Home TVEpisódio Crítica | Doctor Who – 6X13: The Wedding Of River Song

Crítica | Doctor Who – 6X13: The Wedding Of River Song

Uma finale grandiosa, mas prejudicada pelo acúmulo das ambições da temporada.

por Rafael Lima
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Quando assumiu Doctor Who, Steven Moffat mudou o trato das tramas centrais de temporada. Se com Russell T. Davies, elas se resumiam a palavras-chave ou informações soltas que não significavam muito para os personagens até as Finales, a partir do 5º ano, esses arcos centrais se tornaram pontos importantes no desenvolvimento dos protagonistas e de episódios-chave. Moffat levou esse conceito ainda mais longe na 6ª temporada (que abandonou o formato de temporada vigente desde a retomada da série), e embora tenha gerado frutos interessantes, nem sempre conseguiu se comprometer com essa proposta, o que é sentido em The Wedding of River Song. Na trama, a história parece estar acontecendo toda de uma única vez. Dinossauros estão vagando pela Terra enquanto a Guerra dos Rosa acontece; Winston Churchill é o Imperador De Roma, e Charles Dickens está anunciando o seu próximo especial de Natal na BBC. Para resolver esse caos que ameaça pulverizar o próprio tempo, o Décimo Primeiro Doutor deve enfrentar mais uma vez os planos da Conspiração do Silêncio, que o leva diretamente a encarar o seu destino; morrer nas mãos de River Song às margens do Lago Silêncio.

Escrito por Moffat, The Wedding of River Song é um episódio com muito terreno para cobrir e que fervilha de ideias por todos os lados. Moffat, afinal, está trazendo aqui uma visão ainda mais louca para as consequências do rompimento de um ponto fixo no tempo; ao mesmo tempo em que coloca o Doutor encarando a sua própria finitude; dá um fechamento para o arco do trauma dos Pond, amarra a maior parte das pontas soltas envolvendo a relação entre River Song e o Time Lord, e ainda propõe uma redefinição para o status quo do protagonista no universo da série. Tudo isso em único episódio, por isso não é surpresa que todo esse desfecho épico pareça atropelado. Sendo um capítulo sobre caos no tempo, é propício que o roteiro opte não só por uma narrativa não linear, mas também cheia de lacunas, graças a presença dos alienígenas silêncio e sua técnica de serem lembrados só quando vistos. Para frisar ainda mais essa mistura de eras, o episódio até faz referências a períodos anteriores, vide a citação à morte do Brigadeiro Lethbridge Stewart, ou a pequena ponta do Charles Dickens de The Unquiet Dead. Mas esse caos de coisas demais acontecendo ao mesmo tempo vale também para como a Finale trabalha os seus conflitos acumulados ao longo de toda a temporada. Justiça seja feita, a responsabilidade por isso não pode ser atribuída completamente a esse episódio, e sim à construção da temporada como um todo.

Olhemos para o temor do Doutor em encarar a morte, resolvida através da homenagem ao falecido intérprete do Brigadeiro, Nicholas Courtney. Por mais tocante que seja o Doutor encarar a finitude ao saber da morte do amigo, o fato de sua morte iminente ter sido ignorada por boa parte da temporada deixa a sua angústia com o seu destino como uma reflexão tardia. Isso vale para o confronto entre Amy e Madame Kovarian, pois desde o sequestro de Melody, foi vendida a ideia de que o trauma da Companion não era tão pesado, afinal, ela cresceu com a filha, e sabia que ela ia ficar bem ao se tornar River Song, mas a finale reconhece que a chance de ser uma mãe foi tirada da moça. Faz sentido que Amy queime o cérebro da vilã, mas ela não demonstrar luto ou raiva em episódios anteriores, deixam as emoções dela como algo conveniente, ao invés de ser natural. Ao reciclar conceitos vistos em arcos como The End Of Time, a Finale funciona como um símbolo da visão de Moffat para a série. Tal como o fim da era do 10º Doutor, o 11º Doutor tem a sua morte profetizada, mas a maneira como ele lida com a previsão e como essa profecia se encerra, diferenciam a leitura de Moffat de Doctor Who em relação ao seu antecessor. Embora tema a morte, o 11º Doutor a encara de forma menos dramática que o Doutor anterior, mas ironicamente, faz o que o seu antecessor não pôde: passar a perna no tempo. Curiosamente, o roteiro põe no centro desse cenário épico, um drama pessoal, que é a recusa de River em matar o homem que ama, mesmo que o tempo tenha que queimar. Essa visão mais íntima de desastres cósmicos seria uma constante na Era Moffat, ainda que ele fosse lapidar melhor essa abordagem no futuro.

É interessante observarmos uma certa contradição no direcionamento que Moffat tenta dar a série, que se refletiria especialmente nos episódios iniciais da temporada seguinte. Utilizando a problematização apresentada em A Good Man Goes To War, que sugeria que o Doutor se tornou grandioso demais para o bem do universo, vemos o protagonista usar os eventos do Lago Silêncio para forjar a própria morte, para assim voltar a ser um viajante de baixo perfil, como foi no passado. Por outro lado, ao provocar uma narrativa em torno da pergunta Doctor Who? reafirmando assim a aura mítica do protagonista, o programa parece sugerir um caminho que, ainda que seja intrigante, é o oposto ao de um Doutor com ações mais discretas. O episódio é comandado por Jeremy Webb, que realiza um trabalho muito bom ao transitar com desenvoltura entre os diferentes tons e estilos da trama, que vão desde passagens mais horroríficas, até sequências de ação mais grandiosas, vide a do casamento do título. Nos aspectos de atuação, esse também é um excelente episódio para Matt Smith e Alex Kingston, já que a história permite que os dois atores explorem tanto o lado mais frágil de seus personagens quanto as facetas mais poderosas do Time Lord e da arqueóloga.

The Wedding of River Song é uma das Finales mais ambiciosas e criativas da história da série. Por outro lado, por fazer parte de uma temporada que tentou apostar em uma trama central cheia de viradas emocionais importantes para os personagens, que foram espalhadas ao longo de treze episódios, as recompensas emocionais que a trama tenta entregar nesse desfecho, embora coerentes, não parecem terem sido bem construídas. Isso talvez explique porque, nas temporadas seguintes, Moffat tenha voltado para um estilo de trama guiada por mistérios que só se tornavam realmente relevantes ao fim da temporada, deixando o desenvolvimento e grandes pontos emocionais das relações entre os personagens acontecerem ao longo dos episódios sem o peso da obrigação de isso ser um reflexo da trama central, como houve nesta temporada.

Doctor Who- 6X13: The Wedding Of River Song (Reino Unido, 01 De Outubro de 2011)
Direção: Jeremy Webb
Roteiro: Steven Moffat
Elenco: Matt Smith, Karen Gillan, Arthur Darvill, Alex Kingston, Frances Barber, Simon Fisher-Becker, Ian McNeice, Richard Hope, Marnix Van Den Broeke, Simon Callow, Sian Williams, Meredith Vieira, Niall Greig Fulton, Emma Campbell-Jones, Katharine Burford, Richard Dillane
Duração: 46 Minutos

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