Home Diversos Crítica | O Caso do Sapato da Ladra (Perry Mason #13), de Erle Stanley Gardner

Crítica | O Caso do Sapato da Ladra (Perry Mason #13), de Erle Stanley Gardner

Um último apelo.

por Luiz Santiago
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O Caso do Sapato da Ladra, clássico de Erle Stanley Gardner publicado em 1938, abre com Perry Mason e sua secretária Della Street dirigindo-se a uma galeria/shopping, para comerem algo na praça de alimentação. É um dos inícios de narrativa mais incomuns do autor até agora, pois introduz a temática geral da narrativa (aqui, abertamente levando em consideração teorias psicanalíticas) e coloca o advogado em contato com duas mulheres que, após um perrengue ligado a uma acusação de roubo numa loja e frases sobre cleptomania, mais uma carteirada do próprio Mason, terminaram protagonizando o grande caso do livro.   

O enredo é erguido em torno de Sarah Breel, uma senhora acusada de assassinato. O texto de Gardner, porém, vai além do clichê da “senhorinha indefesa” ao colocar essa mulher como culpada. Ele retrata Sarah Breel como uma mulher forte e decidida, que já viu muita coisa na vida e está pronta para enfrentar o que for possível. Embora não fosse uma escolha narrativa comum para a época, o autor já tinha construído uma personagem idosa com características semelhantes, em O Caso da Viúva Assustada, de 1937. A estrutura do texto de Gardner se destaca, mais uma vez, pela fluidez e dinamismo entre investigação e julgamento. A trama se desenrola em ritmo acelerado, intercalando as buscas de Mason com os depoimentos de testemunhas e as reviravoltas no tribunal, trazendo, desta vez, uma surpresa em tanto. 

Há uma interessante inversão de papéis na resolução do caso. Diferente do habitual, onde Mason tem muitas facilidades no tribunal, o juiz responsável se mostra favorável à promotoria, colocando inúmeros obstáculos para o advogado. Essa alteração nos rumos do caso força Perry Mason a recorrer ao júri para alcançar a justiça para sua cliente, mesmo que adotando técnicas pouco éticas no processo — o que não é mais uma novidade para um leitor que conhece outras obras de Erle Stanley Gardner. Essa dinâmica adiciona uma camada extra de suspense no bloco final do livro, mantendo o leitor em constante expectativa, especialmente porque a revelação do assassino demora para aparecer, mesmo quando o caso já estava praticamente (e legalmente) encerrado.

Por estar acompanhando a série Perry Mason em ordem cronológica, acabo tendo a sensação de repetição narrativa em muitos livros, o que impede que eles cresçam, para mim. De todo modo, O Caso do Sapato da Ladra é um livro de sólida construção narrativa, e com escolhas um tantinho novas do autor para a linha de resolução do caso (especialmente na postura do juiz diante de Mason). No fim das contas, mesmo que não gostemos das personagens, a justiça será servida e o caso, em sua esfera mais perigosa, será finalizado. É uma certeza confortável que temos em relação às obras de Gardner para este icônico advogado-detetive.   

Perry Mason – Livro 13: O Caso do Sapato da Ladra (The Case of the Shoplifter’s Shoe) — EUA, 1938
Autor: Erle Stanley Gardner
Publicação original: William Morrow and Company (Abril de 1938).
Edição lida para esta crítica: Ankerwycke, 2016
340 páginas

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