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Crítica | Oddity – Objetos Obscuros

Desvendando o mistério.

por Felipe Oliveira
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Embora a sua reviravolta possa ser prevista, Oddity – Objetos Obscuros passa a constante sensação de incômodo, como se algo estivesse à espreita aguardando o momento oportuno. A maneira como o filme inicia diz muito sobre como Damian McCarthy trabalha essa história que transita entre um thriller dramático, um terror sobrenatural e por fim, um conto gótico com ares do folclore irlandês. Em comparação a Caveat, seu filme de estreia, aqui McCarthy apresenta uma confiança notável na direção, como se estivesse expandido o estilo e características do seu primeiro longa para um resultado sólido que faz de Oddity uma grata surpresa. Afinal, possui um conceito que está subvertendo os tropos do gênero, e abertura é eficaz ao remeter a um home invasion ao mesmo tempo que deixa aberta a possibilidade de explorar um caminho sobrenatural, enquanto a cena acena para uma situação familiar no horror, porém, desde esse momento, o telespectador é provocado quanto ao que McCarthy está propondo.

Parte da recepção de Alerta vinha das discussões geradas por um jumpscare, e aqui fica claro que o diretor e roteirista irlandês quer apresentar um cinema autoral e criativo através de sua abordagem do horror — o que faz lembrar de James Wan que, mesmo seguindo uma base genérica para o gênero, foi se consolidando pela forma que disseca suas histórias. Assim, McCarthy concentra Oddity em uma ambientação isolada onde a trama gira em torno, mas sempre adicionando um elemento que se tornará recurso na narrativa, a exemplos da câmera fotográfica e da trilha sonora como um efeito sensorial para o sobrenatural. Por se tratar de um filme independente, isso permite o cineasta fugir das convenções estruturais de Hollywood, e mesmo que a premissa seja um conto de vingança melodramático, isso é disfarçado pelo desconforto transmitido por Darcy (Carolyn Btacken), personagem que carrega um tom enigmático. Um olhar mais atento, é notável como McCarthy utiliza de maneira inversa vários tropos do gênero, evitando cair na subversão, mas seguindo direções opostas ao que a trama sugere. Até porque ele está costurando um universo com regras próprias, espalhando artifícios e peças que servirão ao terror, porém, a grande sacada é jogar com o velho suspense: fazer o telespectador se perguntar quando o óbvio vai acontecer.

Nesse sentido, mesmo a audiência esperando o tradicional jumpscare – ainda mais com Caveat como referência — McCarthy dribla as expectativas. Há um suspense para como o boneco de madeira vai ser mostrado, mas o cineasta nunca segue a lógica aparente, mas ainda assim, deixa o público acreditar. Mais uma vez, McCarthy lembra Wan com o grande homem de madeira com a boca aberta servindo para sinalizar o sobrenatural assim como Annabelle era só um canal. O mais interessante é na maneira que trabalha os sustos, fazendo disso mais pelo entretenimento para o telespectador do que para reunir doses de experiências sobrenaturais para os personagens. Os momentos entre Darcy e Yana ilustram muito bem isso, já que a ambientação é a mesma, e o que McCarthy faz é explorar o espaço com movimentações de câmera, o que faz o susto não ser pela função do justo, e sim pela maneira que o cineasta aborda isso em seu filme.

Enquanto a audiência esperava encontrar um terror tradicional apoiado na figura de madeira, McCarthy mirava numa releitura do mito do Golem apenas como um elemento nessa espécie de conto sobre carma sobrenatural. O fato do filme terminar com uma gag se faz reflexo do tema de ciência e razão versus superstição, e é graças a essa temática — ainda que pouco aprofundada — que Oddity malha o paranormal de forma cética para os personagens e mais consciente a favor do público, que torce por esse melodrama sobrenatural. Por mais que a resolução do mistério seja óbvia, McCarthy trouxe aqui um longa que transita entre a familiaridade do terror e seus subgêneros, mas ainda mantém a essência de criar um longa atmosférico pela maneira que executa. Há o elemento sobrenatural, mas que nunca surge como se imagina, assim como o melodrama não sofre com maniqueísmos, servindo mais pelo suspense e tensão do que entrega um desfecho otimista que a audiência pede.

Um bom momento que exemplifica como os sustos não vão surgir com a lógica esperada, é quando a Yana relata um de seus episódios paranormais e a cena em si deixa tudo entregue, sem preparo, sem surpresas, totalmente anticlímax. A execução de McCarthy é tão sedutora quanto atrair o público para esse conto que o jumpscare se faz genuíno até quando é cogitado. Em suma, Oddity é um filme familiar tão bem orquestrado que termina como um clássico de terror, ao menos para quem quer um susto para ser compensado.

Oddity – Objetos Obscuros (Oddity- Irlanda, 2024)
Direção: Damian McCarthy
Roteiro: Damian McCarthy
Elenco: Carolyn Bracken, Gwilym Lee, Caroline Menton, Tadhg Murphy, Steve Hall, Johnny French
Duração: 98 min.

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