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Crítica | O Corvo: A Cidade dos Anjos

Muda tudo para nada mudar.

por Ritter Fan
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Se Brandon Lee não tivesse tragicamente falecido durante as filmagens de O Corvo, a continuação muito provavelmente contaria com o ator reprisando o papel e, talvez, um cuidado maior em seu desenvolvimento. No entanto, sua morte levou à ideia de escalar um novo ator não para exatamente o mesmo papel, mas sim o de outra vítima de violência, Ashe Corven que é brutalmente assassinado juntamente com seu filho, depois que os dois testemunham outro assassinato. Muito sinceramente, o conceito de que o Corvo não é especificamente alguém determinado, mas sim uma entidade que revive pessoas para que elas possam se vingar é, para mim, muito mais interessante e com potencial de resultar em histórias mais variadas, mas não é isso que acontece em O Corvo: A Cidade dos Anjos.

Com o comando de Tim Pope que, como Alex Proyas, era diretor de videoclipes musicais tentando a sorte com longas-metragens, e roteiro de David S. Goyer ainda em razoável começo de carreira, o longa acabou sofrendo nas mãos dos infames Harvey e Bob Weinstein que, na pós-produção, tomaram a obra para si, para montá-la de maneira a aproximá-la do filme original, o que levou ao afastamento de Pope e à sua desistência de seguir carreira em Hollywood como diretor. Não tenho como saber exatamente o que Goyer originalmente escreveu e que caminho Pope pretendia seguir, mas os Weinsteins definitivamente tiveram êxito em tornar a continuação um filme estruturalmente idêntico ao que fora estrelado por Lee. Em termos de história, as únicas alterações são meramente perfunctórias, com o assassinato duplo sendo o de pai e filho como mencionei e não o de um casal apaixonado e com a presença de uma Sarah Mohr já adulta, além do deslocamento da ação de Detroit para Los Angeles.

Mas a repetição não é o maior problema da continuação, sendo apenas uma demonstração de falta de ousadia, assim como não é a escalação de Vincent Pérez para viver o novo Corvo ou a de Mia Kirshner para viver a Sarah adulta, já que os dois atores podem não ser excepcionais, mas cumprem seus papeis tão bem quanto o também limitado Brandon Lee cumpriu. O problema de O Corvo: A Cidade dos Anjos está na incapacidade da direção de arte de Charles William Breen e da direção de fotografia de Jean-Yves Escoffier em criar o tipo de atmosfera que uma narrativa dessas implorava. E não, eu de forma alguma queria que o trabalho de Proyas e equipe nesse sentido fosse simplesmente replicado na continuação, pois considero necessário que cada longa tenha sua própria personalidade, mas o que a produção faz, aqui, é paupérrimo, transformando Los Angeles em um grande lixão ao ar livre de maneira semelhante ao que foi feito em Predador 2 e a fotografia preocupando-se muito mais com maneirismos de câmera – desfoque, câmera lenta, ângulos holandeses, tomadas “heroicas” e assim por diante – do que com a criação de algo realmente único, que invocasse a temática de perda, dor e vingança.

Nem mesmo os simples figurino e maquiagem do Corvo funcionam, mais parecendo versões completamente genéricas da pegada original. E o mais irônico é que Pope passou a vida inteira dirigindo videoclipes do The Cure, pelo que ele deveria ter um olhar apurado pelo menos para identificar se a maquiagem à la Robert Smith estava funcionando. Portanto, no final das contas, o lado supostamente gótico de O Corvo: A Cidade dos Anjos é apenas um arremedo do estilo, uma tentativa de imitar o filme original, mas ao mesmo tempo diluindo o efeito em algo completamente sem graça e sem nenhum tipo de sutileza visual, como invocar a podridão humana com sombras doentes e não com lixo esvoaçante jogado no chão ou como lidar com o drama do protagonista sem recorrer a linhas de diálogo que explicam o que ele sente.

Não ajuda em nada que Judah Earl (Richard Brooks), o grande vilão que só anda descamisado e que vive em um quartel general exótico de temática sadomasoquista, esteja mais para uma figura histriônica e repleta de trejeitos exagerados do que para algo que lembre, mesmo que vagamente, alguém que ofereça alguma ameaça séria. Seus capangas conseguem ser muito melhores, especialmente Iggy Pop como Curve e valendo reparar em Thomas Jane, ainda então completamente desconhecido, dando as caras como Nemo somente para morrer um minuto depois. Aliás, falando em morrer, as sequências de ação acompanham o estilo genérico do filme e simplesmente não têm qualquer impacto real para além da boa sacada de se criar a silhueta de corvo de maneiras criativas ao redor de cada corpo.

Mesmo com seus vários e incuráveis problemas, O Corvo: A Cidade dos Anjos não é uma tragédia completa. É um filme sem personalidade e que não faz jus ao original, nisso estou plenamente de acordo, mas não é uma agressão audiovisual. É, enfim, apenas mais uma continuação hollywoodiana inofensiva que existe unicamente para oferecer a mesma coisa novamente, só que, talvez, com mais fogos de artifício e, no processo, arrancar alguns dólares dos bolsos de quem esperava algo parecido com o original.

O Corvo: A Cidade dos Anjos (The Crow: City of Angels – EUA, 1996)
Direção: Tim Pope
Roteiro: David S. Goyer (baseado em quadrinhos de James O’Barr)
Elenco: Vincent Pérez, Mia Kirshner, Richard Brooks, Thuy Trang, Iggy Pop, Thomas Jane, Vincent Castellanos, Eric Acosta, Beverley Mitchell, Ian Dury, Tracey Ellis, Alan Gelfant, Kerry Rossall, Deftones
Duração: 90 min.

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