Home TVTemporadas Crítica | Esquadrão Suicida: Isekai – 1ª Temporada

Crítica | Esquadrão Suicida: Isekai – 1ª Temporada

Conceito ousado, execução tímida.

por Ritter Fan
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Mergulhei em Esquadrão Suicida: Isekai completamente ignorante da premissa para além da presença do grupo de vilões com explosivos na cabeça forçados por Amanda Waller a fazer o que ela bem entender. Sabia, claro, que era uma produção japonesa, mas, por não conhecer a expressão isekai, não tinha pistas de que a história se passava em “outro mundo”, que é a tradução literal do termo, com Waller mandando sua equipe para um universo de fantasia medieval à la O Senhor dos Aneis ou Game of Thrones. E, quando isso é revelado logo no final do primeiro episódio, pensei comigo mesmo que havia grande potencial de uma premissa dessas bem “fora da caixinha” funcionar mais do que a contento para uma série animada da equipe.

E isso porque o começo do mesmo primeiro episódio, mostrando o Coringa e a Arlequina – na relação original deles e não a repaginação que emancipa e afasta Harleen de seu “pudim” – fugindo por Gotham City, já havia servido de um tira-gosto da mais alta qualidade. No entanto, a ousadia e originalidade representada pelo “coringomóvel” retrô controlado por um teclado de piano e pelo próprio rosto do Palhaço do Crime que vemos no começo de Esquadrão Suicida: Isekai infelizmente não é a marca da temporada como um todo, mas sim, apenas, exceções. Em outras palavras, uma premissa que poderia libertar a série para fazer absolutamente tudo o que quisesse em termos narrativos, acaba desperdiçada por uma timidez inexplicável de uma magnitude tão grande que faz com que uma experiência que prometia ser fantástica acabe ali na incômoda linha mediana.

De que adianta arremessar um equipe formada pela já mencionada Arlequina (Anna Nagase, na versão original em japonês) e Pistoleiro (Reigo Yamaguchi), Pacificador (Takehito Koyasu), Cara-de-Barro (Jun Fukuyama) e Tubarão-Rei (Subaru Kimura) em um reino repleto de magia, orcs, elfos e dragões se tudo o que vemos desenrolar na tela poderia acontecer em qualquer outro lugar? Para que basicamente dizer que “vale tudo” nesse outro universo se, no final das contas, já vimos esse “vale tudo” em Gotham City? Qual é o objetivo de uma premissa tão aloprada quanto a mente de Arlequina se não há intenção alguma em aloprar de verdade? E olha que, até lá pelo final do terceiro episódio, quando as novidades se esgotam (mas que eu não sabia que esse era o ponto de esgotamento), eu estava ainda investido em observar os referidos vilões espancando criaturas suínas e soldados humanos com espadas mágicas e o começo de uma trama palaciana envolvendo uma rainha estranha, uma princesa boazinha que imediatamente se conecta com Arlequina, e um conflito entre reinos. Quando eu finalmente notei que isso era tudo, o desânimo abateu-se.

Afinal, para cada ideia ótima, como o design humano do Cara-de-Barro ser basicamente o Michael Jackson no videoclipe de Smooth Criminal, ou fazer do Caça-Ratos o primeiro grande vilão da estrutura de videogame da animação, há uma tonelada de outras que são banais e completamente lugar-comum, incluindo aí a completa recusa da equipe de design em alterar os uniformes dos demais componentes do grupo, coreografias de luta que são genéricas até não poderem mais e toda a complexidade do telejogo. Os roteiros parecem receosos em revelar os vilões do universo DC que chegaram nesse outro mundo antes de Arlequina e companhia, criando mistérios irritantemente bobos que não têm razão alguma de ser, com a grande revelação da ameaça final, o que só acontece nos últimos segundos do oitavo episódio, sendo a coisa mais anticlimática do mundo, impedindo todo e qualquer senso de ameaça ou qualquer tipo de conexão com o que ocorre dali em diante. Nem mesmo o maquiavelismo de Amanda Waller (Kujira) é levado às vias de fato, o que esvazia a presença da líder da A.R.G.U.S. quase que completamente.

Não é que o design em geral seja imprestável, pois está muito longe de ser. A arte é efetivamente muito boa, com algumas soluções de cenário e os vilões nativos do outro mundo funcionando mais do que a contento em termos visuais, mas, no conjunto, faltou aquele “algo mais” que apostasse todas as fichas na premissa, que apresentasse criaturas realmente diferentes e que fizessem a diferença e não apenas versões daquilo que já vimos milhares de vezes de maneira muito melhor. É isso que eu quero dizer quando afirmo que faltou à série aproveitar-se de verdade de sua premissa libertadora. A obra da Warner Bros. Japan,, com produção do Wit Studio, poderia muito facilmente ter jogado pela janela todo e qualquer pudor e investido em algo visualmente mais esplendoroso, macabro e audacioso e, narrativamente, em algo mais interessante do que apenas a boa e velha luta do bem contra o mal (ou do menos mal contra o mais mal, se é que me entendem). Infelizmente, porém, Esquadrão Suicida: Isekai ficou perdido em algum lugar na “terra de ninguém” entre o potencial inexplorado e a produção acovardada, mesmo que no departamento de animação, a qualidade geral, pelo menos para mim, tenha sido boa, ainda que por vezes oscilante.

O conceito do Esquadrão Suicida é excelente e situar a série em um mundo que poderia ter suas regras inventadas do zero era para ser a perfeita caixa de areia para a produção chutar o proverbial pau da barraca. Mas tudo o que conseguiram fazer foi deixar o espectador com água na boca por algo que nunca realmente chega à fruição. A promessa de algo do literal outro mundo revelou-se um engodo que já foi feito antes de maneira muito mais eficiente no “mesmo mundo” de sempre, sem precisar de dragões e lobisomens servindo de meros enfeites. Quem sabe a série não corrige seu rumo e tenta algo realmente diferente em sua segunda temporada, se ela acontecer?

Esquadrão Suicida: Isekai – 1ª Temporada (Suicide Squad Isekai – Japão, de 27 junho a 15 de agosto de 2024)
Direção: Eri Osada, Kyōhei Suzuki, Asaka Yokoyama, Ayumi Nakahata, Sugoroku, Shūjirō Ami, Shigeki Awai, Yūsuke Kubo, Naoto Hosoda, Chao Huo Ling
Roteiristas-chefes: Tappei Nagatsuki, Eiji Umehara
Roteiro: Eri Osada, Taku Namiki, Fuminori Kizaki, Naoto Hosoda, Sugoroku, Daiki Yonemori, Shūjirō Ami, Yūsuke Kubo, Ting Mu Yang
Elenco (vozes em japonês): Anna Nagase, Yūichirō Umehara, Reigo Yamaguchi, Takehito Koyasu, Jun Fukuyama, Subaru Kimura, Taku Yashiro, Kujira, Chika Anzai, Reina Ueda, Mamiko Noto, Jun Fukushima, Yōji Ueda, Hōchū Ōtsuka, Shizuka Itō, Tarō Kiuchi, Taito Ban, Hiroki Maeda, Masashi Yamane, Kokoa Amano, Nanako Mori
Duração: 250 min. (10 episódios)

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