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Crítica | Frankenstein (1984)

Uma versão televisiva muito irregular do clássico de Mary Shelley.

por Leonardo Campos
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Atualmente, a estrutura de filmes para cinema e suas diferenças para narrativas televisivas não é tão grande, pois a televisão aumentou muito o seu grau de qualidade estética. Mas, isso é algo relativamente recente. Nos anos 1970, 1980 e 1990, a comparação entre ambos os formatos era algo gritante. E isso é bastante perceptível nessa versão de Frankenstein, lançada em 1984, sob a direção de James Ormerod, com roteiro de Victor Gialanella. Após os primeiros minutos de exibição, achei que tivesse confundido o que tinha acabado de colocar para assistir. Teria mexido involuntariamente no controle da TV e mudado para algum canal aberto, com transmissão de novelas ao estilo daquelas protagonizadas pela musa Thalia? Não. Na verdade, estava mesmo diante dessa tradução do romance de Mary Shelley, em telefilme, uma narrativa que emula todos os pontos clássicos que o cinema geralmente aborda, tendo o clássico gótico como ponto de partida, mas aqui, desenvolvidos por desempenhos dramáticos relativamente constrangedores. E não é apenas isso. A fotografia, os cortes e outros aspectos estéticos ao longo de seus 90 minutos ficam muito abaixo do razoável.

Para quem não sabe, a forma de exibição é uma das diferenças mais marcantes entre telefilmes e filmes para cinema. Os filmes para cinema são projetados para serem exibidos em grandes telas nas salas de cinema, onde a experiência visual e sonora é intensificada por equipamentos de última geração. Por outro lado, os telefilmes são feitos para serem transmitidos na televisão. Isso pode ocorrer em canais a cabo, em redes abertas ou por meio de plataformas de streaming, permitindo que o público assista ao conteúdo em casa ou em dispositivos móveis. A exibição em cinema geralmente implica uma maior mobilização de público, criando uma atmosfera coletiva em que as pessoas compartilham a experiência. Já os telefilmes permitem um acesso mais imediato e pessoal, permitindo ao espectador assistir no seu próprio ritmo e em um ambiente mais familiar.

Filmes para cinema costumam ter orçamentos mais altos, possibilitando a contratações de grandes elencos, diretores renomados e a utilização de efeitos especiais sofisticados. Além disso, a produção de um filme de cinema geralmente se estende por períodos mais longos, envolvendo um planejamento minucioso e uma execução elaborada em várias localizações. Em contrapartida, os telefilmes, embora possam ter orçamentos variados, geralmente são produzidos com custos mais baixos. Isso se deve, em grande parte, ao fato de que o retorno financeiro esperado é menor do que o de um filme exibido em cinema. Os telefilmes muitas vezes se concentram em narrativas mais simples e diretas, podendo ser produzidos em prazos mais curtos e em ambientes menos onerosos. A qualidade pode variar, mas muitos telefilmes também conseguem apresentar roteiros interessantes e atuações convincentes, mesmo com recursos limitados. Não é o que acontece com essa versão de Frankenstein, produção que apresenta uma base narrativa conhecida.

A criatura nessa tradução sai da linha Boris Karloff e se aproxima muito mais do Corcunda de Notre Dame. Lembra muito Charles Ogle no filme de 1910 também. Dentre as principais passagens, a produção aposta na cena do laboratório, na ambição de Victor Frankenstein, no episódio do homem cego que recepciona o monstro com muito afeto, em contraposição ao que a sociedade faz quando se depara com a criatura erguida por meios não divinos. Monótono, o design de produção amarelado de Jeremy Bear impõe uma atmosfera com perspectiva medieval para a trama que conta com a condução sonora de Alan Parker. Diante dos seus defeitos, Frankenstein ao menos ousa em mudar algumas coisas, se dissociando do clássico da Universal, numa busca de autenticidade que se perde pela sua falta de qualidade no quesito dramático e estético. Justine, diferentemente do que ocorre na maioria das traduções, cai de um penhasco, após ser perseguida pelo monstro. A passagem com o ancião cego da cabana também se estabelece diferente do que conhecemos. É um exercício interessante de diferenciação. Mas que não consegue se sustentar como entretenimento diante de tanta monotonia e falta de charme.

Em linhas gerais, uma tradução televisiva morna. E decepcionante.

Frankenstein (Reino Unido/EUA, 1984) 
Direção: James Ormerod
Roteiro: Victor Gialanella, Mary Shelley
Elenco: David Arner, Carrie Fisher, Robert Powell, John Gielgud, Susan Wooldridge, Terence Alexander, Michael Cochrane
Duração: 79 min.

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