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Crítica | Frankenstein (2010)

Uma tradução cheia de potencial, mas prejudicada pelo desenvolvimento irregular.

por Leonardo Campos
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A história de Frankenstein, publicada no preâmbulo do século XIX por Mary Shelley, é largamente conhecida e um dos pontos de partida literários mais traduzidos para outras linguagens, e especial, na era da reprodutibilidade técnica. Tímido em seu reconhecimento inicial, o romance ganhou maiores projeções depois de suas encenações em palcos teatrais, para posteriormente, ser desejado por realizadores cinematográficos conscientes do potencial da história para atrair as mais variadas plateias. Essa versão, de 2010, é mais uma das tentativas de traduzir o enredo para o contexto contemporâneo de avanços científicos que demonstra a atualidade do livro, mas como a sua maioria, falha vertiginosamente em seus aspectos estéticos e dramáticos, mesmo que as discussões estabelecidas pelo roteiro de Sean Tretta, também na função de diretor, sejam muito interessantes e pertinentes. Ao longo de seus 90 minutos, a base do romance é facilmente reconhecida, com alterações ousadas, mas execução vulgar e desempenho dramático do elenco muito abaixo do esperado. Tudo isso me leva para o questionamento: quando teremos realmente uma tradução espetacular de Frankenstein para as telas do cinema?

Na trama, acompanhamos a jornada de Elizabeth Barnes (Tiffany Shepis). Ela é uma respeitada cientista no ramo das pesquisas em torno das células-tronco. O filme, antes de apresenta-la, começa com uma abordagem ao estilo slasher: uma mulher que ainda não sabemos quem é corre desesperadamente pelos espaços claustrofóbicos de um instituto, deparando-se com muito sangue e vários corpos pelo caminho. Os seus gritos, acompanhados da pesada trilha sonora de Lawrence Shragge, são silenciados quando ela dá de encontro com o monstro da narrativa, aquele que nós presumimos, ser a criatura gerada erroneamente em laboratório. Há um corte para alguns anos depois. Uma dupla de investigadores decide entrevistar a cientista, agora numa cadeira de rodas, também com uma máscara, para esconder o seu rosto deformado pela situação que acompanharemos em flashback. Ao passo que Barnes inicia a sua narração, somos informados sobre o que aconteceu para chegarmos até a histérica cena de abertura.

Convidada por Marcus (Louis Mandylor), para contribuir numa pesquisa envolvendo a sua área de atuação, a biologia molecular, Barnes assina documentos que asseguram aos envolvidos o caráter ultrassecreto do empreendimento. Depois de adentrar, ela não poderá sair do local até o processo ser concluído. Com excesso de subtramas que causam muita confusão no texto dramático, há o desenvolvimento de um soro regenerativo que pode trazer de volta, aqueles que já seguiram o rumo natural da vida: o encontro com a morte. Em seu relato, ela revela que o local misterioso tinha relações complexas de tráficos de seres humanos, pesquisas sem autorização do governo e cientistas ambiciosos, interessados na sensação de poder de uma divindade, também transformou um determinado personagem, David Boyle (Scott Anthony Leet), numa criatura feroz e incontrolável, mais para Michael Myers e Jason Vorhees e distante do imaginário em torno de Boris Karloff e sua icônica imagem monstruosa, conhecida pela lentidão.

Assim, ao longo de Frankenstein, acompanhamos os erros em espiral, estabelecidos por todos os integrantes do projeto financiado por Dr. Walton (Ed Larter), um dos tantos personagens que referenciam nomes marcantes do romance de Mary Shelley. Muito sangue, violência e uma trilha de corpos cada vez maior, amontoada diante de Elizabeth Barnes, a única fonte para contar ao mundo, as atrocidades do experimento que se perde e causa transtorno para todos os envolvidos. Nós, espectadores, acompanhados tudo por meio da direção de fotografia acinzentada de Eva Cohen, razoável para um filme com potencial, mas frágil não exatamente pelo roteiro, que começa bem, mas se perde ao passo que desenvolve, mas também por seu elenco pouco expressivo. Há alguns diálogos interessantes, em especial, quando Dr. Walton, em sua sala, traz uma discussão sobre o mito de Prometeu e versa sobre metáforas sobre sabedoria, com um quadro alusivo atrás, uma pintura que relaciona o que está sendo dito ao que está sendo contemplado. Há outras passagens assim, mas não são suficientes, afinal, não adianta citar se o realizador não consegue manter o nível daquilo que menciona no ritmo e na estética de sua obra.

Frankenstein (The Prometheus Projetc/EUA, 2010) 
Direção: Sean Tretta
Roteiro: Sean Tretta (inspirado no romance de Mary Shelley)
Elenco: Louis Mandylor, Scott Anthony Leet, Tiffany Shepis, Jonathan Northover, Sebastian Kunnappilly, Noah Todd, Kristina Wayborn
Duração: 87 min

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