A região de Lagoa Santa, em Minas Gerais, possui uma riqueza histórica inestimável para a arqueologia e a paleontologia brasileira. Em seus planaltos cheios de grutas, preservaram-se muitos resquícios de povoamentos indígenas e da megafauna nacional, datados de até 13.000 a.C., o que é uma datação significativa quando falamos em povoamentos primitivos na parte sul das Américas. Em 1940, Humberto Mauro dirigiu o curta-metragem educativo Lagoa Santa, para o Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE), onde trabalhava. Aqui, o cineasta explora o cenário de descobertas paleontológicas que revolucionaram a compreensão do passado primitivo brasileiro, focando nas pesquisas do dinamarquês Peter Lund, um pioneiro nas escavações da região, entre 1835 e 1844, com destaque para os achados da Gruta da Lapinha, que hoje integra o Parque Estadual do Sumidouro (MG).
O curta traça um breve panorama da pré-história de Lagoa Santa, com o roteiro comentando muito superficialmente os mistérios das cavernas calcárias, os hábitos humanos e seus fósseis. A câmera de Humberto Mauro (que tem um cuidado todo especial ao filmar paisagens mineiras), é um dos pontos fortes do filme, com belos enquadramentos da paisagem e das grutas, o palco das descobertas de Lund. As cenas na entrada da caverna são impressionantes, e o diretor certamente teve muita dificuldade de capturá-las, com as câmeras disponíveis na época. O resultado, porém, é de uma beleza ímpar.
Infelizmente, a narrativa do filme é dividida entre a biografia de Lund e a arqueologia de Lagoa Santa, o que acaba por enfraquecer o conjunto. A vida de Lund, que abandonou a Europa para se dedicar à pesquisa no Brasil, é rica em detalhes que poderiam render um documentário à parte. O filme, contudo, apenas tangencia a trajetória do naturalista, sem aprofundar suas motivações, seus métodos de trabalho e as dificuldades que enfrentou em sua empreitada. Uma lista igualmente frustrante de ausências pode se atribuir à abordagem feita à cidade-tema da película, ou seja, quem deveria ter a maior atenção do diretor. Isso posto, não dá para negar que Lagoa Santa cumpre um interessante papel de apresentar ao público parte das descobertas de Lund e das imagens dos fósseis encontrados nos sítios em Minas Gerais, servindo como um importante registro da pré-história brasileira. Mas há muita coisa mantida na superfície e carente de maiores informações.
Em tempo: a canção que acompanha o filme, segundo a tradição colhida pelo Dr. Nazareno Lessa de Lagoa Santa, era a música predileta do Dr. Peter Lund.
Lagoa Santa (Brasil, 1940)
Direção: Humberto Mauro
Roteiro: Humberto Mauro
Duração: 12 min.