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Crítica | Scooby-Doo e A Maldição de Frankenstein

Animação diverte, mas não emula adequadamente os pontos mais cruciais do ponto de partida literário.

por Leonardo Campos
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Mesmo que sejam conhecidos por conta de sua enorme popularidade, acredito ser necessário fazer um breve preâmbulo sobre a animação Scooby-Doo, para adentrar na análise da versão em questão, associada ao clássico de Mary Shelley. Para quem não sabe, essa é uma das franquias de animação mais duradouras e icônicas da cultura pop, criada pela Hanna-Barbera em 1969. A narrativa seriada gira em torno de um grupo de jovens amantes de mistério que, acompanhados por um cão falante, tentam resolver casos que envolvem fenômenos sobrenaturais. O enredo básico geralmente começa com a gangue, que inclui Fred, Daphne, Velma, Salsicha e o próprio Scooby-Doo, recebendo um convite para visitar um lugar misterioso. Pode ser um castelo assombrado, uma ilha deserta ou uma feira de diversões. Ao passo que explorações e investigações se desenrolam, os personagens encontram diversos obstáculos e, frequentemente, aparições que nos remetem ao gótico, tais como fantasmas ou monstros.

No entanto, após as investigações de cada episódio, a identidade desses monstros normalmente se revela como uma pessoa comum por trás da máscara, que, em geral, está tentando realizar algum tipo de plano criminoso mirabolante. O clímax da narrativa ocorre com a captura do “monstro”, seguido de uma exposição da verdade, onde a gangue explica a solução do mistério. Scooby-Doo, o grande protagonista canino da série, é um dogue alemão medroso e inteligente que adora comida. Sua natureza engraçada e suas reações hilariantes em situações de medo oferecem um alívio cômico constante e tornam-no imediatamente reconhecível e amado. Salsicha é o melhor amigo humano de Scooby. Jovem bastante medroso que, como seu amigo peludo, também gosta muito de comer. Sua personalidade relaxada e desinteressada é uma contraposição dos demais personagens.

Fred Jones é o líder da trupe, conhecido por sua bravura e habilidades de planejamento. Ele frequentemente tem ideias brilhantes para capturar os vilões, entretanto, sua insistência em ser o herói pode resultar em situações que requerem a ajuda de seus amigos. Daphne Blake é a “bela” do grupo. Embora inicialmente pareça desajeitada, ela ao longo da história da animação demonstra ser bastante capaz e, muitas vezes, salva seus amigos em situações complicadas. Por último, mas não menos importante, Velma Dinkley é a inteligente do grupo. Com sua sagacidade e habilidades dedutivas impressionantes, Velma frequentemente faz a pesquisa necessária para resolver os mistérios que a gangue enfrenta. Seu famoso bordão “Eu vou precisar dos meus óculos” é um símbolo de sua busca incessante pela verdade. Por meio de suas narrativas simples que giram em torno de mistérios e identidades colapsadas, Scooby-Doo se tornou um clássico, alcançando gerações diversas. Dessa vez, eles enfrentam uma maldição que se relaciona vagamente com elementos do romance de Mary Shelley, exposto em seu título.

O foco da tal maldição do título é Velma, o “cérebro” da turma. E, para entender melhor a narrativa que não é das melhores no formato expandido, com base no histórico das produções envolvendo esse universo, precisamos nos perguntar: quem é essa garota? Desde sua primeira aparição em 1969, Velma tem sido uma figura central nas aventuras do grupo de jovens detetives. Sua representação é mais focada no estereótipo da inteligência, um contraponto com Daphne, mais interessada em segredos de beleza e outras coisas que, digamos, são tratadas como “superficiais”. Geralmente, a personagem se posiciona como a responsável por desvendar os mistérios e resolver os enigmas, frequentemente em destaque por seu raciocínio lógico e habilidade analítica. Suas soluções são baseadas em observações meticulosas e deduções estratégicas, o que a diferencia dos outros membros da equipe. Enquanto Fred é o líder carismático e Daphne é a bela, Velma traz um nível de seriedade e intelecto que é essencial para o desenvolvimento das histórias. Sua famosa frase “Eu tenho uma ideia!” é uma afirmação do seu papel central na resolução dos problemas que o grupo enfrenta.

A aparência de Velma também é emblemática. Com seus cabelos castanho-avermelhados, óculos grandes e suéter laranja, ela se tornou um ícone cultural. Sua escolha de vestuário pode ser vista como uma rejeição ao ideal clássico de beleza feminina que predomina na animação e no entretenimento em geral. Velma representa a beleza que reside na inteligência e na autenticidade, em vez de se conformar com padrões superficiais. Isso ressoa especialmente entre jovens mulheres que podem se sentir pressionadas a atender a expectativas irreais de beleza. Por outro lado, Velma não deixa de ser alvo de algumas críticas. Em algumas temporadas reboots e versões fílmicas, a sua caracterização pode se voltar excessivamente estereotipada, como quando sua inteligência é ofuscada por outros arcos narrativos ou quando seu amor pelo mistério é transformado em uma obsessão que desvia sua personalidade. No entanto, esses desenvolvimentos também podem ser vistos como uma oportunidade de aprofundar sua personagem, mostrando que até as figuras mais inteligentes podem ter falhas e vulnerabilidades.

Aqui, ela é vítima de um engodo, tal como toda a sua equipe. Da mesma maneira que Victor Frankenstein concebe o seu “monstro” com partes de corpos diversos, a personagem recebe uma mensagem misteriosa que a associa com ancestrais do castelo de Frankenstein e com a escritora Mary Shelley. Os vilões, descobertos no final, como de hábito na animação, formam um tecido criminoso extenso: são vários antagonistas de situações anteriores, figuras ficcionais que se conheceram na internet e decidiram se vingar da turma, em especial, de Velma. Há momentos engraçados, uma rápida conexão com o romance gótico da escritora britânica, mas talvez o título A Maldição de Frankenstein não seja o ideal, pois nos deixa na expectativa de maior aproximação com emblemática história de Shelley. Vigésimo segundo filme da série lançada diretamente no mercado de vídeo, a produção traz em seus 74 minutos, gráficos renovados, com direção de Paul McEvoy e texto de Jim Krieg. É divertido, mas menos empolgantes que outros momentos de mistério da trupe. Diverte, mas não emula, suficientemente, elementos de Frankenstein.

Scooby-Doo e A Maldição de Frankenstein (Scooby-Doo Frankencreepy/EUA, 2014) 
Direção: Paul McEvoy
Roteiro: James Krieg, Joseph Barbera, William Hanna
Elenco: Mindy Cohn, Grey Griffin, Frank Welker, Matthew Lillard, Diedrich Bader, Dee Bradley Baker, Eric Bauza
Duração: 74 min

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