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Crítica | A Máquina de Matar (Príncipes Demônios #2), de Jack Vance

Ficção científica com pitadas de fantasia.

por Ritter Fan
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Lançado diretamente como livro no final de 1964, o mesmo ano em que Star King terminava de ser serializado e também publicado como livro, A Máquina de Matar é o segundo capítulo da saga sci-fi pulp do vingativo Kirth Gersen em busca dos chamados Príncipes Demônios, quinteto responsável pela destruição de sua colônia e assassinato de toda sua família, menos seu avô que, então, o treinou justamente para perseguir e liquidar aqueles que dizimaram seu clã. No primeiro livro da série, o prolífico autor americano Jack Vance estabelece o padrão que seria adotado por ele ao longo das quatro obras seguintes: um vilão cuja aparência ninguém realmente conhece, mas que todos temem, e que permanece quase o tempo todo escondido, exigindo que o herói conceba planos complexos e engenhosos para localizá-lo.

Em Star King, o alvo foi Attel Malagate (originalmente batizado de Grendel, nome, claro, retirado do poema épico medieval Beowulf) e, em A Máquina de Matar, é Kokor Hekkus, com quem Gersen primeiro se depara usando o nome Billy Windle, passando a fazer de tudo para persegui-lo. Como de praxe em obras do gênero e especialmente no caso de Jack Vance, autor normalmente pouco lembrado no gênero da ficção científica, mas que tinha uma mente fascinante, capaz de construir universos sensacionais com muita economia narrativa, o que realmente importa nesta segunda obra da saga de Kirth Gersen é a complexa e variada maneira como a expansão desse universo é feita. Nesse futuro distante, a Terra colonizou diversos outros planetas, mas existe uma fronteira, chamada de Além, ou Beyond, no original, que emula a abordagem de obras de faroeste, na linha do Destino Manifesto, e que abre espaço para leis mais elásticas e situações diferentes dentro da supostamente mais avançada civilização humana.

E é usando essa estrutura que, aqui, Vance cria uma espécie de entreposto, uma entidade especializada em intermediar sequestros e os respectivos pagamentos de resgates, mantendo os sequestrados em custódia em algo parecido com um hotel ou resort dividido em diversas categorias, de quartos mais simples até luxuosas instalações, dependendo do dinheiro que está envolvido no processo. Hekkus é um dos maiores clientes desse refúgio intermediador, sequestrando dezenas de pessoas para amealhar dinheiro para, por sua vez, pagar o resgate altíssimo que a bela jovem Alusz Iphigenia Eperje-Tokay, que diz vir do mítico planeta perdido Thamber, estabeleceu para si mesma, em algo que pode ser classificado como auto sequestro, a única maneira que ela encontrou para se proteger do vilão. Esse é o ponto em tese fraco que Kirth Gersen usa para construir seu plano, construção essa que acaba o levando a achar Thamber, onde a abordagem de ficção científica e mesclada com fantasia.

Apesar de começar talvez um pouco lentamente demais, quando Jack Vance mergulha nas complexidades dessa estrutura bizarra de sequestros e resgates intermediados por uma entidade neutro e poderosa, a história ganha um excelente passo que segue por caminhos inusitados, como é toda a ação em Thamber e também por uma abordagem mais ampla de Kirth Gersen, que ganha um pouco mais de humanidade, o que acaba retirando um pouco da unidimensionalidade que tem no primeiro romance. Com isso, A Máquina de Matar acaba sendo uma história mais completa, mais engajante e mais bem acabada do que a do romance anterior, com uma evolução muito interessante a cada novo capítulo, que normalmente vem com uma nova situação em um novo lugar, mas sempre de maneira fluida e orgânica.

Já no segundo volume da saga de Kirth Gersen, Jack Vance consegue ir além do que uma simples narrativa pulp sci-fi, encontrando uma boa voz e um bom ritmo para seu protagonista e para um universo em expansão que é tão estranho quanto fascinante. Não é, claro, ficção científica particularmente complexa, mas é um básico muito bem feito que encanta o leitor assim que Vance engrena de verdade na história.

A Máquina de Matar (The Killing Machine – EUA, 1964)
Autoria: Jack Vance
Editora original: Berkley Books
Data original de publicação: novembro de 1964
Editora no Brasil: Editora Francisco Alves
Data de publicação no Brasil: 1980
Páginas: 178

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