Uma das coisas que costumavam me assustar muito em obras de terror quando eu era criança era o quão aleatória poderia ser a violência dos monstros, fantasmas e assassinos que habitam o gênero. Existe algo enervante na ideia de que a sua vida pode encontrar um fim violento não por uma cadeia de causa e consequência, mas por puro acaso. Kristy, thriller de horror lançado em 2014, tenta tratar justamente do terror dessa aleatoriedade. Na trama, Justine (Haley Bennett) é uma jovem estudante, que durante o feriado de ação de graças acaba ficando sozinha no campus de sua universidade. Mas quando um grupo de assassinos liderados pela misteriosa Violet (Ashley Greene) invade o campus decidida a matar Justine, e chamando-a insistentemente pelo nome de Kristy, a moça deve encontrar forças para sobreviver à noite, antes que ela se torne mais uma Kristy na longa lista de vítimas de Violet e sua quadrilha.
O roteiro de Kristy, escrito por Anthony Jaswinski, é extremamente simples. Uma garota é escolhida aleatoriamente por um grupo de assassinos para participar de um mortal jogo de gato e rato simplesmente por estar no lugar errado e na hora errada, com explicações vagas e honestamente desimportantes sobre tais garotas representarem pureza e beleza divinas. Esse é o referido horror da aleatoriedade já visto em filmes como Encurralado (1971), A Morte Pede Carona(1986), Violência Gratuita (1997), Os Estranhos (2008), entre outros. Justine não se torna uma vítima por um pecado passado ou coisa que o valha. Ela se torna uma vítima porque esbarrou na pessoa errada na rua. Isso ajuda o público a se identificar com a personagem, bem defendida por Haley Bennett, que consegue sustentar essa identificação e preocupação que a protagonista gera no público.
De fato, parte do roteiro parece tentar versar sobre como as vítimas são aleatórias aos olhos dos assassinos. Por isso todas são chamadas de Kristy (que significa serva de cristo em latim). Quando Violet, retratada de forma competente por Ashley Greene, decide que Justine é uma boa vítima, ela deixa de ser uma pessoa (Justine) para se tornar uma presa (Kristy). Uma visão direta e objetiva da visão dos assassinos em série, embora o filme não se aprofunde muito nisso.
Kristy poderia facilmente ter se tornado um produto decepcionantemente genérico, mas o diretor Olly Blackburn entende o material que tem nas mãos, e torna esse plot que já vimos várias vezes em outros filmes interessantes e magnéticos até a sua conclusão. Quando vemos Justine pela primeira vez, é num campus ensolarado, onde vemos uma garota simpática, com um namorado e cheio de amigos. O diretor e a montagem são competentes nestes minutos iniciais em nos dar um panorama da vida da moça, sem sentir a necessidade de criar uma grande tragédia do passado ou algo que o valha, armadilha que muitos thrillers caem. Depois desses minutos iniciais, quando Justine e mais três funcionários tornam-se os únicos presentes no campus, o diretor faz questão de ressaltar isso com panorâmicas que ressaltam o isolamento da protagonista, que transita entre a melancolia da solidão, e a euforia de ter um campus todo só para ela.
Mas depois de seu infeliz encontro com Violet, quando sai para comprar comida em uma loja de conveniências, a noite se torna chuvosa, e o campus antes belo mesmo em seu isolamento se torna ameaçador, como se cada canto escuro escondesse um dos capangas de Violet, todos com o rosto coberto por uma máscara de gesso. A grande virada sofrida pela protagonista nos minutos finais também é muito bem-marcada pelo diretor, referenciando filmes como Você é o Próximo(2011) e, em menor escala, Pânico (1996). No geral, vale a pena conferir Kristy. Não é revolucionário, mas vale a visita pela excelente condução do suspense e direção segura.
Kristy – Estados Unidos. 2014
Direção: Olly Blackburn
Roteiro: Anthony Jaswinski
Elenco: Haley Bennett, Ashley Greene, Lucas Till, Chris Coy, Erica Ash, James Ransone, Mathew St. Patrick, Dane Rhodes, David Jensen, Wayne Pére, Mike Seal, Lucius Falick, Al Vicente, James Rawlings, John L. Armijo, Jon Arthur, Chelsea Bruland
Duração: 86 Minutos