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Crítica | A Casa do Dragão – 2X03: O Moinho Ardente

Sangue quente.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos outros episódios da série, e, aqui, todo o nosso material de Game of Thrones.

Em mais um episódio de queima lenta, O Moinho Ardente é um literal “calmaria antes da tempestade”. Mesmo que a Dança dos Dragões não se inicie no próximo episódio, a abordagem do texto aqui é construir os últimos passos do vindouro derramamento de sangue da guerra civil e da inevitabilidade da batalha, por mais que Rhaenyra esteja tentando de tudo para evitar o conflito. O ritmo novamente é lento, organizando as peças do tabuleiro e algumas tentativas finais de paz, com comentários diretos sobre a falta de sentido da guerra.

Tematicamente falando, gosto muito do episódio. A sequência inicial de Bracken e Blackwood é emblemática da discussão que percorre as interações dos personagens, com uma briga boba incitando uma carnificina. A escolha em não mostrar a batalha em si pode soar duvidosa (redução de orçamento pode ser uma das razões), mas o corte de cena de uma pequena desavença para um campo de cadáveres é formalmente chocante e dita o tom do restante do episódio, que continuamente tenta criar uma reflexão em torno das motivações da guerra dos Targaryens pelo trono.

A conversa entre Rhaenys e Rhaenyra sobre qual foi o estopim do conflito é outro momento que enfatiza o debate do roteiro, em mais uma cena marcante, tanto pelas ótimas performances quanto pela controvérsia que de muitas formas espelha nosso mundo. Talvez o texto de David Hancock seja até muito expositivo e pouco sutil (repetindo um problema constante da série), mas aprecio a maneira como o roteirista lida com o tema da guerra civil, basicamente uma picuinha familiar ganhando proporções cada vez maiores, indo de um mal-entendido de Alicent até a decapitação de uma criança.

Narrativamente, porém, vejo como mais um episódio que derrapa muito. A infiltração de Rhaenyra em Porto Real é exemplificativa de uma certa preguiça ou no mínimo limitação da série em desenvolver os acontecimentos da história com mais inteligência. Falta uma lógica interna perspicaz para que as ações dos personagens soem menos como artifícios do roteiro para nos levar do ponto A ao ponto B. Por exemplo, é o terceiro episódio seguido com um penetra em um dos lados com uma extrema facilidade que beira a imbecilidade. A decisão de Cole em caminhar para uma batalha com um pequeno grupo de soldados ou então a participação incrivelmente óbvia de Larys Strong (que deixa claro suas maquinações em todo olhar e em cada palavra) são mais exemplos de uma narrativa pouco engenhosa.

As interações familiares entre os personagens continuam sendo o destaque do drama familiar da produção. Mesmo em passos claudicantes, a produção tem conseguido integrar todos os membros da família Targaryen com bons arcos (não digo o mesmo dos coadjuvantes e outros membros da corte, apesar de uma tentativa inicial de expansão da história), em especial o embate de Alicent e Rhaenyra, que nasce de uma ideia ruim, mas com um ótimo desfecho. A surpresa de Alicent em descobrir que foi tudo um mal-entendido (ou talvez o empurrãozinho que ela precisa para assumir sua ambição) é o melhor momento do episódio para mim, principalmente pela maneira cínica e pessimista que o encontro entre as mulheres termina, ambas cientes de um massacre que não pode ser mais evitado.

O bloco de Daemon é algo a ser pontuado. É esquisito ao ponto de ser interessante, com toques leves de horror em um castelo “amaldiçoado” e uma excelente participação especial de Milly Alcock para revelar a solidão e os demônios do personagem. No fim, o grande mérito de O Moinho Ardente é temático, apostando em demonstrar a trivialidade e a mesquinharia da guerra, nascendo de desentendimentos e bate-bocas que aos poucos escalonam para conflitos gigantescos. Não é exatamente um grande episódio político, tampouco tão bem desenhado narrativamente, mas levanta reflexões interessantes para os personagens, mantém a toada do bom drama familiar e faz as preparações finais para o verdadeiro combate. As ofertas de paz acabaram, que haja fogo.

A Casa do Dragão – 2X03: O Moinho Ardente (House of The Dragon – 2X03: The Burning Mill) | EUA, 30 de junho de 2024
Criação: 
Ryan J. Condal, George R. R. Martin
Direção: Geeta Vasant Patel
Roteiro: David Hancock
Elenco: Matt Smith, Emma D’Arcy, Rhys Ifans, Steve Toussaint, Eve Best, Sonoya Mizuno, Fabien Frankel, Olivia Cooke, Matthew Needham, Tom Glynn-Carney, Ewan Mitchell, Phia Saban,Harry Collett, Bethany Antonia, Phoebe Campbell, Jefferson Hall, Kurt Egyiawan, Kieran Bew, Abubakar Salim
Duração: 67 min.

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