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Crítica | Um Tira da Pesada 4: Axel Foley

Uma bem-vinda surpresa!

por Ritter Fan
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Diante das duas sequências ruins do clássico Um Tira da Pesada e da recente tentativa patética de Eddie Murphy de fazer uma continuação tardia de seu sucesso Um Príncipe em Nova York, não esperava absolutamente nada de bom do quarto filme da franquia que o Netflix produziu depois de obter uma licença limitada a um longa, com opção de uma continuação, da Paramount Pictures que vinha tentando fazer o filme desde a segunda metade dos anos 90. No entanto, contra todas as probabilidades, especialmente considerando que Mark Molloy é um estreante na direção de longas e que a trinca de roteiristas formada por Will Beall, Tom Gormican e Kevin Etten não tem currículos sólidos, Um Tira da Pesada 4: Axel Foley é uma gostosa surpresa que, por incrível que pareça, consegue retornar ao espírito do longa original de nada menos do que 40 anos atrás.

Claro que uma continuação que vem três décadas depois da última continuação (sem contar com o piloto da série que jamais foi produzida, claro) não poderia abrir mão de usar a nostalgia como uma de suas armas e a produção não tem o menor pudor em seguir dessa forma, já abrindo o longa com The Heat Is On na versão original e trazendo de volta, além de Murphy, obviamente, os veteranos Judge Reinhold, John Ashton, Paul Reiser e Bronson Pinchot. Interessantemente, porém, apesar de o apelo à nostalgia estar sempre presente, o roteiro consegue afastar-se um pouco da muleta narrativa que ela normalmente representa, com uma história de investigação policial que não é exatamente fora desse mundo, mas que faz bom uso do novo elenco formado por Taylour Paige como a advogada criminalista Jane Saunders, que é filha de Axel Foley com uma relação complicada com o pai, Joseph Gordon-Levitt como o detective Bobby Abbott, ex-namorado de Jane que se torna o parceiro da vez de Foley e Kevin Bacon como o corrupto Capitão Cade Grant, da divisão de narcóticos da polícia de Beverly Hills.

Na história, depois da tradicional, mas pouco inspirada abertura em Detroit, Foley parte para Beverly Hills em razão de um atentado que sua filha sofre quando passa a representar um homem suspeito de matar um policial. O caso em si que, claro, se conecta com o personagem de Bacon, é apenas a desculpa para que Foley faça o que faz de melhor, que é desobedecer todas as regras possíveis e fazer da arte do improviso a chave para entrar em qualquer lugar. Mas o que importa é que essa desculpa funciona bem para estabelecer a conexão – ou a falta dela – entre Foley e a filha e entre Foley e Abbott, além de com seus ex-colegas John Taggart (Ashton) que retornou da aposentadoria aludida no terceiro filme e tornou-se chefe de polícia, e Billy Rosewood (Reinhold), que se aposentou e se tornou detetive particular obcecado com o caso que envolve Grant. No entanto, o trio original permanece substancialmente separado e tanto Ashton quanto Reinhold são usados apenas parcimoniosamente, de forma que a narrativa central com os novos personagens possa funcionar sem que o elenco pareça inchado.

E funciona. Funciona porque os clichês do gênero – que são muitos e usados desavergonhadamente – são bem costurados na trama simples, com a direção consistente de Molloy funcionando como a necessária cola para estabelecer fluidez e coerência narrativa, além de boas atuações da trinca central e também do vilão de Kevin Bacon que, claro, refestela-se na simpática canastrice de sempre. E funciona também porque a história abraça a seriedade, algo que as duas continuações anteriores falharam em fazer e se perderam no processo. Sim, Murphy faz lá suas gracinhas tradicionais, mas toda a pegada é mais séria, ainda que longe de pesada, com relacionamentos sendo discutidos e passados sendo remexidos, até porque retornar de verdade ao humor do primeiro filme, calcado na premissa de “estranho em terra estranha”, há muito não era mais possível. Além disso, diferente do que eu poderia imaginar, a produção não sucumbe à computação gráfica como poderia muito facilmente acontecer. Ao contrário, as sequências de ação, basicamente perseguições, inclusive uma aérea, fazem bom uso dos sempre confiáveis efeitos práticos com dublês, carros e helicópteros de verdade, além de filmagens em locação em Beverly Hills.

Cinco anos depois de Meu Nome é Dolemite, Eddie Murphy finalmente consegue fazer um filme realmente bom e ele é logo uma continuação tardia de uma de suas mais importantes obras que, infelizmente, jamais ganhou uma sequência decente. Foram necessários nada menos do que 40 anos para o ator realmente ser uma versão respeitável daquele Axel Foley de 1984 e é um prazer tê-lo de volta ao papel em um longa que não decepciona. Mesmo sabendo que um quinto filme provavelmente é inevitável, talvez seja melhor deixar o detetive de Detroit descansar em paz agora.

Obs 1: Não é impressionante como Eddie Murphy está fisicamente muito bem, especialmente se compararmos com o restante do elenco original que retorna para o filme?

Obs 2: Sem querer dar uma de esnobe, mas fico triste que o título em inglês tenha eliminado o numeral romano que marcou a franquia e o em português tenha usado o numeral arábico, muito provavelmente porque o departamento de marketing imaginou que poucos saberiam que IV é 4. Um sinal de que os sistemas educacionais do mundo estão cada vez piores? Ou é Hollywood subestimando seu público mais uma vez?

Um Tira da Pesada 4: Axel Foley (Beverly Hills Cop: Axel F – EUA, 03 de julho de 2024)
Direção: Mark Molloy
Roteiro: Will Beall, Tom Gormican, Kevin Etten (baseado em personagens criados por Danilo Bach e Daniel Petrie Jr.)
Elenco: Eddie Murphy, Joseph Gordon-Levitt, Taylour Paige, Judge Reinhold, John Ashton, Paul Reiser, Bronson Pinchot, Kevin Bacon, Jameison Walker II, Tony Jones, Ed Cali, Brandon Edward Butler, Kyle S. More, Kenneth Nance Jr., Chuck McCollum, D.A. Obahor, Jon Lee Richardson, Bee-Be Smith, Luis Guzmán, Damien Diaz, Christopher McDonald
Duração: 118 min.

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