Baseado no livro Mulherzinhas da escritora Louisa May Alcott lançado em 1868, o longa-metragem Adoráveis Mulheres de 1994 é um ótimo filme, dirigido pela diretora Gillian Armstrong. A história de Adoráveis Mulheres já foi adaptada algumas vezes para o cinema, as versões mais conhecidas sendo, em ordem, a de 1933, 1949, 1994, e a mais recente versão, até o momento da escrita desta crítica, é a de Greta Gerwig (2019). Todas versões possuem seu próprio jeito de contar essa história, e a forma que o filme de Armstrong é conduzido, é divertida e encantadora.
Adoráveis Mulheres conta a história de 4 irmãs, Jo March (Winona Ryder), Amy March (Kirsten Dunst/Samantha Mathis), Meg March (Trini Alvarado) e Beth March (Claire Danes), as irmãs vivem com a mãe Margaret March (Susan Sarandon), no século 19, as jovens irmãs sofrem pela ausência do pai que luta pela Guerra Civil Americana. Enquanto crescem, as quatro irmãs aprendem sobre o que é ser mulher na sociedade daquele tempo, aprendem sobre o amor, amizade, problemas financeiros, luto e muitos ensinamentos que essa incrível histórias trás. O filme de 1994 é classificado como um romance e também um filme infantil, diferente do filme de Gerwig, de 2019, que traz a história de uma forma mais adulta e com mais foco no feminismo e na emancipação das mulheres. O filme de Armstrong tem um tom mais familiar, com momentos cômicos e de romance, mas ainda sem perder a essência feminista que essa história possui.
É surpreendente como uma história de época pode ser moderna e atual. Em dado momento do filme, a personagem da mãe, muito bem interpretada pela atriz Susan Sarandon, diz “Nada provoca mais comentários do que uma mulher se divertindo.” Uma frase que continua fazendo sentido em todos os anos, pois mulheres se divertindo sempre serão alvos de comentários negativos. O filme é uma ótima escolha para assistir em família e para apresentar para jovens meninas, com toda certeza elas irão adorar e se identificar com alguma das irmãs March. Um grande elogio ao longa se dá pelo seu elenco repleto de estrelas. Winona Ryder assume o papel da personagem Jo March de uma forma incrível e muito natural, ela consegue passar a verdade que a personagem necessita. Jo March é escritora, muito criativa e determinada, sempre buscando os seus objetivos. Outro elogio para a atuação vai para o jovem Christian Bale que interpreta Laurie. Laurie se apaixona por Jo March, mas não tem seu sentimento correspondido. A cena onde Laurie confessa seu amor para Jo é uma ótima cena entre Bale e Ryder, mas podia ter tido ainda mais emoção, por se tratar de um momento tão forte na história – nesse aspecto, em uma comparação simples, poderíamos dizer que a versão de 2019 se saiu bem melhor.
Já a irmã mais nova da história, a personagem Amy March, foi interpretada por duas atrizes cada uma em uma fase de vida, na versão quando criança, a pequena Kirsten Dunst esbanja carisma e encanto na sua atuação, a famosa atriz já demonstrava ser uma estrela, inclusive ela é melhor no papel do que a versão adulta, feita por Samantha Mathis. Mesmo quando aborda temas tristes e melancólicos como a doença de Beth March, algo que machuca profundamente a família, o filme ainda tem um ritmo leve e que consegue te deixar preso a história, sentindo empatia pelas meninas e querendo acompanhar até o final. Em várias cenas vemos o poder do amor entre irmãs e também de uma mãe pelas filhas, o amor é um tema importante para Adoráveis Mulheres, é um filme muito divertido e doce.
Acompanhamos o caminho da adolescência à vida adulta das irmãs March e o ritmo do filme nos conduz a ficarmos presos na história quase o tempo todo. Porém, lá para o final, o filme se arrasta um pouco. A direção de Gillian Armstrong é boa, com cenas que transmitem conforto. A forma como a casa das irmãs March é filmada, as cenas na neve, os momentos de festas (como o Natal), tudo isso passa uma sensação familiar que aquece o coração. Numa lista de “filmes de conforto para o espectador”, ou seja, aqueles filmes para assistir e se sentir bem, este aqui entraria fácil. O sonho de Jo March em ser escritora, para a época, era algo muito difícil, já que o machismo impedia que o que ela escrevesse fosse levado a sério. Assistimos a esse problema enfrentado por Jo e, como mulher, dá para entender os sentimentos da personagem e perceber como em pequenos passos o mundo evoluiu desde lá. Little Women (Adoráveis Mulheres) nos remete aos tempos da Old Hollywood (Antiga Hollywood) onde os filmes em preto e branco contavam histórias de grandes romances repletos de drama.
Esta versão de 1994 não parece querer inovar, apenas entregar uma história simples, mas que encante, o que não é ruim, pois funciona para o filme da maneira como foi concebido. A narração da personagem Jo March acrescenta uma camada pessoal e envolvente à narrativa, e o filme explora, com sensibilidade, a união entre irmãs, os desafios de crescer, as dores e alegrias da infância e adolescência, além do amadurecimento de cada uma ao longo da projeção. Entre os muitos temas tratados, destaca-se o papel da mulher no período retratado, especialmente em relação às expectativas de casamento e as pressões sociais. Cada uma das irmãs March lida de maneira distinta com esses desafios, e o filme faz um ótimo trabalho ao mostrar como elas buscam encontrar seus próprios caminhos, seja através do casamento, do trabalho ou de suas paixões pessoais. A jornada de Jo March, em particular, é notável por sua luta por independência e por seu desejo de ser escritora em uma sociedade que não encorajava as mulheres a seguirem seus sonhos criativos.
Com seu retrato sensível e delicado das relações familiares e das questões sociais da época, Adoráveis Mulheres, de 1994, oferece uma boa reflexão sobre o que significa crescer e se tornar uma mulher em um mundo repleto de expectativas limitadoras.
Adoráveis Mulheres (Little Women – EUA, 1994)
Direção: Gillian Armstrong
Roteiro: Robin Swicord
Elenco: Winona Ryder, Kirsten Dunst, Christian Bale, Susan Sarandon, Trini Alvarado, Claire Danes, Gabriel Byrne, Samantha Mathis, Eric Stoltz, Mary Wickes John Neville
Duração: 115 min.