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Crítica | Todo Tempo que Temos

Vivendo no momento.

por Ritter Fan
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Todo Tempo que Temos é um filme que já foi feito muitas vezes de maneiras bem diferentes ao longo das décadas, de Love Story a Diário de uma Paixão, passando por Meu Primeiro Amor e tantos e tantos outros. Trata-se da boa e velha história de amor pontuada de tragédia que existe para arrancar lágrimas e para passar mensagens edificantes. E, como uma fórmula básica usada repetidas vezes, ela pode cansar, pelo que cada longa do tipo que é lançado precisa ser revestido de alguma qualidade especial, algo que o torne único ou, pelo menos, é isso que roteiristas e diretores tentam fazer. E não é diferente em Todo Tempo que Temos, que narra a história de amor entre Tobias Durand (Andrew Garfield) e Almut Brühl (Florence Pugh) que se conhecem de maneira inusitada e se apaixonam quase que imediatamente.

O chamariz narrativo nem pode mais ser chamado de chamariz pelo quanto ele é comum. Afinal, narrativa não-linear tornou-se padrão na indústria audiovisual e é exatamente isso que o diretor John Crowley faz aqui, pulando no tempo entre diversos momentos da vida dos dois, seja o começo do relacionamento, o câncer no útero de Almut, sua gravidez e sua profissão como chefe de cozinha em um restaurante próprio. No entanto, a alinearidade narrativa, aqui, funciona muito bem, não só como um artificio para manter o espectador grudado na tela, como ela é tecnicamente muito bem conduzida pela decupagem cuidadosa de Crowley e a montagem precisa de Justine Wright que, sem usar transições, estabelece marcadamente cada novo momento temporal sem exigir esforço algum do espectador para a compreensão do que está ocorrendo para além do primeiro pulo que pode criar estranhamento momentâneo.

Mas será que Todo Tempo que Temos é um filme que será lembrado pela forma com que a história é contada ou que só deve ser visto por causa disso? Tenho para mim que não e, diria mais, ainda bem que não. A montagem não-linear, fico feliz em afirmar, acaba sendo não mais do que um bom complemento para o verdadeiro filé mignon da fita, que são os trabalhos de atuação de Garfield e de Pugh e a impressionante química que os dois estabelecem em cena desde o primeiro segundo em que os vemos. Sem essa dupla, o longa seria apenas mais um qualquer na categoria de drama romântico. Com a dupla, ele se torna uma delícia audiovisual que, mesmo com a pegada de “amor de conto de fadas com o espectro da tragédia pairando sobre ele”, é completamente irresistível, do tipo em que o espectador não se cansa em observar e degustar os momentos mais prosaicos entre Almut e Tobias, seja na cama, no jardim, na cozinha, em qualquer lugar, seja também os momentos de conflito e de puro drama lacrimejante.

Desde que vi Andrew Garfield pela primeira vez em A Rede Social, notei que o ator então ainda a caminho de ser o segundo Homem-Aranha live-action da era moderna, tinha algo especial, um carisma irresistível e uma simplicidade de “apenas ser” que é rara de se ver por aí. Sua atuação, aqui, não chega ao nível de suas performances mais exigentes em Silêncio, Até o Último Homem ou Tick, Tick… Boom!, mas o “tipo” de personagem é o mesmo, sua especialidade, na verdade, a alma bondosa com cara de “cachorrinho pidão”, algo necessário em Todo Tempo que Temos para estabelecer a dinâmica com sua parceira em tela. Falando nela, Florence Pugh, que conheci em Adoráveis Mulheres, mas que só prestei atenção mesmo quando ela embarcou no Universo Cinematográfico Marvel como Yelena Belova em Viúva Negra, constrói uma personagem que é bem mais do que apenas um par romântico que está morrendo e que, portanto, merece todos os olhares piedosos do público. Sua Almut é uma personagem cheia de alma, repleta de vigor, que exibe força e ternura em medidas iguais e que sofre, mas sofre com o rosto de alguém que não tem nenhuma intenção de se entregar passivamente ao destino. E o encaixe entre os dois atores leva à genuinidade do relacionamento de seus personagens e é justamente essa característica que funciona no longa para além de artifícios de estrutura narrativa ou mesmo da história em si.

Todo Tempo que Temos é sem dúvida um filme feito cientificamente para agradar e emocionar, mas a obra de John Crowley nunca é vazia, genérica ou artificial. Há real conexão entre o casal e da história deles com o espectador. E o olhar positivo que o roteiro de Nick Payne mantém mesmo diante das situações mais terríveis é como um acalento, um afago, um aceno de que o que realmente importa é que vivamos intensamente no momento, como o título original em inglês indica, algo que Garfield e Pugh facilmente nos convence que é possível.

Todo Tempo que Temos (We Live in Time – Reino Unido/França, 2024)
Direção: John Crowley
Roteiro: Nick Payne
Elenco: Andrew Garfield, Florence Pugh, Adam James, Marama Corlett, Aoife Hinds, Nikhil Parmar, Heather Craney, Douglas Hodge, Lee Braithwaite, Grace Delaney, Amy Morgan, Niamh Cusack, Lucy Briers, Robert Boulter, Kerry Godliman
Duração: 108 min.

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