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Crítica | Sombras do Terror (1963)

Vingança sombria.

por Felipe Oliveira
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Enquanto colecionava uma sequência de adaptações baseadas nos contos de Edgar Allan Poe — como O Solar Maldito e O Poço e o Pêndulo –, no início da década de 60, Roger Corman surgia com uma história que se inspirava nas obras do escritor gótico, mas que tentava ser algo para chamar de seu, quase como uma peça original. Na época, Corman era conhecido por Filmes B de terror e ficção científica e também por contar com Vincent Price, Boris Karloff e Jack Nicholson como as estrelas principais de seus trabalhos. Assim, Sombras do Terror chegava como um derivado que reunia o que era característico nas mãos de Corman, mas que ficou marcado pelos impasses incertos nos bastidores, que estenderam a produção por meses.

Mas naquela altura, Corman entendia muito bem como contornar empecilhos uma vez que era ágil em transformar baixo orçamento em lucro durante uma Hollywood em crise. A situação envolvia um filme com roteiro incompleto que Corman começou a filmar aproveitando — além do cenário de O Corvo — o contrato que tinha com Karloff, Nicholson, Sandra Knight (esposa de Jack na época) e Dick Miller, porém, não tinha financiamento para concluir, o que entra a estratégia ímpar do cineasta: explorar o talento de quem estava em início de carreira. Além de Nicholson – ainda bebendo leite como ator – Dennis Jacob, Jack Hill, Monte Hellman dirigiram um segmento de The Terror, até chegar em Francis Ford Coppola. Dentre os cinco nomes não-creditados na direção, Coppola era quem mais poderia dar continuidade ao longa, mas fez tantas alterações no que Corman tinha em mente para criar seu próprio conto de “Allan Poe” que não durou na produção.

Aquele ainda não era o primeiro trabalho expressivo de Coppola na direção, mas fazia parte de um acordo em recorrência entre Corman, ao indicar nomes para comandar projetos que ele estaria impossibilitado. Embora tenha sido um Frankenstein da direção – o que talvez justifique a composição escura de algumas cenas – Sombras do Terror conseguiu apresentar um universo com visual interessante ao contar a história de um oficial do exército de Napoleão, vivido por Nicholson, que passa a perseguir uma jovem (Knight) até o castelo de um velho barão (Karloff) que esconde terríveis segredos. A trama escrita por Hill e Lee Gordon era simples ao tecer um mistério com ares de terror gótico, mas que soava cansativo pelas idas e vindas em revelações e reviravoltas em algo que mal se sustentava pelo suspense, além de que carecia de ritmo e atmosfera.

Nicholson, que estava se destacando e iniciando seus trabalhos no terror, se esforçava para manter o encanto da produção derivada de Allan Poe. Mesmo carregando a premissa familiar de um romance, The Terror ia na contramão ao trazer elementos sobrenaturais, e temas como desesperança, vingança, e do amor amaldiçoado que o jovem protagonista seguia, como numa narrativa clássica do herói. Ter essas características era possível perceber o porquê Corman era considerado “o pai da cultura pop”, uma vez que sabia reutilizar e recriar histórias baseadas em peças com apelo considerável pela massa. Logo, Sombras do Terror era exemplo disso por o cineasta aproveitar o momento o qual era conhecido pelas adaptações de Allan Poe, desenvolver uma premissa semelhante, mas que não era inspirada em um conto específico. Nisso, o filme também lembrava produções góticas como A Maldição de Frankenstein, A Múmia e Drácula da Hammer Film, produtora britânica que dominava o gênero do terror e fantasia na época.

O que fazia as produções de Corman serem um sucesso é porque ele sabia jogar com o que era consumido pela massa, se tornando, assim, um cineasta econômico, mas muito estratégico e eficiente ao saber utilizar a fórmula de maneira rentável, principalmente quando suas criações eram independentes. Em comparação, qualquer outro estúdio podia seguir seu estilo e fazer um longa genérico derivado dos contos Edgar Allan Poe, mas Corman conseguia fazer o mesmo com um orçamento limitado e, ainda assim, entregava um resultado dentro da média. Embora não tivesse um roteiro concluído, o cineasta aproveitava as oportunidades até ter sua finalidade, pronto para ser lançado. Sombras do Terror passou por cinco diretores, dentre eles, um ator que se dirigiu em cena, contudo, no final, parecia um filme comandado por Corman quando decidiu ter o seu conto gótico inspirado na melhor referência no gênero ao combinar a fantasia com o sombrio e ao melancólico.

Sombras do Terror (The Terror – EUA, 1963)
Direção: Roger Corman, Francis Ford Coppola, Jack Nicholson, Dennis Jacob, Monte Hellman, Jack Hill (não-creditados)
Roteiro: Jack Hill, Lee Gordon
Elenco: Jack Nicholson, Sandra Knight, Boris Karloff, Dick Miller, Dorothy Neumann, Jonathan Haze
Duração: 79 min.

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