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Crítica | Sorria 2 (2024)

A tour do terror do ano.

por Felipe Oliveira
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Por se tratar de um filme de terror sobrenatural com apelo comercial, era fácil imaginar o caminho que Sorria seguiria ao ter sua sequência anunciada. O Chamado, O Grito, e a A Entidade são alguns exemplos de longas que tiveram continuações encomendas graças ao retorno lucrativo, mas que não conseguiram agradar ao tentarem repetir a fórmula. Smile é um dos casos mais recentes dessa safra de Hollywood, a diferença é que Parker Finn está disposto a inserir um pouco mais de criatividade na mitologia da maldição do sorriso. A escolha para a cena de abertura de Sorria 2 se mostra um passo habilidoso para voltar a esse universo ao mesmo tempo que aposta em novos rumos. É como se nunca tivéssemos saído do pesadelo angustiante da última vítima uma vez que a trama segue uma linha de tempo curta, mas logo no início é possível perceber o que faz a direção de Finn tão chamativa: a forma que a câmera conta essa história.

Jogando a maldição para um cenário totalmente inesperado, é interessante conhecermos a artista pop Skye Riley pela perspectiva de uma TV e, com um lento zoom in, vamos nos aproximando até vermos a entrevista mais de perto, e uma vez que Naomi Scott está em cena é difícil desviar o olhar pela maneira que ela ancora sua personagem. Com um visual deslumbrante, as referências na aparência e roupas de Skye remete a estrelas como Lady Gaga e Katy Perry, mas ainda com um resultado autêntico graças a performance de Scott. E há todo um capricho na caracterização da personagem — em especial o cabelo — que torna a sua presença marcante. Nesse sentido, Finn investe para nos inserir no mundinho dessa popstar que está buscando uma nova fase de sua carreira através de uma tour, o que coloca os números musicais e letras cantadas como parte do terror — e até como um prenúncio dos rumos da trama.

O que mais impressiona no estilo de Finn é sua capacidade de fazer o filme ser envolvente mesmo apelando para tropos conhecidos do gênero. Com inspirações que vão desde The Ring a Corrente do Mal, o cineasta americano incrementa elementos genéricos de maneira inventiva e inesperada. Um ponto que exemplifica isso é uso da trilha sonora composta por Cristobal Tapia de Veer com um design de som estrondoso que acompanha o estado melancólico dos personagens ou estridente em cenas mais intensas — mas que também assume um nível sensorial que parece evocar algo maligno, e até o jumpscare Finn sabe como utilizar com eficiência, porém, sempre buscando por visuais alternativos. A sacada do diretor para garantir os sustos está em como ele usa a câmera, escolhendo o que é visto pelos personagens e o que é mostrado ao telespectador, brincando com as mudanças de percepções e o que está enquadrado. Por mais que a familiaridade do gênero se faça presente, é difícil negar que Finn está tentando aplicar ideias diferentes a como o terror sobrenatural é visto: os planos aéreos, o visual psicodélico, o uso de espaços e corredores com espelhos servem a dinâmica do terror.

Se o filme anterior traçava uma alegoria sobre traumas, o cenário agora envolve o mundo caótico da indústria e de artistas pop. É ótimo que Finn tenha se inspirado em figuras como Britney Spears e Amy Winehouse usando episódios tumultuados para compor Skye Riley. Nesse sentido, a carreira musical aqui é usada como combustão para degradação psicológica da protagonista e como gradualmente a sua sanidade mental vai sendo corrompida. O ponto chave é como a linha entre realidade e alucinação é borrada, fazendo a familiar estrutura narrativa da contagem de sete dias de O Chamado não seja reproduzida. A lógica para o funcionamento da maldição não muda, mas o cineasta americano intensifica todas as fichas a fim de tornar a experiência alucinante, então há aqui mais sustos, mais gore e uma aposta muito maior na manipulação dos acontecimentos. Dessa forma, Finn constrói uma narrativa pensada para a audiência embarcar no espiral emocional que a protagonista entra, assumindo um nível psicótico.

Embora tenha jogado em lugar comum no primeiro filme, o fato de ter uma artista pop como protagonista deu a Smile 2 muito mais possibilidades e situações inusitadas para o terror. Nesse caso, Finn oferece a Scott material e espaço para poder explorar uma cantora tentando não cair em decadência aos 27 anos, e tudo o que poderia dar errado com o incansável jogo de manipulação encontra êxito em sua performance. A dança, os figurinos, as ambientações servem como palco para a atriz brilhar na pele de uma popstar que recebe a maldição enquanto se prepara para uma tour. A sensação é que Finn assume um nível mais maduro e quase original de sua direção que se mostra confiante em abordar novos ângulos e não ter receio de investir na experiência. A forma que o trauma e vícios da protagonista se estabelece aqui aponta para a criatividade do diretor para tornar o filme insano e alucinante.

Vira e mexe surge um filme com premissa estranha prometendo vários sustos, e é como se Finn pegasse todos esses elementos e utilizasse a fim de assumir novos riscos. E por mais que o fator genérico seja apontado aqui, não há terror mais pop e digno de ser aclamado no terror do que Sorria. Diria que a maior inspiração do diretor que se une a outros títulos vem do fraco Verdade ou Desafio que fazia do próprio conceito uma bola de neve apelativa, e aqui ele aproveita a ideia do “sorriso do mal” em algo mais consistente, e o final é a prova do caminho cheio de possibilidades que o cineasta pode explorar. Para seu segundo filme, Finn mostra que não tem apenas licença para explorar uma possessão com toques de body horror — com uma perspectiva oposta ao anterior —, efeitos práticos e susto fácil, mas que no fim, faz você sorrir por isso.

Sorria 2 (Smile 2 – EUA, 2024)
Direção: Parker Finn
Roteiro: Parker Finn
Elenco: Naomi Scott, Lukas Cage, Kyle Gallner, Rosemarie DeWitt, Miles Gutierrez-Riley, Dylan Gelula, Ray Nicholson, Peter Jacobson, Raúl Castillo, Drew Barrymore
Duração: 127 min.

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