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Crítica | O Quintal Americano

Estilo sobre substância.

por Ritter Fan
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O prolífico cineasta italiano Giuseppe Avati, mais conhecido como Pupi Avati, é provavelmente mais lembrado por seus perturbadores gialli dos anos 70 e 80, mas o conjunto de sua obra é impressionante em variedade e qualidade, com seus trabalhos na direção e roteiro, além de produção, aparecendo quase anualmente na rica filmografia de seu país. E O Jardim Americano, seu mais recente longa, teve a honra de ser a projeção de encerramento do 81º Festival de Veneza, em 7 de setembro de 2024.

O longa, que ele roteirizou ao lado de seu filho Tommaso com base em seu romance homônimo do ano anterior, é um thriller psicológico de verniz gótico que resvala no horror em razão principalmente de sua atmosfera pesada construída por meio da bonita fotografia em preto e branco de alto contraste de Cesare Bastelli. Diria, aliás, que é a direção de arte em consonância com a fotografia chamativa que formam o real valor da película, já que a história em si e como ela é estruturada carece de mais urgência e se perde muitas vezes.

O foco da narrativa é em um jovem escritor não nomeado vivido por Filippo Scotti (de A Mão de Deus) que, em 1940, apaixona-se perdidamente por uma jovem enfermeira do exército americano que pede informações na barbearia onde ele está. Algum tempo depois, a vida leva o escritor a morar nos EUA exatamente ao lado da casa da mãe da jovem em questão que, como ele logo descobre, desaparecera durante a guerra. Esse é o catalisador para a jornada do protagonista de volta a seu país natal atrás de seu amor, o que o leva a envolver-se com um serial killer que fora preso e seu estranho irmão. 

Em síntese, o roteiro da dupla de Avatis procura falar sobre a profunda solidão do jovem escritor, solidão essa que leva ao seu amor à primeira vista, à visita aos EUA interiorano que ele mesmo diz que não são os EUA que ele esperava e seu retorno à Itália. É uma proposta inegavelmente interessante, mas que não tem substância suficiente para fazer frente à arte visual do longa e, principalmente, à sua duração. 

Há uma tentativa válida de se explorar a mente problemática do protagonista com imagens oníricas e até surreais, tudo para criar um mistério que parece reger a obra, mas que tem a mesma sutileza que o proverbial elefante em uma loja de louças. Além disso, há intermináveis digressões que levam a trama no caminho do julgamento do serial killer que não ajudam em nada na trama central, a não ser, talvez, justificar a minutagem avantajada para o pouco material que havia para ser levado à telona. 

A atuação de Scotti, por seu turno, ajuda a manter a costura narrativa e a manter acesa a chama do interesse do espectador pelo destino demasiadamente telegrafado de seu personagem. E Pupi Avati muito claramente reconhece isso já cedo no filme, ao deixar a câmera explorar o ator, dando-lhe tempo para construir um personagem convincente que só começa a perder força na medida em que o roteiro também perde, já que o ator é bom, mas ainda é jovem demais para fazer milagres. 

O Jardim Americano é um esforço valoroso do quase nonagenário cineasta e merece ser conferido mesmo com seus diversos problemas, nem que seja por reconhecimento por uma carreira que poucos conseguem ter na Sétima Arte. Fica a sugestão, portanto, para que seus filmes clássicos entrem nas listas dos cinéfilos de plantão!

O Quintal Americano (L’Orto Americano – Itália, 2024)
Diretor: Pupi Avati
Roteiro: Pupi Avati, Tommaso Avati
Elenco: Filippo Scotti, Rita Tushingham, Armando De Ceccon, Roberto De Francesco, Chiara Caselli, Romano Reggiani, Morena Gentile, Massimo Bonetti, Mildred Gustafsson, Robert Madison, Nicola Nocella, Patrizio Pelizzi, Cesare Cremonini, Andrea Roncato, Claudio Botosso, Alessia Fabiani
Duração: 107 min.

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