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Crítica | Infestação (Vermines)

A dona aranha está diferente.

por Felipe Oliveira
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De tubarão a anaconda, o cinema já passou por várias facetas com o terror e comédia apresentando animais assassinos. Mesmo que algumas produções tenham atingido um nível escrachado — como Sharknado —, ainda há as que conseguiram sobressair por propor uma abordagem diferente do usual. Desde o clássico Tubarão, de Steven Spielberg, são poucos os exemplos que investiram numa premissa psicológica além do horror sangrento dos predadores, o que pode ser citado Medo Profundo e sua sequência. Mas se até os crocodilos ganharam sua versão menos assassina para as telas, é a vez das aranhas receberem um tratamento além da ótica da comédia. Na verdade, o cineasta estreante francês, Sébastien Vanicek investe numa abordagem quase inédita ao mirar numa experiência aracnofóbica tensa com traços dramáticos, mas esquece de manter a verossimilhança desse universo. 

Desde sua estreia no Festival Fest 2023, Vermines chamou atenção por utilizar aranhas reais combinadas com efeitos práticos e pouca computação gráfica na trama que apresenta um complexo de apartamentos sendo infestados por aranhas venenosas. Ter esse hype colocava o debute de Vanicek como algo ambicioso uma vez que prometia ser mais realista a uma proposta que sempre teve o trash ao seu favor, ou seja, para funcionar, o filme precisaria ser, no mínimo, tão marcante quanto Aracnofobia. Talvez, o cineasta francês conseguiu tornar sua premissa envolvente ao focar na introdução dos personagens e na ambientação. Além de inserir um drama entre irmãos, é interessante que Vanicek contextualiza o cenário com a comunidade de baixa renda da França — nisso, tenta forçar uma crítica social ao trabalho policial, mas que termina não tendo sentido.

A fim de seguir um caminho ambicioso, Vanicek foi adotando tropos do gênero e inserindo nesse terror crescente sobre uma infestação de aranhas. E realmente estava promissor quando mexia com movimentos dinâmicos de câmeras e enquadramentos fechados, trazendo, assim, uma abordagem claustrofóbica e inquietante que ia se instalando aos poucos. Mas entre fazer um filme frenético que se passa ao longo de dois dias e evitar o tom trash, o cineasta começava a pesar a mão no que poderia ser um eficiente thriller de sobrevivência envolvendo aranhas. O momento que mais pontuou o ápice de Infested foi na sequência em que o grupo de amigos tenta passar por um corredor coberto de aranhas antes que o temporizador do interruptor de luz termine. A aposta era tensa ao fazer imaginar as situações e cenários com que os personagens ainda poderiam lidar, mas assim como as aranhas reproduziam e cresciam rapidamente, a experiência ia perdendo seu tom.

De repente, a sacada em investir em um ritmo urgente, começava a querer ser mais dramático como se tivesse um elo emocional entre os personagens que ia além da sobrevivência. Em seguida, o que parecia uma interminável corrida para conseguirem sair do prédio em que moravam, o filme passava a assumir um tom de produção apocalíptica com um desfecho anticlímax misturando várias resoluções quando só estavam no estacionamento do edifício. Depois de tanto evitar o caminho do trash, Infested virava uma montanha de decisões de proporções exageradas e sem sentido por não saber como terminar uma simples premissa sobre infestação de aranhas. Vanicek estava indo muito bem ao usar as invertebradas no seu tamanho real, o que as fazia surgir em vários cantos, construindo, assim, o clima de terror pretendido. Porém, o cineasta tentou abraçar mais da crítica social que tinha deixado na entre linhas, o que foi comprometendo a abordagem do filme que queria fazer.

Ao menos, Malditas Aranhas, clássico que mais se aproximou de Aracnofobia, tinha o absurdo ao seu favor, o que facilmente fez o filme ser um trash irresistível, enquanto aqui, Infestação quis inserir uma atmosfera claustrofóbica para o subgênero, mas ao mesmo tempo, esquecia de manter sua trama pseudorealista com os pés no chão. Ao não saber como terminar essa tentativa de propor um novo prisma para uma categoria pouco revisitada no horror, o roteiro de Vanicek e Florent Bernard dedicava seu impacto final a um confronto entre polícia, aranhas gigantes e sobreviventes.

Infestação (Infested/Vermines – França, 2023)
Direção: Sébastien Vanicek
Roteiro: Sébastien Vanicek, Florent Bernard
Elenco: Théo Christine, Sofia Lesaffre, Jérôme Niel, Lisa Nyarko, Fennegan Oldfield, Marie-Philomène Nga
Duração: 105 min.

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