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Crítica | Stopmotion

Quem controla a marionetista?

por Ritter Fan
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Stop-motion é minha técnica de animação favorita. Falou em stop-motion, eu assisto, não interessando mais nada, nem se for um filme pornográfico produzido dessa forma (ei, boa ideia, hein?). Portanto, foi apenas com base no título do filme sob análise, que eu o incluí em minha lista de “a assistir” da edição de 2024 do Festival do Rio. Não tinha ideia de mais nada sobre o longa a não ser a esperança de que talvez ele se relacionasse de alguma forma com a referida técnica. E fiquei feliz em constatar, mesmo que, no final das contas, o gênero em si do filme não seja o meu preferido – só para usar um eufemismo – que sim, Stopmotion, que é live-action, não animação ou pelo menos não apenas animação, tem stop-motion como sua base narrativa.

O longa britânico de horror de Robert Morgan lida com obsessão profunda de uma maneira muito interessante – ainda que não original, eu sei – ao quebrar a barreira entre realidade e ficção, usando o stop-motion tanto como gatilho quanto como materialização do elemento ilusório da película, com Aisling Franciosi como Ella Blake, uma jovem que é usada por sua mãe Suzanne (Stella Gonet), uma famosa técnica em stop-motion, como suas mãos, já que a artrite limitara seus movimentos. Trabalhando em ambiente escuro, claustrofóbico e por horas a fio sob o olhar detalhista e tirânico da mãe, Ella não tem espaço, nem tempo sequer para respirar ou para levantar os olhos e dar sua opinião sobre a animação que está ajudando a criar e seu desejo de fazer um filme que possa chamar de seu. Mas é quando Suzanne tem um AVC e fica em coma no hospital que o longa realmente começa.

A partir desse ponto na narrativa, Ella passa a usufruir de sua liberdade, transferindo o estúdio da casa de sua mãe para uma apartamento que o namorado empresta para ela em um prédio semiabandonado e, sob influência de uma enxerida menina que surge por lá, decide não continuar o trabalho da mãe, mas sim criar o seu próprio sobre uma menina que foge de uma criatura misteriosa em uma floresta. Não demora, porém, e o hábito arraigado de ser o “instrumento” de alguém começa a afetar Ella que, apesar de ser tecnicamente excelente na construção de cenários e modelos, além da movimentação dos personagens e a respectiva captura em câmera, não consegue deixar sua imaginação voar. É a sinistra menininha vivida por Caoilinn Springall que toma o lugar da mãe de Ella e passa a controlar a jovem atormentada, inclusive dando instruções cada vez mais macabras sobre o material a ser utilizado para dar vida aos personagens, primeiro cera funerária, depois um bife cru e, mais tarde, a carne de uma raposa morta.

E, com isso, o stop-motion das criaturas que nascem a partir da colaboração de Ella e da menina passa a ser usado com mais força no longa, em um trabalho excelente (mas também asqueroso) de animação e de design tanto visual quanto sonoro, já que a edição e montagem de som, além da trilha sonora, são elementos fundamentais para amplificar o horror da tela. Mas como a criatura sem nome que corre atrás de uma menina também sem nome em uma floresta – que, mais do que obviamente, é um reflexo da junção da ambientação física de onde Ella está com seu distúrbio psicológico -, o filme torna-se uma obra de uma nota só. Sim, há um constante crescendo na tensão e no que Ella faz para conseguir o que (acha) que quer, mas tudo caminha em apenas uma direção, sem qualquer tentativa de sofisticar a narrativa e de examinar com mais profundidade a dependência de Ella por alguém que literalmente a controle. Além disso, tudo caminha para um desfecho que coloca a narrativa em uma sinuca de bico em termos de história que, quase que inevitavelmente, frustra as possibilidades ao trocar o psicológico pelo puramente nojento, resvalando brevemente, mas sem jamais mergulhar de verdade, no horror corporal.

Stopmotion nasceu de uma boa ideia provavelmente para um curta-metragem, mas foi executado como um longa que não tem a energia para a duração que tem (e olha que estamos falando só de pouco mais de 90 minutos). Quando o filme “fala” de stop-motion, ele parece estar em seu habitat natural, acrescendo à natural estranheza que a técnica carrega em seu âmago, mas, quando tenta trabalhar os aspectos psicológicos da protagonista, ele se perde não exatamente em digressões, pois o filme é objetivo e direto, mas em fazer o lugar-comum de obras do gênero ser comum demais. Seu eu veria Stopmotion 2? Ora, tem stop-motion, não tem?

Stopmotion (Idem – Reino Unido, 2023)
Direção: Robert Morgan
Roteiro: Robin King, Robert Morgan
Elenco: Aisling Franciosi, Stella Gonet, Tom York, Therica Wilson-Read, , James Swanton, Joshua J. Parker, Jaz Hutchins, Bridgitta Roy
Duração: 93 min.

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