Eva, uma mulher sem deformidades, como foi o caso do monstro anterior. Ao ser apresentada ao seu par, ela o rejeita. Um confronto se estabelece e, na ótica do cientista, é preciso destruir a sua criatura anterior. Ele acredita que o plano tenha dado certo, mas o ser com deformidades consegue escapar e segue pelo mundo. Com a mulher para si, Frankenstein conta com ajuda de um amigo e de sua fiel governanta, se iniciam os processos de educação da jovem, tendo em vista torna-la a sua companheira. O roteiro de Lloyd Fonvielle, ao se inspirar na tal brecha do romance de Mary Shelley, traz muitas discussões interessantes. O grande problema mesmo é o resultado final, pecaminoso com seu ritmo melodramático demais. O monstro, diferentemente das abordagens tradicionais escolhidas pelos tradutores do romance para cinema, ganha nome, faz amizades e se sente útil em situações diversas, numa instauração de humanidade praticamente nunca vista antes.

Separado de seu par desejável, a noiva concebida em laboratório, ele vagueia e aprende, se emociona, mas também sofre, num carrossel de sensações que estabelece algumas tragédias no processo, mas que preconiza um desfecho com perspectiva mais positiva. Acompanhado pela condução musical de Maurice Jarre, textura que adorna as imagens da direção de fotografia de Stephen H. Burum, A Prometida é uma narrativa de temática sombria, mas daquelas possíveis de exibição numa Sessão da Tarde qualquer. Sting, em um desempenho dramático destoado dos demais presentes no elenco, interpreta o Barão Charles Frankenstein. Jennifer Beals, a Eva da história, concorreu ao pior desempenho em cinema na época, mas sua atuação não chega a ser digna de ser rechaçada. Em linhas gerais, é um filme pretensioso, mas com um desenvolvimento morno. Uma noiva moderna para Frankenstein.

Pouco memorável, mas com alguns bons momentos.

A Prometida (The Bride | EUA, Reino Unido e Irlanda do Norte, 1985)
Direção: Franc Roddam
Roteiro: Lloyd Fonvielle (baseado nos personagens criados por Mary Shelley)
Elenco: Sting, Jennifer Beals, Anthony Higgins, Clancy Brown, David Rappaport, Geraldine Page, Alexei Sayle, Phil Daniels, Veruschka von Lehndorff, Quentin Crisp, Cary Elwes, Timothy Spall, Ken Campbell, Guy Rolfe
Duração: 118 min.

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