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Crítica | The Acolyte – 1X05: Noite

Confissões de uma crise novelesca "netflixada".

por Davi Lima
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Noite

  • spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série.

Para se fazer produções audiovisuais, que dependem muito do teor emocional para captar e definir o público que assiste, as escolhas de corte, de seleção e descarte de cenas são muito delicadas. Quando os episódios Dia e Noite existem por um corte artificial de um grande episódio de 1h em dois de 30 min, qual a escolha feita aqui? Uma escolha didática, uma escolha financeira e uma escolha ludibriante; tudo junto em prol do consumo, do 8 ou 80, em que o mistério é o trunfo principal, muito mais que o drama. Por isso, o quinto episódio, Noite, é a evidência mais concreta das irregularidades da série The Acolyte.

Ao invés da revelação de diálogos literais e com mistério, a ação com sabres de luz e lutas corpo a corpo são a entrega da vez de novas interpretações e rascunhos de algo estar por vir. Não há dúvida que é empolgante, até porque a expectativa narrativa da manhã chegar para a escuridão noturna de Khofar é transpassada pela luta intensa com a iluminação dos sabres. Tal conceito é preservado e desenvolvido com as maravilhosas coreografias e boas estruturas de divisões de lutas espadachins. 

No entanto, no auge da temperatura de lutas, quando o dia chega em Khofar, surge um esfriamento narrativo. Naturalmente sente-se um choque térmico. Se durante a ação já havia uma indecisão de Osha fugir, e uma pergunta o que Mae faria em meio a luta do seu Mestre que ela traiu, as resoluções parecem dramaticamente estarem à parte do grande impacto de uma sequência intensa de lutas. Aprendemos com George Lucas no Episódio 3 a ver uma longa luta com altitudes e planícies dramáticas, como uma sanfona de uma história sendo contada, mas em Noite, o diretor Alex Garcia Lopez, parece ter apenas priorizado a dinâmica de sabres de luz, sem uma frequência emocional bem movimentada no todo do episódio.

Há uma matança de Jedi que é sentida no primeiro plano do episódio, de Osha observando um Jedi caído e a luta de longe. Mas depois, tanto a morte da padawan Jecki quanto de Yord acusam o próprio defeito da série: apressar ou não desenvolver, apenas conceituar. Até George Lucas teve dificuldade disso em seus filmes, valorizando demais os conceitos, mas quando eles se uniam formava-se uma lógica. Diferente nesse episódio, Jecki se demonstra muito guerreira apenas para nós sentirmos sua morte, assim como Yord tem uma morte violenta para dizer que o vilão é realmente forte. Onde está o pesar disso para Sol e Osha? Mesmo que os Jedi queiram segurar seus sentimentos, mesmo que o tempo de luta apresse as emoções, ou até mesmo o luto se expresse de maneiras diferentes, a montagem de cenas do episódio não favorece essas interpretações para o mestre e sua ex-Jedi. Depois que o vilão é levado pelos umbramoths, a cena das irmãs gêmeas conversando soa anticlimática. É como se a luta fosse uma mera transição para apresentar a força do vilão, seus tiques e diálogos misteriosos de Sith e apresentar mais um mistério sobre Sol que ainda vamos descobrir. 

Em geral, há fortes emoções em Noite que prendem inevitavelmente o público, com histórias curtas de lutas em sequências que nos dizem bastante. Sol lutar sem o sabre, de maneira violenta, da mesma forma que o revelado Qimir, diz mais uma faceta desse Jedi, assim como Jecki prender Mae e enfrentar o vilão com competência. Isso tudo traz muita lógica e drama com o escopo da série de analisar a fidelidade dos Jedi em suas hierarquias, como a decadência deles em oprimir outros usuários da Força – como Qimir argumenta. Os diálogos do Sith (também chamado de O Misterioso, claro…) desenham com literalidade esse assunto de novo, bem conectado com o episódio 3. Entretanto, dentro dessa confluência de ideias, há novos mistérios, e novos pontos anticlimáticos – à la episódios 1 e 2.

Quando digo anticlimático não me refiro a contraste de pesos, como algo mais leve e algo mais pesado, porque isso é necessário para a história – apesar da série já se levar a bem a sério. Também não há problema em ter cenas de lutas e depois esfriar para diálogos. O problema é como transitar isso, e equilibrar as forças disso no episódio de maneira harmônica. Parece que faltam habilidades na sala de roteiristas de Leslye Headland para tal objetivo. Com a troca de irmãs gêmeas – para que Mae e Osha experimentem os outros lado da Força para cada uma prova seu ponto – algo tão space opera, finaliza-se Noite de maneira bem concreta a dificuldade da série de tratar o novelesco de Star Wars com o ritmo Netflix. 

Enfim, ao menos The Acolyte a cada episódio define, mesmo de maneira desengonçada e com muito esforço literal (observem os títulos), sua historia de decadência dos Jedi. Colocar Sol como protagonista desse percurso é muito acertado. Esperando mais ainda de Lee Jung-jae nos próximos 3 episódios, e que o rascunho de tanto mistério seja melhor acabado.

The Acolyte – 1X05: Noite (The Acolyte – 1X05: Night – EUA, 25 de junho de 2024)
Criação: Leslye Headland
Direção: Alex Garcia Lopez
Roteiro: Cameron Squires, Kor Adana
Elenco: Amandla Stenberg, Lee Jung-jae, Charlie Barnett, Dafne Keen, Manny Jacinto, Joonas Suotamo

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