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Crítica | O Exterminador do Futuro Zero – 1ª Temporada

O exterminador da paciência.

por Ritter Fan
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Foram apenas oito episódios de meros 25 a 28 minutos cada para um total de 222 minutos, ou seja, quase quatro horas, mas a sensação foi de que eu assisti a um vídeo em tempo real de uma sequoia gigante crescendo de muda até 90 metros de altura, sendo que testemunhar o crescimento da espécie de árvore mais alta do mundo seria um emprego melhor de meu tempo. O Exterminador do Futuro Zero até tem boas ideias para se sustentar, mas sua execução faz um jabuti manco parecer o Ligeirinho de tanta enrolação, de tantos diálogos inúteis e E-X-T-R-E-M-A-M-E-N-T-E didáticos que povoam a narrativa do começo ao fim e que resultam em uma primeira temporada que poderia muito facilmente ser comprimida em um, no máximo dois episódios.

Sei muito bem que animes serializados verdadeiros, ou seja, aqueles efetivamente japoneses e não apenas produções não japonesas no “estilo anime” (normalmente bem melhores…), têm tendência à verbosidade, a sequências paradas (que não, não são “contemplativas” e sim paradas mesmo no pior sentido da palavra) e a um grau de didatismo que deve enfurecer até crianças de oito anos de idade, mas eu sinceramente não esperava isso de uma série da combalida franquia O Exterminador do Futuro que, de obra audiovisual de real qualidade após os dois clássicos e sensacionais primeiros filmes, só teve mesmo a temporada única de Terminator: The Sarah Connor Chronicles. Com a liberdade de uma série animada, o razoavelmente inexperiente showrunner Mattson Tomlin tinha praticamente uma tabula rasa à sua disposição, mas tudo o que ele conseguiu fazer foi repetir os passos do longa original com pitadas do segundo, para, então, introduzir sua “grande sacada” e continuar na mesma toada de fazer a mesma coisa novamente.

Porque O Exterminador do Futuro Zero é a mesma lenga lenga de sempre, só que contada pelo bicho-preguiça do DETRAN de Zootopia. Um Exterminador é enviado para o passado para matar uma pessoa importante para a Resistência, no caso Malcolm Lee (Yuuya Uchida, voz da versão em japonês, que foi a que assisti), cientista e pai de três filhos que desenvolveu a inteligência artificial Kokoro (Atsumi Tanezaki) para enfrentar a Skynet com base em pesadelos premonitórios que ele tem há anos. Como sempre, um membro da resistência, Eiko (Toa Yukinari), também volta no tempo para impedir que o robô cumpra seu objetivo. A grande mudança: toda a ação se passa no Japão, como se isso fosse justificativa suficiente para uma história essencialmente paralela à que ocorre nos EUA logo antes e durante a ativação da Skynet.

Durante os três primeiros episódios, a estrutura é 100% essa que descrevi acima, com a localização da história no Japão só criando “diferenciação” pelo fato de que armas de fogo não são facilmente acessíveis por lá, algo sinceramente irrelevante para o desenvolvimento (que desenvolvimento?) da história e pela existência comum de robôs (obviamente que menos tecnológicos que os exterminadores, mais parecido com a Rosey, dos Jetsons) à serviço da humanidade, elemento que acrescenta alguma “cor” à história, mas que também não é lá essencial. Quando chega o quarto episódio, Tomlin faz a sobrancelha do espectador levantar duas vezes com as revelações que o roteiro traz e que prometem encorpar a segunda metade da temporada, somente para tudo não passar de um engodo, pois a história retorna à sua velocidade barricheliana. Chega a ser hilário que Malcolm fica a temporada quase toda trancado na sala onde sua I.A. existe tendo conversas filosóficas com as três versões coloridas dela que flutuam no ambiente como fantasmas, enquanto seus filhos, com a ajuda da babá Mizaki (Saori Hayami) e Eiko, fogem de um particularmente incompetente Exterminador. E, ironicamente, o final, que é carregado de “revelações bombásticas” do tipo que qualquer um consegue perceber logo na largada, oferece mais tabula rasa para a segunda temporada, mas que, agora, eu duvido que Tomlin realmente se aproveite disso.

Visualmente, porém, a série é bonita, com um design eficiente para o novo Exterminador e para os robôs usados no Japão, além de uma Tóquio atraente e tecnologicamente evoluída, mas não tanto a ponto de criar um abismo de verossimilhança dado que o presente da história é 1997. Mas essa beleza funciona mais para máquinas e objetos inanimados do que para as feições dos personagens que, com a exceção dos tons de pele e da presença de pelos faciais em Malcolm, são completamente fungíveis. Até mesmo o Exterminador só começa a ficar bacana de verdade quando passamos a ver o metal por baixo da pele, pois, antes, ele só parece mesmo um personagem genérico. Infelizmente, porém, o visual não compensa nem de longe a pobreza e, principalmente, a lerdeza da narrativa que faz de tudo para alongar todas as sequências, quebrando a fluidez e a tensão das cenas de ação – em si pouco inspiradas – e para inserir intermináveis diálogos explicativos como o que uma Profeta (Mari Yokoo), em 2022, explica viagem no tempo para Eiko que chega a ser vergonhoso de tão bê-á-bá imbecilizante que é.

Eu realmente tinha esperanças de que, como a franquia Alien, a de Exterminador do Futuro encontrasse renovação e sobrevida em 2024, mas tudo o que vi em O Exterminador do Futuro Zero foi mais do mesmo, só que um mais do mesmo com o mesmo efeito temporal de que ele teria se fosse situado perto de um buraco negro. Hora de deixar esse universo descansar por pelo menos uma década, não?

O Exterminador do Futuro Zero – 1ª Temporada (Terminator Zero – EUA/Japão, 29 de agosto de 2024)
Desenvolvimento: Mattson Tomlin
Direção: Mineo Ōe, Haruka Tanaka, Shigeki Hatakeyama, Tomomi Takeuchi, Masashi Kudō, Yuta Maruyama
Roteiro: Mattson Tomlin
Elenco de voz (japonês): Yasuhiro Mamiya, Toa Yukinari, Yuuya Uchida, Saori Hayami, Hiro Shimono, Miyuki Sato, Shizuka Ishigami, Atsumi Tanezaki, Mari Yokoo, Ayaka Shimoyamada
Elenco de voz (inglês): Timothy Olyphant, Sonoya Mizuno, André Holland, Sumalee Montano, Armani Jackson, Gideon Adlon, Carter Rockwood, Rosario Dawson, Ann Dowd, Julie Nathanson
Duração: 222 min. (oito episódios)

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