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Crítica | O Corvo: Vingança Maldita

Uma maldição...

por Ritter Fan
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O Corvo, de 1994, é um filme muito bom, mas que eu provavelmente considero pior do que a maioria das pessoas acha que ele é, já que se trata de uma obra muito cultuada por aí, notadamente em razão da trágica morte de Brandon Lee durante a produção. O Corvo: A Cidade dos Anjos e O Corvo: A Salvação, respectivamente de 1996 e 2000, são duas continuações ruins, mas não tragicamente ruins, pois, de suas maneiras, tentam contar histórias diferentes e mostram algum potencial debaixo de diversos problemas sérios. O Corvo: Vingança Maldita, porém, é, na falta de uma adjetivação mais contundente, um completo escárnio audiovisual que não merece nenhuma consideração, a não ser, talvez, como instrumento de tortura.

Baseado em romance publicado em 2000 escrito por Norman Partridge a partir da famosa criação de James O’Barr nos quadrinhos, o roteiro que Lance Mungia (fazendo dobradinha como diretor) escreveu ao lado de Jeff Most e Sean Hood é um ridículo amontoado de besteiras que reúne, sob um mesmo teto, o conflito entre nativos americanos que querem construir um cassino e uma operação de mineração ameaçada de fechar, com versões inadvertidamente hilárias dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse, um culto satânico idiota, e, claro, o “amor bandido” entre Jimmy Cuervo (Edward Furlong que realmente é parte mexicano pelo lado de sua mãe), que cumpriu pena por matar um estuprador em uma briga e está em liberdade condicional, e Lilly (Emmanuelle Chriqui, judia de ascendência marroquina que vive a filha de um líder nativo americano, vai entender…), com os dois planejando fugir de onde moram para recomeçar a vida.

Essa salada de ideias, conceitos e premissas incha tremendamente o longa, fazendo com que ele imediatamente comece a andar de lado, demorando uma eternidade para que algo relevante aconteça, como o pequeno “detalhe” da transformação de Jimmy no corvo depois que ele é morto pelo líder satanista Luc, vivido por David Boreanaz, levando 40 minutos para acontecer. E Mungia, na direção, não tem ideia do que está fazendo, transformando seu longa em uma sucessão insuportável de maneirismos de câmera que mais parece que ele está testando todos os “botões” disponíveis no aparelho. São câmeras lentas, congelamentos de cenas, fichas pessoais na tela, breves flashbacks em tons de sépia, close-ups em rostos fazendo caretas que existem apenas na base do “porque sim” e que só servem mesmo para estender o fiapo de história e para tentar distrair a atenção do espectador para o show de horrores que toma os 99 minutos de projeção.

E que show de horrores é esse? Bem, para começo de conversa, Furlong como o Corvo é a coisa mais ridícula possível a ponto de dar vergonha alheia quando ele, do nada, termina sua transformação com uma roupa gótica que não tem nenhum contexto ou o mínimo de lógica interna. Sua atuação é assustadoramente ruim, afetada, desgovernada e por vezes histérica, sem que ele consiga emprestar alguma gravidade ao trágico personagem que encarna. Boreanaz, por seu turno, parece ter percebido que o roteiro não tinha salvação e resolveu chutar o proverbial pau da barraca e construir um vilão que é uma parte falastrão, outra parte bobo da corte e outra parte uma tentativa de ser galã brega e 100% uma caricatura. O que ele definitivamente não consegue ser por um segundo sequer é ameaçador, jamais convencendo o espectador de que ele é quem o roteiro diz que é, um violento líder de culto satânico que, ao final, ainda se torna, ao que tudo indica, o próprio Lúcifer. O restante do elenco, que vai da bela, mas consistentemente péssima Tara Reid até os sempre carismáticos Danny Trejo e Dennis Hopper, é completamente desperdiçado entre olhos arrancados, dancinha para reviver corvo (o pássaro) e missas demoníacas. Seria genuinamente hilário, se não fosse cansativo e supremamente emburrecedor.

Mas tem mais. A história em si é mal ajambrada, sem lógica interna, mantendo-se apenas por meio de uma costura fraca, que deixa entrever diversos buracos na montagem e que torna mais saliente ainda as afetações visuais de Mungia que mencionei mais acima. E o que falar do romance de Jimmy com Lilly além de que ele não convence em momento algum, mais parecendo algo escrito nas coxas depois que o roteirista encarregado se esqueceu de redigir as cenas. O mesmo vale para os objetivos de Luc e sua gangue de perturbados, cujas motivações para fazerem o que fazem são vagamente conectadas com o conflito entre nativos e mineradores, mas que, na prática, são mesmo é inexistentes. E, claro, os diálogos são de ranger os dentes de terríveis, repletos de chavões e de muita choradeira, pois, apesar da trama boba, há uma quantidade inacreditável de falas e de longos monólogos completamente vazios.

O Corvo: Vingança Maldita é o único filme da franquia que é ruim com força, que não tem um elemento sequer que mereça elogio. Ok, tem um: apesar de parecer muito mais longo, esse verdadeiro pacto faustiano audiovisual “só” cobra 99 minutos da vida do espectador, pois Mungia poderia ter feito algo bem mais longo só para torturar e lobotomizar de verdade o público desavisado.

O Corvo: Vingança Maldita (The Crow: Wicked Prayer – EUA, 2005)
Direção: Lance Mungia
Roteiro: Lance Mungia, Jeff Most, Sean Hood (baseado em romance de Norman Partridge, por sua vez baseado em quadrinhos de James O’Barr)
Elenco: Edward Furlong, David Boreanaz, Tara Reid, Marcus Chong, Tito Ortiz, Yuji Okumoto, Dennis Hopper, Emmanuelle Chriqui, Dave Baez, Danny Trejo
Duração: 99 min.

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