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Crítica | Deadpool & Wolverine: WWIII

Um bom team-up caótico.

por Ritter Fan
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Quase que por tradição, os team-ups super-heróicos em quadrinhos costumam ser breves, movimentados e autocontidos, criando o que podemos chamar de uma cápsula temporal que não exatamente afeta continuidades e que, portanto, podem ser apreciados em qualquer momento. Por outro lado, para que eles funcionem a contento, é necessário algo muito semelhante aos team-ups audiovisuais, ou seja, uma imediata conexão entre os dois ou mais personagens que se juntam para cumprir alguma missão e isso nem sempre é fácil de se conseguir.

Felizmente, o que Joe Kelly faz na mais recente reunião de Deadpool com Wolverine nos quadrinhos, uma tradição já razoavelmente batida desde que os dois se encontraram pela primeira vez em Wolverine (Vol. 2) #88, de dezembro de 1994, funciona bem, pois o roteirista, ao mesmo tempo que trabalha o trivial desses encontros, acrescenta boas pitadas de puro caos narrativo, mas sem que ele se perca ou se desvie do principal. E, mesmo considerando que a história se passa na cronologia atual dos personagens, o melhor de tudo é que ele escreve daquele jeito exagerado característico dos anos 90, com Adam Kubert, na arte, emulando também o histrionismo visual da década (que eu pessoalmente desgosto), mas, como Kelly, sem perder o controle do que faz, algo que seria muito fácil e até tentador que acontecesse.

A premissa é simples: Wolverine está no Canadá tentando achar um assassino serial a pedido de uma amiga policial e Deadpool está atrás da mesma pessoa, só que na qualidade de mercenário contratado pelo misterioso Delta. A reunião dos dois, portanto, é simples e quase instantânea, sem que o roteirista perca tempo com prólogos complexos ou enrolações desnecessárias. Aliás, “reunião” não é bem a palavra, pois de seu jeito simpático de ser, Wolverine não suporta Deadpool que, por seu turno, adora Wolverine, criando uma (des)conexão semelhante à de Penelope Pussycat, aquela gata preta que, depois de ter uma listra branca inadvertidamente pintada no seu pelo, passa a ser assediada pelo cangambá Pepe Le Pew. Mas há uma reviravolta: depois que o vilão é liquidado, Deadpool desaparece e Wolverine, então, passa a tentar localizá-lo, parando em Irkutsk, na Rússia, e descobrindo que o tal Delta fez uma espécie de upgrade em Deadpool, transformando-o em uma máquina de matar descerebrada que tem o Carcaju como seu alvo, tudo com o objetivo de fazer uma demonstração para um clube de bilionários decadentes (o subtítulo da história, WWIII, não só é uma menção à Terceira Guerra Mundial, ou World War III, em inglês, como é, também, a sigla do nome que Delta batiza o novo Deadpool, Wade Wilson III, pois é a terceira versão de Wilson, por assim dizer).

Na prática, as supostas melhorias em Deadpool são irrelevantes para a história, já que, para além de um uniforme completamente novo, com um capacete no estilo do Cobra Commander no lugar de máscara, as habilidades do Mercenário Falastrão não são efetivamente alteradas. O que importa é a pancadaria entre os dois que começa a correr solta por todo o complexo de Delta e também por toda a tundra russa graças aos poderes de teletransporte de sua lacaia Grace ao longo não de horas, mas de semanas. Na verdade, o que importa mesmo é como Kubert desenha essa pancadaria, pois o artista parece estar no absoluto controle de sua arte ao longo das espetaculares páginas que desenha, usando e abusando de spreads, páginas inteiras e recortando a narrativa de maneira sempre inventiva e engajadora, que torna a leitura fácil e, mais ainda, um prazer que pede aquela calma do leitor para observar todos os sanguinolentos detalhes.

E, se já vimos tanto Deadpool quanto Wolverine serem trucidados de todas as formas possíveis ao longo de suas milhares de histórias, diria que Kelly e Kubert encontraram uma maneira nova de fazer isso que, claro, não revelarei aqui, bastando dizer que é insanamente divertido, repugnante e hilário em medidas iguais (eu acho), com a terceira e última edição da minissérie dedicando boa parte de seu tempo a essa… sandice criativa. Essa é, aliás, mais uma razão para o team-up funcionar muito bem, pois, em um mundo de extremos na arte pop em que vivemos, a busca daquele famoso “plus a mais” é constante e, na maioria das vezes, ele não é encontrado. Mas, aqui, tenho para mim que a dupla de artistas encontrou e criou algo que funciona tanto visual quanto narrativamente, com os diálogos de Deadpool lidando com esses momentos sendo genuinamente hilários (e olha que eu comumente acho o personagem uma mala sem alça).

Deadpool & Wolverine: WWIII é uma insanamente divertida pancadaria entre os personagens do título que funciona por ser focada, breve e costurada com momentos inteligentes e bem sacados que não dependem de nada exterior à história sendo contada. Claro que, como a Marvel Comics é a Marvel Comics, a minissérie acaba aberta o suficiente para que ela possa ser facilmente continuada com uma segunda dose da dupla caso as vendas assim justifiquem, mas isso faz parte do negócio e, devo dizer, não detrai da experiência aqui.

Deadpool & Wolverine: WWIII (EUA, 2024)
Contendo: Deadpool & Wolverine: WWIII #1 a 3
Roteiro: Joe Kelly
Arte: Adam Kubert
Cores: Frank Martin
Letras: Joe Sabino
Editoria: Drew Baumgartner, Mark Basso, C.B. Cebulski
Editora: Marvel Comics
Datas originais de publicação: 1º de maio, 12 de junho e 24 de julho de 2024
Páginas: 80

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