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Crítica | A Noite Do Chupacabras

Um filme fervilhando de ideias, mas carente de coesão e organização.

por Rafael Lima
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Desde o lançamento de seu longa-metragem de estreia, Mangue Negro (2008), o diretor capixaba Rodrigo Aragão foi se consolidando como um dos grandes representantes do cinema de terror brasileiro no Século XXI. Mangue Negro chamou muito a atenção nos festivais por onde passou pela forma honesta com que abraçava a estética Trash em uma história com fortes tintas regionais, que sabia não se levar a sério, mas que ainda se mantinha fiel às jornadas dramáticas simples, mas sólidas de seus personagens. Assim sendo, criou-se bastante expectativa na época para o projeto seguinte de Aragão, que prometia lidar com um famoso causo popular da história do nosso país, o Chupacabras. Então, em 2011, quando A Noite dos Chupacabras foi lançado, o público viu um Rodrigo Aragão que refinou a sua direção, mas ainda não o suficiente para suportar as suas ambições narrativas.

Na trama, situada em um isolado povoado no interior do Brasil, as famílias Silva e Carvalho mantêm um conflito violento que já dura várias décadas. Quando Ricardo Silva (Ricardo Araújo) volta para sua casa para apresentar a sua esposa (Mayra Alarcon), que carrega um filho dele, uma morte acidental acaba reacendendo o antigo ódio entre os Silva e os Carvalho, dando início a um confronto mortal. Para piorar, enquanto a contenda se desenrola, uma sinistra criatura ronda as propriedades das duas famílias, se alimentando de qualquer um que encontre.

Com A Noite Do Chupacabras, Rodrigo Aragão demonstra clara evolução técnica quando comparado ao seu projeto anterior. O trabalho de direção de fotografia é claramente mais profissional, além do trabalho de montagem soar bem menos amador, tornando os cortes e transições de cenas um pouco mais fluidos. Mas a grande evolução de Aragão, que mais uma vez acumula as funções de diretor, roteirista, maquiador, montador e supervisor de efeitos visuais, está mesmo no departamento de efeitos especiais, principalmente no que diz respeito aos efeitos práticos e de maquiagem, com várias passagens destacando o trabalho do realizador nessa área. E dá-lhe homens vomitando um na cara do outro por causa de carne estragada, dedos decepados por causa de um tiro, personagens tendo a cabeça arrancada, a garganta dilacerada, tomando tiros no rosto, e por aí vai. Para quem gosta de um bom banho de sangue e tripas, não deve se decepcionar com este A Noite Do Chupacabras. O personagem título também é muito bem retratado. A decupagem de Aragão é bastante eficiente em saber quando mostrar e quando ocultar o Chupacabra. Cada aparição do monstro é bastante valorizada e, pelo menos para mim, em nenhum momento a criatura parece artificial. Gostei do aspecto reptiliano dado a ela, soando bastante ameaçador, principalmente quando a vemos surgir lentamente das sombras, atrás de vítimas incautas.

 Mas o filme apresenta uma quantidade grande de defeitos que acabam enfraquecendo a experiência, sendo a falta de carisma de seus personagens o maior deles. Se em seu trabalho anterior, Aragão usava os momentos de respiro do filme para nos fazer simpatizar de alguma forma com os seus protagonistas, nos fazendo temer por seus destinos, aqui o mesmo não acontece infelizmente, e os poucos momentos de respiro que o filme possui são muito arrastados. A verdade é que o público não consegue gostar de nenhum dos personagens e quer logo que o Chupacabra mate todos de uma vez, ou que eles matem uns aos outros; o que, na verdade, é o mais provável.

 Ao invés de apostar na simplicidade, o roteiro de Aragão cria antigos dramas para o insosso protagonista, que em nada contribui para a sua evolução ou para identificação do público com ele, sendo, portanto, um background inútil. E não contente em explorar a lenda do Chupacabra, Aragão resolve jogar outra típica figura do folclore brasileiro, o Velho do Saco (Cristian Verardi), no meio de sua história, o que até poderia ser interessante. Mas a figura do Velho Do Saco acaba sendo apenas um deus ex machina (ou nesse caso, diabolus ex machina), e quase tão rápido quanto foi introduzido na trama, o personagem é removido, em uma grande bola fora do realizador.

Além disso, apesar de ter evoluído bastante como montador, quando comparamos a montagem desse filme com a de Mangue Negro, esta evolução ainda não faz de Rodrigo Aragão um especialista na área. A forma como ele divide as ações supostamente paralelas é completamente confusa, tirando a tensão de muitas passagens da obra, como determinado momento em que acompanhamos o ataque do monstro do título às mulheres deixadas sozinhas na casa da Família Silva. Seria um departamento que o cineasta evoluiria em filmes seguintes, mas aqui ele ainda não chegou lá, e felizmente passaria a delegar essa função para outros profissionais em seus projetos futuros. 

A Noite Do Chupacabras é um filme que claramente carrega a paixão de seus realizadores, e merece pontos só pelo caldeirão de ideias fervilhantes que apresenta na tela. Por outro lado, nem sempre essas ideias, por mais divertidas e visualmente impressionantes que sejam, conseguem formar uma narrativa coesa ou ressoar emocionalmente com o público. Talvez o que mais acaba pesando negativamente neste segundo longa de Rodrigo Aragão é a falta de personagens mais carismáticos com quem o público consiga se importar de alguma forma, o que impede qualquer filme de terror, por mais chocante e divertido que seja, de alçar voos mais altos.

A Noite Do Chupacabras (Brasil, 2008)
Direção: Rodrigo Aragão
Roteiro: Rodrigo Aragão
Elenco: Ricardo Araújo, Mayra Alarcón, Petter Baiestorf, Joel Caetano, Jorgemar De Oliveira, Kika Oliveira, Waldemarra Dos Santos, Margareth Galvão, Markus Konká, Eduardo Moraes, Fonzo Squizzo, Alzir Valliant, Cristian Verardi, Milena Zacché, Foca Magalhães
Duração: 95 Minutos

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