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Crítica | Um Lugar Silencioso: Dia Um

Ainda mais lugares silenciosos.

por Roberto Honorato
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Depois de John Krasinski dirigir os dois primeiros filmes da franquia Um Lugar Silencioso, que tem sido bem recebidos pela crítica e público, era inevitável que um terceiro filme, tecnicamente um spin off, fosse incluído no que provavelmente será uma série de longas bem maior do que esperávamos. Michael Sarnoski, diretor desse derivado, fez um dos meus filmes favoritos da última década, o belo e absurdo Pig – A Vingança (sim, é aquele em que a personagem do Nicolas Cage vai atrás de quem raptou sua porca premiada famosa por caçar trufas caríssimas), então é uma mudança de direção no mínimo curiosa para uma franquia de maior orçamento, voltada para horror e ação com monstros alienígenas com sensibilidade sonora. 

Interpretada por Lupita Nyong’o, Sam é uma mulher lidando com seus próprios problemas, cansada da rotina de estar constantemente frágil e com dores constantes por conta de um câncer terminal, ela já aceitou o seu destino e tudo que quer é um pedaço de pizza, um último prazer antes de se despedir. Seus planos são atrasados quando uma invasão alienígena toma conta do país e ela faz de tudo para salvar seu gato e correr contra o tempo para realizar seu último desejo, o que precisa fazer em completo silêncio. 

A ideia da condição específica da protagonista em contraste com o mundo em chamas de Um Lugar Silencioso abre incontáveis possibilidade para construir uma narrativa bem diferente do que assistimos anteriormente, não só pela mudança do núcleo dramático, mas pela ambientação, agora em uma cidade grande como Nova York, que vai de 90 decibeis (como anunciado nos créditos iniciais do longa) ao completo silêncio. Michael Sarnoski constrói um thriller em cima da premissa básica, e mesmo que no início pareça que o filme será carregado completamente pela atuação de Lupita Nyong’o, logo somos apresentados ao personagem de Joseph Quinn, Eric, um advogado perdido e fácil de assustar que funciona bem em contraste com Sam, a poetisa mais introspectiva com uma missão objetiva. 

A abordagem de Sarnoski, que também assina o roteiro, procura um tom melancólico no drama e na construção de mundo, recebendo algumas pequenas atualizações, mas sem muita clareza, incluindo o retorno de figuras dos filmes anteriores, como é o caso da personagens de Djimon Housou, que esteve presente em Um Lugar Silencioso: Parte II, e aqui faz uma rápida aparição, ainda que sirva para estabelecer um ponto de virada na trama que atua como contraste entre as atitudes dele e da protagonista, mas acaba sendo apenas uma conexão superficial que pareceu mais como um elemento obrigatório do que um avanço natural da história, começando aí um dos principais problemas do longa, constantemente tímido e ao mesmo tempo inseguro na sua proposta, inclui informações que parecem ser exclusivamente construção de mundo para filmes futuros (o que ativou meu trauma de franquias como Cloverfield). 

Há uma indecisão da obra em ser um thriller dramático pós-apocalíptico ou uma ação blockbuster com monstros alienígenas – duas promessas que funcionam muito bem nas mãos de um diretor que soubesse integrá-los com mais cuidado, o que é uma pena porque há uma delicadeza muito bem executada no pouco que é estabelecido sobre o passado das personagens, com uma ótima dinâmica entre Nyong’o e Quinn, ofuscada por pequenos jumpscares mal utilizados e previsíveis, nível criatura pulando na tela acordando a protagonista de um sonho, por conta de um diretor sem muita experiência em filmes de terror ou ação, essa sendo o ponto mais baixo de todos, com uma câmera realista “handheld” que pode funcionar quando tenta construir tensão em espaços menores, porém limita demais as sequências de ação quando mais de uma criatura está presente, o que é a maioria dos casos. 

Um Lugar Silencioso: Dia Um procura novas abordagens para a franquia, e mesmo com um diretor competente, precisa de uma identidade mais forte que não limite o filme a apenas um derivado sem o mesmo peso dos filmes principais da saga. 

Um Lugar Silencioso: Dia Um (A Quiet Place: Day One – EUA, 2024)
Direção: Michael Sarnoski
Roteiro: Michael Sarnoski, baseado na obra de John Krasinski e Bryan Woods
Elenco: Lupita Nyong’o, Joseph Quinn, Alex Wolff, Djimon Hounsou, Thara Schoon, Thea Butler, Alfie Todd, Elijah Ungvary, Alexander John, Eliane Umuhire
Duração: 100 min.

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