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Crítica | Corações Jovens (2024)

Não é fácil entender o coração.

por Luiz Santiago
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Muitos espectadores vão se lembrar e fazer comparações imediatas de Corações Jovens com Close (2022), retomando a temática de amizade entre dois meninos, ainda em idade escolar fundamental, iniciando uma amizade e criando um laço tão forte que ultrapassa a relação fraternal e se torna um laço romântico. Entretanto, é importante deixar claro que se tratam de filmes completamente diferentes em tom e proposta, mesmo que compartilhem de uma linha narrativa similar. No longa de Lukas Dhont, o alinhamento é trágico e existe um peso muito maior no roteiro, contando uma história mais densa, com elementos psicológicos, emocionais e sociais mais hostis e problemáticos que aqueles vistos em Corações Jovens, uma produção franco-belga-holandesa sobre a descoberta do amor na adolescência.  

Essa descoberta vem pela jornada de Elias (interpretado pelo ótimo Lou Goossens, em seu primeiro longa-metragem), um jovem de 13 anos que se apaixona pelo novo vizinho, Alexander (Marius De Saeger). O filme se destaca por sua abordagem leve, optando por um caminho narrativo que evita o pessimismo e a tragédia plena que se tornaram típicas de obras que tratam de relações homoafetivas, especialmente em sua fase de descoberta, ainda na adolescência, onde tudo é muito nublado e onde a vergonha e o medo do isolamento social dominam boa parte de nossas decisões e do nosso cotidiano. Essa escolha que encaminha o roteiro para um final feliz (não sem antes passar por conflitos esperados quando o assunto é a sexualidade) confere à obra uma aura de doçura e otimismo, proporcionando uma experiência cinematográfica mais serena e verdadeira.

O roteiro, também assinado pelo diretor Anthony Schatteman, não se limita ao romance entre os dois protagonistas ou exclusivamente às questões sentimentais. Vemos situações ligadas à importância das amizades, à dinâmica familiar e ao processo de amadurecimento de Elias diante dos desafios da vida; ao entendimento da pulsão sexual, do primeiro amor, da vitória contra o medo dos comentários alheios, da homofobia internalizada e do medo da reação da família diante de um filho que não seja heterossexual. Tudo isso recebe uma abordagem cuidadosa do diretor, que não faz estripulias na direção, mas consegue guiar a história de maneira competente, explorando situações adicionais que enriquecem a narrativa e trazem uma visão mais ampla do universo adolescente e suas nuances.

A face negativa dessa abordagem é que a busca por uma narrativa leve e acessível resulta, às vezes, numa simplificação de temas que poderiam ganhar maior profundidade. Mas este não é o maior problema da fita. Durante a maior parte do tempo, quando a trama alterna entre momentos individuais de Elias e Alexander, ou quando temos a dupla em cena, tudo corre muito bem. Mas há uma mudança negativa nessa dinâmica ali pelo terceiro ato; com o filme se tornando uma observação das reações de Elias após explodir de raiva e magoar as pessoas que ama, numa tentativa de negar seus desejos e seus sentimentos. Não dá para dizer que é um encaminhamento sem propósito, mas ele foge tanto da abordagem geral, que acaba incomodando. Quando a dupla retorna à cena, já na reta final, o tom do filme também muda positivamente e a atmosfera delicada e muito bonita que tivemos anteriormente, retorna. 

A despeito de sua simplicidade, a obra entrega uma história com ritmo e sensibilidade, tratando de um tema que deixou de ser tabu (ou esporádico) no audiovisual: as descobertas e o primeiro amor de adolescentes LGBT. Obras assim têm ganhado cada vez mais produções elogiáveis, com ampla visão para as questões psicológicas e sociais em torno do tema e um respeito muito grande à idade que se está representando na tela. Por isso é que Corações Jovens agrada tanto. Com sua simplicidade e positividade, a obra oferece uma visão otimista sobre o amor e a juventude, mesmo quando os envolvidos precisam passar pelos momentos de erros e exageros, até que consigam compreender e aceitar quem são. É um filme que aquece o coração, que entretém e emociona; também mostrando como pais centrados unicamente em suas vidas tendem a nunca dar o apoio que seus filhos precisam, muitas vezes tornando ainda mais difícil um processo já carregado de complexidades.

Corações Jovens (Jungle Herzen / Young Hearts) — Holanda, Bélgica, 2024
Direção: Anthony Schatteman
Roteiro: Anthony Schatteman
Elenco: Lou Goossens, Marius de Saeger, Geert Van Rampelberg, Emilie de Roo, Dirk Van Dijck
Duração: 98 min.

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