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Crítica | Cães e Gatos – A Arte do Convívio

Lambidas e afofamentos.

por Luiz Santiago
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Cães e Gatos – A Arte do Convívio é um daqueles deliciosos livros de tiras que a gente não consegue largar até terminar. Lançado por Carlos Ruas em 2024, o volume traz uma leitura leve e divertida sobre a dinâmica sempre hilária entre… bem… cães e gatos (he). O autor, conhecido principalmente por seu trabalho com as tiras Um Sábado Qualquer, usa a delicadeza de seu traço para ilustrar situações cotidianas e propor reflexões até com um grau inesperado de profundidade, trazendo momentos que não ressaltam apenas a convivência entre felinos e caninos, mas também a relação desses animais com os humanos. 

Apesar da simplicidade da arte e “limpeza” dos cenários, o autor se permitiu brincar com a dinâmica que ele mesmo propõe aqui, utilizando as páginas para mostrar situações inusitadas em que cães e gatos acabam se metendo. Meu momento favorito em que isso acontece, é quando o gato aparece “atrapalhando” a leitura, ficando na frente das tiras. Temos a oportunidade de ver o felino em uma sequência pequena, mas excelente, perguntando o que estamos lendo e simplesmente parado na frente do texto e das imagens, esperando alguma reação nossa. Para qualquer um que tem/teve gato, esta é uma realidade frequente, e me arrancou boas gargalhadas. Vemos também outras situações cômicas e, por vezes, absurdas, onde o autor explora temas como religião, política e os instintos básicos de cada bicho, nem sempre concluindo o bloco narrativo de maneira orgânica, mas, ainda assim, entregando uma boa sequência de ações. 

Um dos pontos fortes em A Arte do Convívio é a construção da personalidade dos protagonistas. Cão e o gato possuem características muito bem delineadas no texto e pelos desenhos, com gostos e estilos de vida próprios, contribuindo para a imediata identificação do leitor com as situações retratadas. O humor inteligente e a leveza da abordagem tornam a leitura agradável tanto para adultos quanto para crianças, com pesos diferentes, claro. O maior pecado aqui é a sensação de brevidade da obra. O autor poderia oferecer um final melhor arquitetado, construindo a sensação de encerramento ou de despedida temporária dos protagonistas, para que o “fim” não trouxesse esse ar incômodo de finalização-relâmpago.

O autor comentou, na campanha feita pelo Catarse, que encontraríamos neste livro uma diferença em relação aos desenhos mais antigos e a recriação que ele fez para esta edição. Eu cheguei a comprar algumas dessas páginas e, realmente, há uma diferença marcante, para melhor. Acho o traço atual mais simpático, mais condizente com a proposta de humor e fábula-com-conteúdo que ele pretende explorar. Eu leria um almanaque inteiro com esse material. Espero que, em edições futuras, o artista consiga fazer uma editoria que, caso não se complete em temática, receba dele alguns desenhos inéditos que façam uma trilha de finalização mais coesa. Como é um livro de tiras, mesmo que haja um esforço para manter a toada narrativa fluída, é próprio do gênero a dispersão do leitor assim que a página acaba… e outra história começa. Por isso, uma sequência final mais atenciosa seria necessária. Deixo claro, porém, que as escolhas atuais do autor não tiram muito das lambidas e dos ronronares adoráveis que presenciamos durante a leitura, numa produção deliciosa sobre nossos grandes companheiros de toda a vida.   

Cães e Gatos – A Arte do Convívio (Brasil, setembro de 2024)
Roteiro: Carlos Ruas
Arte: Carlos Ruas
Editora: Independente
148 páginas

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