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Crítica | É Apenas um Adeus

A dificuldade da separação.

por Luiz Santiago
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Novo documentário de Guillaume Brac, É Apenas Um Adeus (2024) acompanha um grupo de estudantes em um internato no sudeste da França, filmando parte de seu cotidiano enquanto se preparam para a formatura e a inevitável separação, após um longo período de tempo juntos. Este é o primeiro longa-metragem do diretor depois do excelente Embarque (2020), e não abandona os elementos recorrentes em identidade temática de seus filmes, como o trabalho com pessoas jovens e os dilemas do cotidiano tratados com muita seriedade, mesmo que sejam vistos de maneira fria, bastante banais. Em pouco mais de uma hora de duração, vemos como as conversas e os sonhos desses amigos se unem e se separam, mostrando um recorte muito específico de tensão e incertezas para eles, uma perspectiva de abordagem que é interessante, mas que não deixa claro o que quer mostrar para além do óbvio. 

O diretor divide sua narrativa a partir dos olhares de Aurore, Nours, Jeanne e Diane, que assumem a parte mais quadrada do filme, com entrevistas convencionais e formação de parte da linha narrativa, que, embora nunca fique muito clara, pelo menos não se desvia da intenção geral: mostrar um pouco quem são esses jovens que estão se formando e entrando para o mundo como cidadãos tecnicamente prontos para transformar a realidade. Ou algo assim. Em alguma medida, o espectador entende que existe ali a ansiedade que marca a passagem para a vida adulta, e as lutas internas e externas de cada um, mas o filme não sai do lugar para dar o suporte necessário a essas indicações. O mesmo acontece em relação às amizades. A câmera favorece o abraço coletivo, mas a maneira como Brac dirige o grupo de alunos, termina por torná-los uma massa meio disforme, com pitadas de personalidade que somem a cada novo corte, como se eles fossem tão etéreos quanto suas conversas.  

O conflito principal da película está anunciado no título, portanto, o mínimo que o espectador espera é que a construção dos momentos finais dessa partilha faça jus à despedida, o que nem de perto acontece. Pode até ser uma questão cultural, mas eu já vi alunos bem menores, em documentários de uma cultura um tanto mais “fria” que a francesa, demonstrando muito mais emoções num amplo leque de intensidades — e quando escrevo isso, tenho o maravilhoso documentário alemão Sr. Bachmann e Seus Alunos (2021) em mente. Brac se afastou de seu objeto de estudo do jeito mais negativo possível, deixando que uma imensa porta aberta para a saudade fosse aos poucos se tornando chata e incômoda, o que é medonho de se dizer de um filme com pouco mais de uma hora. 

O que pretende o diretor ao acompanhar um grupo de jovens amigos completando um importante ciclo de suas vidas? Por um lado, permitir que esses meninos e meninas se comportem como os de sua idade e classe social (isso é muito importante para entender a costura do filme!) já é um ponto positivo de É Apenas Um Adeus, mas esta deveria ser apenas uma das colunas da fita. Como não existe nenhum outro componente chamativo aqui, nem naquilo que está sendo mostrado, nem no aparato técnico utilizado para capturar essas ações, encerramos a projeção com um sentimento de vazio, de uma promessa alta que arranhou a superfície de sua temática e abandonou tudo antes de entregar o que foi combinado. Iniciamos e terminamos o documentário sem conhecer as pessoas e sem saber, de verdade, porque estão ali. Ao menos para o público, este aqui não vai deixar saudade.   

É Apenas um Adeus (So Long / Ce n’est qu’un au revoir) — França, 2024
Direção: Guillaume Brac
Roteiro: Guillaume Brac
Duração: 66 min.

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