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Crítica | The Bear – 2ª Temporada

Cada segundo conta.

por Roberto Honorato
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“This love is difficult, but it’s real

Don’t be afraid, we’ll make it out of this mess

It’s a love story, baby, just say, “Yes””

Depois do maravilhoso caos da primeira temporada de The Bear, era esperado que o seu segundo ano (intitulado “Parte 2”) seguisse a mesma fórmula de sucesso, que chegou a viralizar com várias pessoas imitando as personagens e situações da série. Ainda que muito do que foi apresentado anteriormente esteja presente nessa segunda parte, o showrunner Christopher Storer está mais interessado em construir o mundo em volta desses personagens carismáticos e abordar os temas do passado por um novo ângulo.

Agora que a equipe do restaurante conseguiu o dinheiro para uma necessária reforma, começa o trabalho de consertar problemas estruturais, adquirir licenças para o estabelecimento, treinar a equipe e procurar novos funcionários. Se era comum ver os corredores do The Beef cheio de pessoas revoltadas e barulhentas quando estava em funcionamento, a tensão piora com o restaurante fechado e as constantes descobertas de novos obstáculos que só atrasam o cronograma e deixam todos com dívidas cada vez maiores. É uma corrida contra o tempo para transformar um estabelecimento em decadência no melhor restaurante cinco estrelas de Chicago.

Logo no primeiro episódio é estabelecido em um diálogo entre Carmy (Jeremy Allen White) e Richie (Ebon Moss-Bachrach) o tema principal da temporada: propósito. Esse tópico se estende por toda a temporada, não só focando no protagonista, dessa vez sendo quase um mantra para a abordagem geral do drama das personagens, alguns recebendo seu próprio episódio de desenvolvimento pessoal. Carmen divide sua atenção entre o restaurante e a possibilidade de ser feliz em um relacionamento com uma amiga de infância, enquanto isso Sydney (Ayo Edebiri) sente a insegurança de não poder confiar no seu sócio ou em si mesma; Marcus (Lionel Boyce), Tina (Liza Colón-Zayas) e Richie são enviados para treinamento, cada um interagindo com um elemento ou figura importante para a formação do chef Carmen, ao mesmo tempo que se descobrem melhor.

Outra mudança é a quantidade de episódios, dessa vez com dez, ao invés dos oito anteriores. Assim, The Bear está em busca de um desenvolvimento de personagem mais reflexivo, investindo mais em flashbacks e direção ainda mais delicada, com tomadas longas e estáticas, como acontece no episódio Honeydew, focado na jornada de Marcus, que trouxe Ramy Youssef pra equipe de direção, completando o trio com Christopher Storer e Joana Callo. Embora não seja algo novo da série, esses momentos de respiro são necessários, e ainda assim o caos está presente. As sequências de “pesadelo na cozinha” continuam, com a mesma montagem da temporada anterior (cortes rápidos, música frenética, zooms e uma câmera inquieta), com uma constante tensão nos momentos de introspecção também, onde nada é certo e o espectador espera que a qualquer momento a tragédia possa acontecer.

Com a popularidade da temporada anterior, a série também tem uma autoconsciência e brinca bastante com as reações do espectador, como quando é revelado um objeto relevante em um armário, uma peça essencial para a construção do passado fragmentado do protagonista, até que o momento emocional é interrompido por alguém que comenta a necessidade de darmos tanta importância para esses símbolos. É o tipo de piada que funciona aqui pela forma inteligente como esse tipo de quebra de expectativa retorna como um desenvolvimento de personagem ou uma terceira piada mais elaborada, sem contar os diálogos, um dos pontos altos da série, principalmente considerando o nível das atuações que entregam as falas.

Jeremy Allen White e Ayo Edebiri continuam a dupla protagonista perfeita, cheios de coisas em comum na superfície, como o vício em trabalhar e a necessidade de se provar, embora tenham personalidades diferentes, com o Carmy de White sendo o cabeça quente insensível e a Sydney de Edebiri atuando como uma pessoa mais introspectiva e tímida. Para lidar com o temperamento da dupla, retornam a equipe do Beef, dessa vez cada um lidando com seu próprio dilema, através deles sendo introduzidos novos personagens e atores convidados, como Will Poulter e Olivia Colman, fazendo participações pontuais em uma cena ou duas em narrativas isoladas.

Se for para falarmos de participações especiais, é necessário destacar o episódio Fishes, o maior da série, não só em duração mas na lista de atores convidados. Funcionando como um especial de Natal, Fishes também é o resumo perfeito para a série, um longo flashback de uma hora sobre a fatídica noite de celebração da família Berzatto, repleta de comida e bebida, sem deixar de lado a tensão de que algo ruim está para acontecer. Com um desfile de convidados especiais, assistimos o elenco principal interagindo com Jamie Lee Curtis, John Mulaney, Sarah Paulson, Bob Odenkirk (que estava para estrelar a temporada final de Better Call Saul), Jon Bernthal e Gillian Jacobs, que eu me sinto obrigado contratualmente a mencionar por ser a segunda pessoa da série Community a participar de The Bear (antes tivemos Joel McHale).

Para quem procura um equivalente ao pandemônio que foi o episódio Review, da primeira temporada, Fishes não fica devendo em qualquer aspecto, sendo um ataque cardíaco atrás de outro, com personagens entrando e saindo de cena em um ambiente tóxico, culminando em uma explosão de emoções durante o jantar, com as melhores atuações da série até o momento. Contudo, ainda que tenha uma sequência de atuações incríveis, o auge da catarse emocional está no episódio seguinte, Forks, protagonizado por Ebon Moss-Bachrach, onde o espectador tem a conclusão do arco de Richie, uma personagem que já tinha mudado a opinião das pessoas logo na primeira temporada, aqui sendo a trama que melhor representa o debate sobre propósito levantado no início da temporada. Seria fácil qualquer outra série utilizar essa personagem como antagonista da série, ao invés disso ela acredita na redenção e como as pessoas podem ser melhores ao encontrar seu propósito, nem que seja ao som de Taylor Swift.

The Bear retorna com novas prioridades, sem ignorar o que fez sua temporada anterior funcionar tão bem, com algumas das melhores atuações da TV, escolha musical impecável, um enredo ágil e uma direção com muito cuidado e paciência para representar a desordem da cozinha e da vida de seus personagens. 

The Bear – 2ª Temporada (EUA, 22 de junho de 2023)
Criação: Christopher Storer
Direção: Christopher Storer, Joanna Calo, Ramy Youssef
Roteiro: Christopher Storer, Karen Joseph Adcock, Sofya Levitsky-Weitz, Alex O’Keefe, Joanna Calo, Rene Gube, Catherine Schetina, Stacy Osei-Kuffour
Elenco: Jeremy Allen White, Ebon Moss-Bachrach, Ayo Edebiri, Lionel Boyce, Liza Colón-Zayas, Edwin Lee Gibson, Corey Hendrix, Richard Esteras, Abby Elliott, Matty Matheson, Chris Witaske, Joel McHale, Carmen Christopher, Oliver Platt, Jon Bernthal, Molly Ringwald
Duração: 30 min. aprox. (10 episódios).

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