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Crítica | Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice

Morte por encomenda.

por Felipe Oliveira
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Depois de uma sequência em formato de série animada, e um segundo filme reescrito e adiado por mais de duas décadas, Beetlejuice parece ter encontrado o momento oportuno para retornar aos cinemas. Afinal, que longa considerado um clássico não está ganhando uma continuação digna do status de sequência-legado? O fato de o primeiro filme ter sido lançado em 1988 carrega uma gama de características que o tornaram tão marcante, mas principalmente, porque Tim Burton definia seu estilo autoral com a narrativa e elementos visuais, depois, pela figura de Betelgeuse, interpretada por Michael Keaton. Naquele momento, Os Fantasmas se Divertem fazia uma comédia descompromissada, mas com um equilíbrio que só Burton podia dar ao falar de morte e pós-vida de um jeito caricato e cartunesco, que mesmo com um humor mórbido presente, tinha um ar “de aventura e fantasia” que deixava o filme estranhamente – mas também assustador – agradável.

Se em 1988 o longa esbanjava o início da criatividade de Burton ao compor um mundo pós-vida às avessas, Beetlejuice Beetlejuice reflete um filme feito por demanda, isso é, pensado e elaborado para agradar uma massa do que expandir as ideias que adaptaram o conto de Betelgeuse. A abertura de Os Fantasmas Ainda se Divertem é o primeiro ponto em como o roteiro traz elementos atuais para encaixar na sequência, ao colocar Lydia como uma médium e apresentadora de um programa de TV. A ideia é compreensível para como a curiosidade é tratada por intermédio da Internet onde qualquer coisa pode virar tópico de discussão – o que talvez apresente a única sátira social no ato final do filme -, porém, são só ideias jogadas antes de finalmente voltar para Winter River. Enquanto Beetlejuice funcionava como um mundo dentro do mundo sem sair da residência dos Maitland, sua sequência se inclina mais a um apanhado de escolhas genéricas tentando embalar algo novo e também entregar nostalgia.

O roteiro junta aqui três gerações ao retornar com Delia (Catherine O’Hara), Lydia (Winona Ryder) e introduzir Astrid (Jenna Ortega), e bem, o objetivo da presença Ortega é atrair o público jovem e isso reflete no romance adolescente que tenta emendar uma reviravolta em meio ao drama familiar que combina a madrasta, a enteada e sua filha, mas que termina não atingindo o nível emocional que imagina. É frustrante como as ideias propostas pelo roteiro de Alfred Gough e Miles Millar não alcançam um equilíbrio nem mesmo no tratamento de dar um espaço maior para Beetlejuice. O background do personagem se resume a uma gag do filme anterior e que é aproveitada para expandir seu passado, e ainda assim, a ideia não consegue se desenvolver e no caminho desperdiça a participação de Monica Bellucci, sufocada pelas várias subtramas que o texto falha ao querer criar maiores momentos para a sequência.

Mesmo trazendo uma versão mais over the top de O’Hara e sua Delia, Os Fantasmas Ainda se Divertem só funciona quando Burton olha para os momentos que funcionaram e não tenta fazer disso um misto de nostalgia e novas ideias, nesse caso, ao focar no macabro imprevisível que é Beetlejuice. O caminho traçado pela personagem de Ortega para retornar ao mundo do pós-vida não é interessante, e o filme se apoia nesse paralelo para traçar sua premissa. Então, temos aqui menos de uma comédia ácida, em um nível mórbido mas ainda lúdico para falar sobre morte e o sobrenatural e mais de um filme protocolar – que quer ser dramático e autoconsciente – que traz novamente os elementos que deram certo há mais 30 anos, agora, para uma nova geração. É menos Burton no sentindo estranho, assustador, criativo e esquisito do estilo autoral por um filme que tenta combinar várias facetas, pedaços e emendas de outros trabalhos em um caso que carrega um feito particular por ter apresentado um mundo original e gráfico.

A sacada do título “pronunciando” o nome de Beetlejuice duas vezes para sua sequência se torna apenas um eco por, no fim, não parecer que retornamos àquele mundo pós-vida, mesmo com as piadas e a nostalgia feita por tabela. Embora Hollywood tenha arrumado uma fórmula de fazer continuações e referências e o apelo pela memória ser a coisa do momento, ao menos, a parceria entre Burton e a música de Danny Elfman ainda rende alguma magia nos momentos em que a comédia e o tom irreverente de Beetlejuice conseguem se alinhar a premissa do filme. Chega a ser irônico que, enquanto o roteiro se inclina em fazer um comentário sobre mídias e internet – Black Mirror Black Mirror ? -.  , cai no mesmo ponto que se tornou sátira no original ao colocar os humanos como ricos consumistas e céticos ao sobrenatural que queriam vender em um filme feito por medida.

Os Fantasmas Ainda se Divertem – Beetlejuice Beetlejuice (Beetlejuice Beetlejuice – EUA, 2024)
Direção: Tim Burton
Roteiro: Alfred Gough, Miles Millar
Elenco: Michael Keaton, Winona Ryder, Catherine O’Hara, Jenna Ortega, Justin Theroux, Willem Dafoe, Monica Bellucci, Arthur Conti, Santiago Cabrera, Burn Gorman, Danny DeVito
Duração: 104 min.

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