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Crítica | Aos Treze

Proerd versão MTV.

por César Barzine
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Do começo ao fim, Aos Treze é uma gritante propaganda, uma peça altamente pedagógica que se insere em diversas campanhas de conscientização para adolescentes. Numa superfície: não use drogas, não roube, cuidado com as más companhias. Um verdadeiro Proerd numa versão não-careta. Para além desta primeira camada, o filme continua com o seu tom condenatório, porém de modo mais abrangente; condena não as partes, mas o todo. A crítica é direcionada a todo um modo de ser, um ethos que compõe a categoria de adolescente-ocidental-contemporâneo. Essa figura do adolescente pode ser tomada como um arquétipo, um tipo humano passível de generalização e com poucas particularidades — exatamente como uma propaganda deve ser.

O filme conta a intensa jornada de Tracy, uma garotinha de 13 anos (sem a menor cara de 13 anos) bastante meiga, bem comportada e exemplar até tornar-se o suprassumo da depravação com drogas, furtos e obscenidades ao lado de sua nova melhor amiga Evie. Temos aqui nada mais do que um Kids versão feminina e MTV. O modo como essa amizade se inicia é o mais abrupto possível, sem a menor preocupação com naturalidade: Evie debocha da meia infantil de Tracy e esta, determinada a se impor, muda com facilidade seu perfil e, com mais facilidade ainda, é chamada para integrar o ciclo de Evie. Tudo é bastante ágil, mas é algo autoconsciente; se conecta com todo o aparato formal restante da produção (que é ainda mais ágil) e dialoga com o caráter fútil daquele universo adolescente.

Ao tentar mergulhar fundo neste universo, a direção e a montagem conseguem expressar fortemente todo o seu funcionamento com uma estética histriônica e exagerada. É tudo muito gritante e ininterrupto, um exercício de exprimir até a última gota o espírito selvagem que habita naquelas duas delinquentes juvenis. E a estética escolhida para retratar este mundo adolescente, ainda mais levando em conta que é dos anos 2000, não poderia deixar de ser a do videoclipe. O longa pode perfeitamente ser resumido nessa equação: videoclipe somado à propaganda. O primeiro, mais inclinado à forma; e o segundo, mais voltado ao conteúdo — embora haja, é claro, entrecruzamentos.

Como videoclipe, trata-se de um filme vibrante, completamente frenético. A montagem, de dar inveja na filmografia de Guy Ritchie, apresenta planos curtíssimos com cortes atrás de cortes, o que condiz com a conduta das protagonistas: tudo é efêmero, veloz, superficial e, paralelamente, intenso. O cotidiano se resume a experiências hedonistas e a bens materiais. Aliás, hedonismo é um conceito completamente central aqui; o que, aliado à postura de inconsequência, produz o tom denunciatório do filme. A dinâmica hiperestimulante encontra-se tanto na abordagem formal do longa quanto no modus vivendi da dupla protagonista. Apesar de todo esse maneirismo e toda essa imersão descrita, a relação da diretora, Catherine Hardwicke, com sua produção é, ao mesmo tempo, de um certo distanciamento. As garotas são como elementos de um simulacro a ser instrumentalizado e exibido nas escolas como contraexemplo de comportamento. É exatamente este o caráter do papel da denúncia e, por isso mesmo, não passa de uma completa mesmice.

Outra técnica bastante forte em Aos Treze é a da câmera na mão, que está, assim como toda a unidade do longa, inquietante; se movimenta loucamente e acompanha todo o teor hiperativo que existe na história e na narrativa. Essa hiperatividade não se manifesta somente nos passatempos das protagonistas, ela é onipresente e está nos mais simples gestos que elas fazem toda hora com o corpo. Dançam, brincam, se exibem sexualmente. A sensação com tudo isso (montagem, decupagem e interpretações) não é agradável, deixando o filme um tanto enfadonho e o espectador, deslocado. A tentativa de inflar o máximo possível os recursos estilísticos não caíram bem; o público precisa comprar este estilo e embarcar na onda, contudo, é uma estética tão exaltada em troca de uma mensagem tão simplista que fica difícil a digestão.

No terceiro ato, é claro, é hora de fechar o arco; o que significa que é hora de entregar a moral da história. Com isso, vemos que ações irresponsáveis e transgressoras têm consequências ruins: a ‘’melhor amiga’’ te deixa na mão, a mamãe descobre tudo e você ainda pode repetir de ano na escola. E a mise-en-scène não poderia deixar de manifestar tudo isso de outra forma além da mais escrachada possível, o que faz com que a fotografia fique toda cinzenta.

Seria muito limitado ver Aos Treze por um viés individualista. É preciso olhar para o corpo social, seja aquilo que Tracy e Evie representam, ou seja o entorno delas que contribui para isso. As protagonistas falam por aquilo que uma geração é, se inclina a ser ou quer ser — hedonista, performática, egocêntrica, descompromissada, consumista etc. Quanto ao que está ao redor delas, a denúncia cabe a uma crise de valores no seio familiar, a falência dessa instituição que se encontra degradada. Tracy tem o pai ausente e uma mãe permissiva demais, incapaz de ter o mínimo de rigor na criação da filha. Eis aí mais uma camada deste videoclipe/propaganda.

Thirteen (EUA, 2003)
Direção: Catherine Hardwicke
Roteiro: Catherine Hardwicke, Nikki Reed
Elenco: Holly Hunter, Evan Rachel Wood, Nikki Reed, Jeremy Sisto, Brady Corbet, D. W. Moffett, Vanessa Hudgens
Duração: 100 minutos.

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