Home FilmesCríticasCatálogos Crítica | Os Amantes do Nudismo (Tonight for Sure)

Crítica | Os Amantes do Nudismo (Tonight for Sure)

Nudez coppoliana.

por Luiz Santiago
25 views

Depois de ter “transformado” duas obras cinematográficas estrangeiras; uma soviética (Batalha Além do Sol) e outra alemã (The Bellboy and the Playgirls), o diretor Francis Ford Coppola finalmente conseguiu a oportunidade de filmar algo inteiramente novo, ainda dividindo os créditos de direção, desta vez, com Jerry Schafer. Seguindo a mesma atmosfera e “transformação” feita na película de Fritz Umgelter, Coppola criou aqui uma comédia sexploitation que tenta satirizar a hipocrisia masculina relacionada à libido e à nudez feminina, em diferentes situações. O roteiro, igualmente assinado pela dupla de diretores, acompanha o minerador Samuel (Don Kenney) e o almofadinha Benjamin (Karl Schanzer), que se encontram num clube, aparentemente para boicotar o show das garotas e falar do quão imoral era “tudo aquilo“. Com um fiapo de narrativa espremida entre cenas musicais e mulheres seminuas, o longa é uma viagem sem propósito por muitos seios e trapalhadas de homens (pseudo?) moralistas, narrativa que desagua em um final bastante insatisfatório.

Para mim, é quase impossível não afirmar que Coppola se inspirou em As Tentações do Doutor Antônio, de Federico Fellini, que estreou nos Estados Unidos em junho de 1962; enquanto Os Amantes do Nudismo teve um período de filmagens de dois dias, no início de outubro, estreando naquele mesmo mês. A tentativa de ironizar a hipocrisia de homens como Samuel e Benjamin, que condenam a exposição da nudez enquanto se divertem em um clube de danças eróticas, é fraca e pouco convincente, mesmo quando aliada à comédia de duplo sentido, que acaba sendo o seu carro-chefe. O filme parece se deleitar exageradamente com a nudez, sem oferecer qualquer componente dramático que justifique tudo aquilo, e dê, à parte hipócrita, um real sentido de existir. 

Ainda é possível rir de uma ou duas situações envolvendo os trejeitos dos personagens e suas manias e contradições, mas o acúmulo delas, ao longo de uma hora de projeção, acaba por reforçar os estereótipos que buscava criticar ou zombar, caindo numa armadilha conceitual que não ajuda a obra em nada. Não vale sequer citar as personagens femininas como relevantes para a história ou algo além da nudez (diferente da possível inspiração de Coppola, diga-se de passagem). Elas simplesmente estão em exibição fetichista – em cenas com continuidade digna do primeiro cinema – e nem mesmo servem como impulso do enredo para dinamizar a tara mal disfarçada dos personagens.

Há quem possa gostar da música repetitiva de Carmine Coppola aqui, ou rir mais do que deveria das cenas de comédia pastelão que abundam na fita, mas se tirarmos a evidente beleza dos corpos representados, nada mais sobra para o espectador nesta produção esquecível que não diverte de verdade, nem provoca como deveria.

Os Amantes do Nudismo (Tonight for Sure) — EUA, 1962
Direção: Francis Ford Coppola, Jerry Schafer
Roteiro: Francis Ford Coppola, Jerry Schafer
Elenco: Karl Schanzer, Don Kenney, Marli Renfro, Virginia Gordon, Barbara Martin, Linda Gibson, Sandy Silver, Pat Brooks, Bill Freed
Duração: 69 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais