Home TVEpisódio Crítica | The Boys – 4X03: We’ll Keep the Red Flag Flying Here

Crítica | The Boys – 4X03: We’ll Keep the Red Flag Flying Here

A idiotização de The Boys.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas de todo o material desse universo.

É inegável que tem muita coisa bacana em Vamos Manter a Bandeira Vermelha Hasteada, e eu queria ter gostado mais do episódio por causa disso. No entanto, pouco adianta quando as cenas inspiradas não resultam em um todo coeso, mas sim na proverbial colcha de retalhos com costura já desgastada e com o tecido esgarçado. Trata-se de um episódio que, mesmo com seus bons momentos, bons diálogos e boas atuações – e sim, mais uma vez afirmo que o destaque fica com Antony Starr, que parece ter encarnado seu personagem de corpo e alma, ainda que, aqui, outros como Karl Urban e Jack Quaid tenham finalmente mostrado a que vieram – reitera e amplifica os problemas que detectei em A Vida entre os Sépticos, encerrando uma trilogia inicial de episódios de The Boys que decepciona profundamente.

E de forma alguma quero dizer com isso que foram episódios ruins, pois eles estão longe disso. A decepção vem da comparação com a oferta atual de Eric Kripke com aquilo que ele ofereceu consistentemente por 23 episódios (a exceção fica por conta, claro, do último da temporada anterior). A mudança é radical, do vinho para a água, como se o showrunner tivesse uma arma na cabeça obrigando-o a esticar a série para além do que ele originalmente planejara em razão do sucesso que ela teve, o que metaforicamente desconfio que foi o que aconteceu, algo que ele fez por meio do retrocesso que The Instant White-Hot Wild representou para a história e pela insistência em remexer passados já abordados neste começo de quarto ano.

Afinal, retornar para as vidas pregressas de Kimiko e de Francês não faz sentido no ponto que estamos da narrativa macro, especialmente por já termos visto isso antes. Fica feio especialmente no caso de Francês, com seu relacionamento com Colin ser manchado por um evento passado que, se foi algum dia mencionado na série (alguém sabe se foi?), jamais ganhou um mínimo de destaque e parece algo aleatório, jogado de qualquer jeito para criar melodrama novelesco. Marvin, como um leitor comentou, não se provou um bom líder, mesmo que, aqui, ele tenha recrutado Trem-Bala para o lado dos bonzinhos como era óbvio que aconteceria. Muito ao contrário, tudo o que os roteiristas conseguem escrever para ele tem a tendência de torná-lo um paspalho trapalhão para que Billy Bruto possa então triunfalmente voltar para a chefia dos Rapazes.

E como esquecer do confronto entre Annie e Espoleta, com a segunda revelando que a primeira foi responsável por uma campanha de difamação que a levou para o Lado Sombrio da Força, o que mostra – rufem os tambores do sarcasmo – que mesmo as figuras mais angelicais têm seus pecados. Finalmente, mesmo tendo gostado muito da performance dos atores na conversa entre Hughie e sua mãe, em que ela explica o porquê de ter abandonado sua família com seu filho ainda pequeno, ainda tenho dúvidas sobre a função dessa linha narrativa e a forma abrupta como esse assunto surgiu e foi desenvolvido não permite nenhum tipo de investimento real nos personagens pelo espectador.

Mas este episódio deixa evidente um outro tipo de problema, que é o exacerbamento do didatismo, algo que reputo como sendo o efeito mais nefasto da irritante moda de transformar tudo em meme ou em algo semelhante que possa ser propagado virtualmente com facilidade, expandindo o alcance de um produto audiovisual. Senti isso na Truthcon, no episódio anterior, mas a pegada satírica, ali, fez valer o esforço. Em Vamos Manter a Bandeira Vermelha Hasteada, o uso exagerado de diálogos explicativos é frustrante a ponto de ser hilário, mas não do jeito bom. Será que o espectador médio é tão burro a ponto de precisar que o Capitão Pátria vilanize para seus torcedores o grupo que torce para Luz-Estrela? Era mesmo necessário que o plano maligno envolvendo os super-heróis e Victoria Neuman fosse descortinado daquele jeito bê-á-bá, com Hughie escutando tudo e, pasmem, ele mesmo ficando surpreso com o óbvio ululante?

Sei muito bem – quem não sabe? – que The Boys nunca foi uma série sutil. Aliás, a “cavalice” foi sempre uma característica que adorei tanto nos quadrinhos de Garth Ennis quanto na adaptação de Kripke (mais ainda na série, vale dizer), mas uma coisa é a franqueza explícita e sem freios, com direito à alta litragem de sangue e tripas, outra bem diferente é a imbecilização dos diálogos para que ninguém com Q.I. de dois dígitos baixos tenha alguma sombra de dúvida sobre a mensagem da série. Quando a régua narrativa vai para o chão em razão de considerações de marketing atropelando a arte (sim, a arte), a pancadaria divertida e mortal como as sequências do Francês, drogadão, vendo Kimiko matar traficantes de crianças e do massacre pastelão no ensaio do Vought no Gelo (o conceito escrachadamente didático da peça equivale à Truthcon, vale notar, o que é ótimo), não consegue nem de longe compensar.

Pelo menos a conexão de Profundo com Mana Sábia ao redor da gordura pura que é o Bloomin’ Onion do Outback (se isso foi mesmo inserção publicitária paga, achei ousado e genial da cadeia de comida que nada tem de australiana a não ser o nome e a decoração) e da menção àquele lixo do Transformers 2 foi um momento genuíno, até surpreendente, de fino humor, assim como foi a descoberta que fiz só agora nesse episódio: que Ambrosius, a “polva” amante de Profundo que fica escondida em um armário, tem a voz de ninguém menos do que Tilda Swinton! Bem, agora só me resta esperar que o Kripke que trabalhou até a véspera do final da temporada anterior tenha retornado de suas férias a tempo de tirar seu clone defeituoso do comando dos demais cinco episódios da temporada…

The Boys – 4X03: Vamos Manter a Bandeira Vermelha Hasteada (The Boys – 4X03: We’ll Keep the Red Flag Flying Here – EUA, 12 de junho de 2024)
Showrunner: Eric Kripke
Direção: Fred Toye
Roteiro: Ellie Monahan
Elenco: Karl Urban, Jack Quaid, Laz Alonso, Tomer Capon, Karen Fukuhara, Antony Starr, Erin Moriarty, Chace Crawford, Nathan Mitchell, Colby Minifie, Claudia Doumit, Cameron Crovetti, Susan Heyward, Valorie Curry, Rosemarie DeWitt,Elliot Knight, Tilda Swinton, Jeffrey Dean Morgan
Duração: 60 min.

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