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Crítica | O Corvo III: A Salvação

Longe de ser a salvação.

por Ritter Fan
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Não que O Corvo III: A Salvação realmente merecesse, mas não tenho como deixar de ficar indignado quando um filme prometido para ser lançado nos cinemas é, por uma decisão unilateral de sua produtora, relegado ao lançamento em literalmente uma tela de cinema em seu país de origem, com sua distribuição efetivamente ocorrendo por meio de vídeo doméstico. Trata-se de um desrespeito a todos os envolvidos, do diretor e roteirista ao elenco, passando por todos aqueles que contribuíram para a obra e que não têm seus nomes lembrados a não ser nos créditos finais que, infelizmente, quase ninguém fica para ver, especialmente em DVD. Seja como for, a segunda continuação cinematográfica (pois houve uma série cancelada depois de uma temporada estrelada por Mark Dacascos, entre 1998 e 1999) de O Corvo, longa que ganhou status cult especialmente em razão da trágica morte de Brandon Lee durante a produção, é, como O Corvo: A Cidade dos Anjos, uma obra independente de laços de continuidade ou, melhor dizendo, uma obra ainda mais independente do que o filme anterior que contava com a versão adulta de Sarah Mohr para criar uma conexão.

E, nessa linha, devo dizer que fiquei surpreso ao constatar que o roteirista Chip Johannessen, em seu primeiro trabalho fora da televisão, realmente tentou escrever um roteiro que, usando a premissa de uma entidade mística que revive algumas pessoas para que elas possam se vingar de injustiças cometidas contra elas e seus entes queridos, não fica submisso por completo à estrutura do longa original como acabou acontecendo com o segundo, ainda que muito em razão da intromissão dos Irmãos Weinstein na pós-produção. No lugar de simplesmente repetir a ideia de um assassinato duplo, em A Salvação o que acontece é que Alex Corvis (Eric Mabius) é condenado e executado pelo assassinato de sua namorada Lauren Randall (Jodi Lyn O’Keefe), um crime que ele não cometeu e que ele afirma e reafirma que foi cometido por um misterioso homem com uma cicatriz no braço. Se alguém reconhecer essa estrutura, é porque ela é quase exatamente a mesma da célebre série sessentista O Fugitivo, que, em 1993, ganhou um ótimo remake na forma de um filme estrelado por Harrison Ford e que lida com um médico acusado da morte da esposa que diz que um homem sem um braço foi o responsável.

Johannessen faz a história funcionar, com a construção de uma cada vez maior conspiração policial que Alex, agora transformado, investiga com a ajuda de Peter Walsh (Grant Shaud), seu advogado, e de Erin (Kirsten Dunst não tecnicamente no começo de sua carreira, mas ainda sem encontrar o estrelato), irmã de Lauren, ainda que não faça sentido algum ninguém reconhecer Corvis como Corvis depois da transformação. Ou melhor, o roteirista faz a história funcionar de maneira básica, já que ele não consegue lidar bem com as motivações por trás dos vilões, especialmente do “chefe dos vilões” e não se esmera com os diálogos, que são paupérrimos. No entanto, tenho para mim que o trabalho de Johannessen foi prejudicado pela direção de Bharat Nalluri, que não dá tempo ao tempo e não consegue criar um passo narrativo, algo que é ampliado pela inabilidade da montagem de Luis Colina e Howard E. Smith que ou está atrasada ou adiantada, dependendo da cena e que nunca realmente consegue estabelecer fluidez e passagem temporal ao longo da película.

De maneira semelhante, Nalluri não parece saber muito bem o que fazer com as cenas de ação que, além de completamente genéricas, são inacreditavelmente lentas e cansativas, com mais closes desnecessários em Mabius do que momentos minimamente empolgantes. E não ajuda em nada que, pelo menos na comparação com os dois longas anteriores, esse parece ser o que teve sua violência mais sanitizada, ainda que haja alguns toques macabros mais para o fim, com braços arrancados, algum sadomasoquismo e uma surpreendente escolha de costurar a boca da personagem de Dunst no lugar de simplesmente amordaçá-la. É quase como se houve dois filmes competindo, um insuportavelmente lento e tonalmente perdido e outro, que fica sempre em segundo plano, que tinha chance de ser pelo menos minimamente interessante. Mas o diretor parece indeciso ou, como é também muito provável, os Weinsteins novamente interferiram pesadamente no processo criativo.

O trabalho de maquiagem no protagonista, com suas marcas faciais não sendo mais pinturas e sim cicatrizes resultantes da corrente elétrica passando pela máscara de ferro usada em sua execução, é bom e cria um diferencial dessa versão do Corvo em relação aos demais, com Corvis parecendo mais um cadáver marcado do que um super-herói semelhante ao Alice Cooper. O figurino, por outro lado, mesmo que faça sentido dentro da história, já que não faz lá muito sentido Corvis preocupar-se com isso, é pouquíssimo inspirado e se limita ao macacão usado na cadeira elétrica, com apenas um casaco que ele passa a usar em certa altura. E, claro, a atmosfera gótica criada no primeiro longa e tornada genérica no segundo é simplesmente inexistente em A Salvação, o que deixa o filme completamente sem personalidade.

Como em A Cidade dos Anjos, havia potencial em O Corvo III: A Salvação, mas o pouco de interessante que o roteiro de Johannessen oferecia é desperdiçado por uma direção perdida de Nalluri e, em geral, por valores de produção que não fazem esforço algum para ir além do filme B produzido a toque de caixa. Pelo menos o elenco que, além de Dunst, conta com os veteranos William Atherton e Fred Ward, além de Walton Goggins em uma ponta antes de firmar-se como o bom ator que é, faz o filme passar sem maiores solavancos e deixa ainda mais indigesta a decisão ingrata de limitar a distribuição do longa ao mercado de vídeo doméstico.

O Corvo III: A Salvação (The Crow: Salvation – EUA/Alemanha, 2000)
Direção: Bharat Nalluri
Roteiro: Chip Johannessen (baseado em quadrinhos de James O’Barr)
Elenco: Eric Mabius, Kirsten Dunst, William Atherton, Grant Shaud, Jodi Lyn O’Keefe, David H. Stevens, Dale Midkiff, Bill Mondy, Walton Goggins, Tim DeKay, Don Shanks, Joey Miyashima, Kylee Cochran, Bruce McCarty, Kelly Haren, Fred Ward, Noname Jane
Duração: 102 min.

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