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Crítica | The Acolyte -1X08: O Acólito

Amplitude do dualismo, mas sem decisões.

por Davi Lima
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O Acólito

  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série. o acólito

Apesar de The Acolyte parecer ousada em narrar uma história na perspectiva dos Sith, não tem culhão para vilanizar os Jedi, como tanto a série oportuniza-se. Matar Jedi como apresentação da série e terminá-la com a protagonista indo para o lado sombrio da Força é coerente para apresentar o acólito, mas seus argumentos são muito dualistas para não tomar decisões sobre seus personagens — uma estratégia de mercado para tentar não perder novos fãs, e ganhar novos fãs sem a necessidade de conhecer toda a franquia.

Como comentei no texto do primeiro e segundo episódio, o ritmo Netflix junto com a desvirtuação do imaginário sobre os Jedi tenta unir a arte e mercado para uma história que se passa antes dos filmes. Um cenário aberto. O grande problema é que a estrutura de lançar semanal uma obra para forçar o público a ficar num suspense competiu, nessa série, com o desenvolvimento de personagens. Em meio as ideias que ampliam a temática corrupta/política dos Jedi dos Prelúdios — toda a época da Queda dos Jedi — existe uma narrativa escrita sem revisão, algo apressado com impactos a qualquer custo. Assim, todas as decisões subjetivas da série se perdem por confundir a manutenção do dualismo constante com a fórmula narrativa maniqueísta de Star Wars.

Essa confusão é como uma mistura de dois recentes filmes da franquia. Star Wars Os Últimos Jedi, tão criticado pelos alongados dualismos e rupturas de imaginários, decide destinos e histórias dos protagonistas no maniqueísmo de serem bons e maus, mesmo não agradando. Já Star Wars Ascensão Skywalker, em meio as suas referências nostálgicas, há a segurança narrativa de não tomar decisões e apresentar dualismos convincentes, em que todo mundo é Jedi numa personagem e todo mundo é Sith em Darth Sidious.

O Acólito, esse último episódio da primeira temporada de The Acolyte, é uma mistura desses dois filmes. É uma clara representação de que a Lucasfilm, produtora de Star Wars pela Disney, tenta equilibrar visões distintas. Convida Leslye Headland, showrunner, uma fã, para trabalhar com uma sala de roteiristas que nunca viram Star Wars, brincando com dualismos possíveis da saga para desenvolver novas abordagens, ou atualizações de abordagens antigas. No entanto, joga com o espectador o maniqueísmo em cima da hora. Um Darth Plagueis e um Yoda, tudo para garantir os Sith como influências sombrias por trás do bondoso Qimir com a Osha, e Yoda para apaziguar o fã que quer os Jedi como protagonistas heroicos — nem sempre foram nos filmes, e a série lembra bem disso.

Assim, após Escolha ser um episódio que tira as noções maniqueístas da Força, de bem e mal — que a série colocou os Jedi como opressores políticos — e mostra a variedade nas visões dos Jedi, a série mantém a ambiguidade, um drama para interpretarmos motivações dos personagens, como Sol, mas apenas para garantir uma literalidade da série sobre um tema: Jedi não sabem lidar com as emoções. O senador Rayencourt (David Harewood), finalmente aparecendo depois de ser citado no episódio Dia, tem um diálogo muito debochado sobre os Jedi, que resume a temporada. Isso mostra como ao longo de oito episódios priorizou-se um suspense sobre um flashback, dispensando conexões de ideias complexas, cinzas sobre seus personagens.

Por causa disso, quando todas as conclusões se fazem em Brendok, expõem-se muitos efeitos emocionais empolgantes, mas desregulados. Osha descobre que pode prever o futuro “do nada”, a transformação poética do cristal kyber, uma perseguição de naves num campo de asteroides e uma batalha de sabres no estilo chinês de cinema — desconexo da série, ainda que sendo uma referência que combine com Star Wars. Mesmo que cada peça dessa leve personagens para um grande confronto digno da saga, são como movimentos empurrados por não ter mais tempo para outra finalização. Osha por vez parece certa que Sol ajudou-la a lidar com as emoções, mas diante da revelação do assassinato de mãe Anyseia essa segurança vai embora. Nenhuma dessas reações parecem segundo a influência de Qimir, posto como passivo diante das gêmeas, pois ele rapidamente se tornou um mestre que permite as escolhas de suas aprendizes…

Em geral, temos uma grande confusão na tentativa de abordar novas facetas de Star Wars, fisgando o conceitos interessantes, mas que finaliza a temporada em baixa. Se por um lado os Jedi são culpados por uma tragédia, e não sabem lidar com as emoções, eles também são investigados pelo senado, e as mentiras se tornam raízes para esconder um mal pior — que eles julgam ser pior no momento. Sobre os Sith, há uma negação por esse nome, é só mais uma maneira de manipular a Força, mas sempre está atrelado a um mistério que esconde poderes opressores para criar vida. Qual a perspectiva da série, então? O Acólito embeleza com praia e sol uma dupla de mestre e aprendiz do lado sombrio, e mostra os Jedi indo atrás de ajuda em Yoda. Qual a decisão, afinal? O dualismo nunca quer se interromper, ficando tudo no mistério…

Enfim, a série tentou impregnar mudanças de interpretação, mas, afinal, só amplia o dualismo do lado sombrio e lado luminoso da Força, sem decidir seu lado, apagando até memórias de Mae. Não basta colocar uma ambiguidade como maneira de evitar uma moral, que com flashbacks e discursos mostraram os Jedi decadentes como Ordem e Conselho. Mesmo que de maneira simples pareça tudo definido sobre a perspectiva dos Sith, como a showrunner afirmou, não parece que a diretora Hanelle Culpepper (boa diretora) indica isso. De uma investigação de assassinato ao acobertamento de outro assassinato, há escolhas escondendo a Força do destino da narrativa, — que revela um ex-aprendiz de Vernestra — que mais perdem o desenvolvimento de conceitos do que agrega os opostos, como os títulos indicavam: dia/noite, ensinar/corromper, escolha/destino… Acaba só virando um estilo, vazio, sem profundidade, para apresentar o novo que nem é tão novo assim.

The Acolyte – 1X08: O Acólito (The Acolyte – 1X08: The Acolyte – EUA, 16 de julho de 2024)
Criação: Leslye Headland
Direção: Hanelle M. Culpepper
Roteiro: Jason Micallef
Elenco: Amandla Stenberg, Lee Jung-jae, Manny Jacinto, Rebecca Henderson, David Harewood, Harry Trevaldwyn
Duração: 49 min.

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